A Corrupção é Contrarevolucionária
Nós, da esquerda em geral, principalmente os membros do PT, gostamos de dizer que durante os mandatos de Lula e Dilma foi realizada uma verdadeira revolução democrática no Brasil. Quase 30 milhões de brasileiros foram incorporados, de alguma forma, à sociedade de consumo. Os filhos da classe trabalhadora passaram a ter acesso à universidade. Centenas de milhares de jovens tiveram acesso à qualificação profissional através do Pronatec.
O Salário Mínimo saltou de 80 para quase 300 dólares. A universalização da Bolsa Escola iniciada por FHC, transformada em Bolsa Família, atende a milhões de pessoas de nenhuma renda. São avanços que podem perfeitamente se encaixar na ideia do processo geral da Revolução Brasileira de que Caio Prado Jr. nos fala, e que se inicia entre 1808 e 1822 com o que ele chama de Brasil moderno. Ainda segundo Caio Prado seria inviável pregar uma ruptura revolucionária a uma sociedade que montou tantos laços com o passado. Inclusive o passado colonial. Assim é que os governos de Lula e Dilma, e de alguma forma os de FHC, fizeram parte desse processo de modernidade da Revolução Brasileira, que antecederia a fase da revolução marcada pela utopia da solidariedade socialista, como diz José Carlos Reis da Universidade Federal de Minas Gerais, em artigo sobre Caio Prado Jr.
Sem dúvida os governos de Lula e Dilma foram os mais avançados socialmente. E vem agora a pergunta angustiante que deve assaltar todas as pessoas que acreditaram no sonho da revolução: seria possível obter todos esses avanços com um maior rigor ético? Haveria na democracia, condições políticas reais para obter os avanços sem pagar este pedágio a corruptos e a corruptores, tanto no atual governo como em todos os governos democráticos do nosso passado recente? Dúvida profunda e sincera. Poder-se-ia obter deste Congresso Nacional eleito, em grande parte, com dinheiro das empreiteiras, dos bancos, dos fabricantes de remédios, dos fornecedores dos ministérios e das empresas estatais, uma maioria que garantisse a governabilidade? Um gerente da Petrobras dispõe-se a devolver 250 milhões de reais, que é parte da parte dele no botim em que certamente havia outros funcionários, diretores ou políticos. Ora isso não é mais uma propina para ajudar campanhas eleitorais. É um capital que se aplicado poderia estar gerando emprego e renda. No turismo, por exemplo, este capital se traduziria em cerca de 2.000 empregos.
É preciso refletir sobre outra questão fundamental: em que medida a corrupção atrasa a revolução brasileira? Não apenas pelo aspecto econômico medido por quantas escolas, quantos hospitais, quantos médicos, quantos cursos de qualificação profissional, quantos empregos poderiam ser pagos ou comprados com o dinheiro que corruptos e corruptores roubaram do povo brasileiro. E sim pelo que essa prática reduz a velocidade das mudanças, afastando da política aqueles que não se corrompem, aluindo os sonhos da juventude de transformação social, ensinando aos jovens que não é possível fazer política sem sujar as mãos, os pés e principalmente o coração. Fazer com que se sintam meio ridículos os gestores públicos que se recusam a praticar ilícitos que inclusive parecem tornar mais rápida e até eficiente a máquina administrativa.
Pode-se dizer que a corrupção é um fator contra-revolucionário que se coloca à direita do processo histórico, afinal é o dinheiro de impostos ou de investimentos das estatais, de qualquer forma é dinheiro do povo, do trabalhador que paga a maior parte dos impostos, dos empresários honestos prejudicados por uma concorrência dolosa.
A declaração da Presidente Dilma no sentido que este caso da Petrobras vai mudar o Brasil nos dá um fio de esperança.Mas não bastam as palavras da Presidente. É preciso que se reorganizem as alianças. Os partidos socialistas, as lideranças, as pessoas de esquerda, enfim, que se pronunciem, se mobilizem para deixar claro que a corrupção é um fator contra-revolucionário, que puxa o Brasil para trás e que, no caso de um governo progressista, significa um inaceitável e vergonhoso retrocesso.
Domingos Leonelli
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