Instituto Pensar - Mulheres quilombolas na produção agrícola sustentável no Tocantins

Mulheres quilombolas na produção agrícola sustentável no Tocantins

O modo de produção da comunidade da Barra da Aroeira segue os princípios da agroecologia. A maior parte dos alimentos produzidos pelas agricultoras quilombolas são consumidos pelas famílias da própria comunidade e alguns produtos são vendidos em feiras na capital Palmas. Foto: FAO

A contribuição das mulheres agricultoras para o bem-estar socioeconômico, para a segurança alimentar mundial e para a redução da pobreza foi celebrada na semana passada (15) com o Dia Internacional das Mulheres Rurais.

Dar visibilidade ao trabalho delas foi o principal objetivo da campanha regional "Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos”, coordenada pela Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério da Agricultura em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e outras instituições.

No Brasil, as mulheres representam praticamente metade da população residente no campo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E mais de 63% delas são afrodescendentes.

No município de Santa Tereza, em Tocantins, está localizada a comunidade quilombola Barra da Aroeira. Formada em meados da década de 1930, a comunidade reúne cerca de 97 famílias que produzem de tudo um pouco: arroz, feijão, mandioca, abóbora, inhame, batata-doce, hortaliças, galinha, porcos.

A Associação Comunitária do Quilombo da Barra da Aroeira é comandada por Maria de Fátima Rodrigues, de 50 anos. Ela tem seis filhos e é a primeira mulher a presidir a associação.

Assim como outras mulheres do quilombo, Fátima é agricultora e artesã, além de ser a principal responsável pelo cuidado da casa. Ela ainda aproveita sua experiência com os alimentos como merendeira escolar. "Eu trabalho meio período na escola e no outro período aqui na casa, na roça plantando mandioca, cuidando das galinhas”, relata.

O modo de produção da comunidade da Barra da Aroeira segue os princípios da agroecologia. A maior parte dos alimentos produzidos pelas agricultoras quilombolas são consumidos pelas famílias da própria comunidade e alguns produtos são vendidos em feiras na capital Palmas.

Maria de Fátima compartilha que o principal desafio da comunidade é conseguir apoio para aumentar a produção e, consequentemente, a renda. "Nosso interesse é produzir mais quantidade, mas até agora enfrentamos muitos desafios para estar organizando a terra pra plantar. Às vezes, as hortaliças perdem, porque não tem como escoar os produtos”, conta.

As mulheres da Barra da Aroeira contam com o apoio da associação e da Cooperativa Quilombarras, criada recentemente pelos agricultores da comunidade. Segundo Maria de Fátima, a cooperativa já está ajudando com a divulgação dos produtos quilombolas e deve reunir futuramente cooperados de outros quilombos da região.

Elas também participam de atividades de capacitação técnica e trocas de experiência promovidas por universidades da região e pelo Departamento de Agricultura Familiar da Secretaria de Agricultura do Estado de Tocantins.

"O que esperamos é um apoio pra nós trabalhadoras rurais, especialmente nós quilombolas, mostrarmos a nossa força, porque somos pessoas ainda discriminadas. O nosso interesse é melhorar a qualidade de vida e a renda das mulheres quilombolas”, disse Fátima.

Um ato de nascimento

Na comunidade quilombola de Tocantins, a Mumbuca, situada em Mateiros, na área do Parque Estadual do Jalapão, o povoado também é marcado pela gestão feminina.

Uma das principais articuladoras do quilombo é Ana Cláudia Mumbuca, de 32 anos. Além de agricultora, Ana é artesã e se tornou professora. Com a experiência da vida acadêmica, ela traduz o cotidiano da comunidade para a cidade e do mundo urbano para os quilombolas.

"Mumbuca é uma comunidade matriarcal. As mulheres são muito especiais nessa comunidade. Há muitas gerações, as mulheres estão na frente no processo educacional, na gestão do quilombo, são agricultoras, artesãs, então, elas compartilham a organização da vida da comunidade”, contou Ana.

Para manter a produção agrícola de forma sustentável e orgânica, a comunidade desenvolveu quatro tipos de roça: a vazante, que é feita nas terras mais baixas, de várzea; a roça capão, que permite a produção de arroz e feijão em meio as árvores do Cerrado; a roça "esgoto”, considerada a mais permanente, pois garante a comida do ano todo; e a roça capoeira, que representa a terra deixada para "descansar” depois de um certo período de cultivo.

"A área do cerrado do Jalapão é muito frágil, tem muita areia, é uma terra muito improdutiva para produção agroecológica. Por isso que nós quilombolas somos responsáveis por encontrar um sistema de plantio, uma das roças mais inteligentes que o Jalapão encontrou de produzir”, explicou Ana.

Além da agricultura, as mulheres de Mumbuca se destacam pelo artesanato de capim dourado, uma das principais marcas turísticas da região. A grande meta delas é conquistar a titularidade do território para manter a tradição e garantir que as gerações futuras também possam produzir alimentos no modo tradicional e promover a cultura da região.

"O ato de plantar é um ato de nascimento. Somos de fato guardiãs da terra, da vida, da nossa existência. Sem a terra a gente não vive, a gente não planta. A mulher no quilombo é extremamente importante. Somos cuidadoras dessa terra e responsáveis pela segurança alimentar e ambiental. Nós temos um modo de vida sustentável para o planeta”, disse Ana.

15 dias de mobilização

De 1º a 15 de outubro, a Campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos promoveu 15 dias de mobilização para valorizar a contribuição das trabalhadoras do campo ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados à igualdade de gênero e ao fim da pobreza rural. O tema norteador da quinzena ativista foi "O futuro é junto com as mulheres rurais”, com a hashtag #JuntoComAsMulheresRurais.

Fonte: ONU Brasil




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