A fênix socialista: a autorreforma do PSB
Por Ricardo Coutinho*
Há uma lenda de que as águias, ao chegar à metade da vida, precisam, para não morrer, se submeter a um doloroso processo de renovação, trocando o bico, as garras e as penas. Essa lenda provavelmente tem origem na história da fênix, um pássaro da mitologia grega que, ao envelhecer, queima-se em uma pira e depois renasce das cinzas. Esses mitos ecoam na memória contemporânea porque simbolizam a necessidade, para o homem e a sociedade, de renascimento, de recomeço de um novo ciclo da vida.
O Partido Socialista Brasileiro (PSB), fundado em 1947, tem uma trajetória de lutas e experiências exitosas em governos estaduais, como em Pernambuco, Espírito Santo e na nossa Paraíba, mas sabe que enfrentamos tempos difíceis e sombrios, para os quais é preciso encontrar novas alternativas. Por isso, o PSB está passando por um processo de renovação. Sob a liderança do presidente Carlos Siqueira, o partido deu a largada a uma autorreforma tornando público um documento-base que será amplamente debatido com o partido e a sociedade. Com isso, em nosso Congresso de refundação, em meados de 2021, poderemos votar uma Carta Programa e um Manifesto amplamente debatido, trazendo um projeto de nação que possa dar ao PSB um papel protagonista na política nacional.
Nós temos tudo para ser um grande partido, que se orgulha de seu passado de lutas e bebe na generosidade do socialismo democrático, mas que, ao mesmo tempo, reconhece as grandes transformações por que vem passando o capitalismo e busca se adaptar para poder propor alternativas factíveis em defesa dos interesses da grande maioria da população. Buscamos uma síntese que una nossa tradição com a adoção de uma política capaz de enfrentar os desafios da globalização e da financeirização. Almejamos reconstruir um partido que seja o grande intérprete do povo brasileiro: queremos, em uma frase, voltar a tocar o coração do nosso povo.
Nossa renovação se faz em meio a um quadro dramático. Temos hoje um país à beira do abismo, com crescimento econômico medíocre, uma taxa de desemprego que afeta 12% da população economicamente ativa, sem falar nos 28 milhões de trabalhadores subutilizados e nos quase cinco milhões de "desalentados, aqueles que desistiram de procurar trabalho. Estamos com 6,5% da população abaixo da linha da pobreza. Isso resultou de políticas públicas voltadas contra a população, pois, a cada "reforma aprovada, o trabalhador perde mais direitos, mas não há reforma que retire direitos dos bancos, cujo lucro em 2018, em plena crise, foi de 127 bilhões de reais!
Esse quadro é consequência da predominância global de um modelo perverso, o ultraliberalismo, que pode levar a todos à exceção de uma ínfima minoria a uma catástrofe sem precedentes, como já estamos vendo na América Latina e em alguns países da Europa. É preciso rejeitar esse sistema que está destruindo o tecido social da maioria dos países, ricos ou pobres. Remar contra o neoliberalismo é uma necessidade da humanidade, que só sobreviverá se derrotar esse modelo excludente. Mas teremos de encontrar uma via consequente de mudanças.
Por tudo isso, o PSB busca interagir com o resto do mundo, particularmente com a América Latina. Somos parte do que está ocorrendo no Chile; estamos felizes com a derrota do neoliberalismo na Argentina e sofrendo pelo resultado das eleições no Uruguai. Somos irmãos do povo indígena da Bolívia, que hoje enfrenta uma ditadura terrível. Temos que nos unir às forças progressistas desses países e dos países europeus.
"Atingir o ideal é compreender o real, dizia o grande socialista Jean Jaurès. Vamos, pois, compreendê-lo para poder transformá-lo.
Fonte: CartaCapital
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