21 lições para o século 21 confronta temas urgentes da agenda global
O terceiro livro do historiador israelense Yuval Noah Harari, 21 lições para o século 21, confronta os grandes dilemas da atualidade. Autor dos best sellers mundiais Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, que examina com profundidade o passado do gênero humano; e Homo Deus, no qual imagina a existência humana num futuro dominado pelos algoritmos; neste mais recente título o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém aborda os temas mais urgentes da agenda global.
O livro de 440 páginas (Companhia das Letras, 2018) traz 21 temas distribuídos em cinco partes: O Desafio Tecnológico, O Desafio Político, Desespero e Esperança, Verdade, e Resiliência. Ao longo do texto, o autor explora assuntos contemporâneos que vão desde as transformações do mundo do trabalho, a crise do liberalismo, o impacto do Big Data nas liberdades individuais, passando por nacionalismo e imigração, terrorismo e secularismo, fake news e justiça, educação e meditação.
Harari explica que 21 lições para o século 21 foi escrito em diálogo com o público. "Muitos capítulos surgiram como resposta a perguntas de leitores, jornalistas e colegas. Versões anteriores de alguns segmentos foram publicadas em diferentes formatos, o que me deu oportunidade de receber feedbacks e refinar meus argumentos. Algumas seções têm por foco tecnologia, algumas política, outras religião ou arte. Certos capítulos celebram a sabedoria humana, outros destacam o papel crucial da sua estupidez. Mas a questão mais abrangente em todos é a mesma: o que está acontecendo no mundo hoje, e qual o significado profundo dos eventos?, escreve.
Na seção dedicada ao Trabalho, na primeira das cinco partes, O Desafio Tecnológico, ele analisa que o gênero humano está perdendo a fé na narrativa liberal que dominou a política global em décadas recentes, justamente quando a fusão da biotecnologia com a tecnologia da informação nos coloca diante das maiores mudanças com que o gênero humano já se deparou. Ele lança luz sobre o desconhecido e admite que não temos ideia de como será o mercado de trabalho em 2050. Harari alerta para as profundas mudanças que estão ocorrendo nos modos de produção e afirma que o aprendizado da máquina e a robótica vão mudar quase todas as modalidades laborais. E aborda também as visões conflitantes quanto à natureza dessas transformações. De um lado, há os que creem que bilhões de pessoas serão redundantes; de outro, que a automação continuará a gerar novos empregos e prosperidade.
Independente da visão mais realista, Harari almeja a criação de uma rede de segurança econômica universal com comunidades fortes e ocupações dotadas de sentidos. Num cenário como o imaginado pelo professor, perder nossos empregos para algoritmos seria uma bênção. Todavia, ele ressalta que a possibilidade de perder o controle de nossas vidas para inteligências artificiais é um cenário de assombro. "Não obstante o perigo do desemprego em massa, o que deveria nos preocupar ainda mais é a transferência da autoridade de humanos para algoritmos, o que poderia destruir qualquer fé remanescente na narrativa liberal e abrir o caminho para o surgimento de ditaduras digitais, alerta.
Na segunda parte da obra, O Desafio Político, Harari destaca que a fusão da tecnologia da informação com a biotecnologia ameaça os valores modernos centrais de liberdade e igualdade. "Toda solução para o desafio tecnológico deve envolver cooperação global. Porém, o nacionalismo, a religião e a cultura dividem o gênero humano em campos hostis e fazem com que seja muito difícil cooperar em nível global, escreve. Esse trecho pode iluminar a análise pragmática da onda conservadora e de extrema-direita com tendências fascistas que assola vários cantos do planeta, inclusive o Brasil.
Em Desespero e Esperança, terceira parte da obra, Harari provoca que, embora a humanidade se depare com desafios sem precedentes, com discordâncias profundas, "o gênero humano pode se mostrar à altura do momento se mantivermos nossos temores sobre controle e formos um pouco mais humildes quanto a nossas opiniões.
Na parte quatro, Verdade, o autor conclui que pessoas com sentimento de impotência e confusão diante da situação global estão no caminho certo. "Processos globais são complicados demais para que uma única pessoa os compreenda. Como então saber a verdade sobre o mundo e não ser vítima de propaganda e desinformação?, provoca.
Na última parte, Resiliência, Harari sugere táticas para viver nesta era de perplexidade, quando narrativas antigas desmoronaram e não surgiu nenhuma nova para substituí-las. Como, por exemplo, uma profunda transformação na educação. Ele avalia que diante da enxurrada de informações disponíveis, as pessoas precisam desenvolver a capacidade de exercitar o pensamento crítico para perceber a diferença do que é importante do que não é e, acima de tudo, combinar os muitos fragmentos de informação num amplo quadro do mundo.
Outra sugestão bem-vinda do escritor é a prática da meditação. Nesse trecho, Harari compartilha a experiência pessoal dele com a técnica Vipassana, baseada no conceito de que o fluxo mental é intimamente interligado com as sensações do corpo. "Entre mim e o mundo há sempre sensações corporais. Eu nunca reajo aos acontecimentos no mundo lá fora; sempre reajo às sensações do meu próprio corpo.
Em um estilo leve e esclarecedor, Harari propõe reflexões imprescindíveis para compreender o mundo novo. Ele esteve em novembro de 2019 em visita ao Brasil para o lançamento do novo livro e entre as diversas agendas aqui, foi entrevistado pelo programa Roda Viva. Vale muito assistir. Vale mais ainda ler as obras dele.
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