Instituto Pensar - Diagnóstico do Design da capital federal traça raio-x do setor

Diagnóstico do Design da capital federal traça raio-x do setor

Por Iara Vidal

Brasília é uma cidade disruptiva e vocacionada para criatividade. A Capital Federal tem uma brasilidade única, mistura diversidades das cinco regiões do Brasil, da comunidade estrangeira ー com diplomatas e representantes de organismos internacionais e famílias. A arquitetura monumental e o urbanismo singular carimbaram seu ingresso na Rede de Cidades Criativas da Unesco, na categoria de Design. Também abriga a sede dos Três Poderes da República e tem uma força produtiva que, embora sofra impacto direto da Administração Pública, está focada em Serviços, setor que compreende os empreendimentos criativos e representa mais de 70% da economia brasiliense.

A revolução tecnológica em curso está moldando uma sociedade na qual a informação tem valor estratégico. Não à toa, as particularidades de Brasília foram consideradas pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) para servir de piloto para uma iniciativa que pretende construir uma infraestrutura informacional para servir de subsídio para a tomada de decisão de gestores públicos e empresas. 

Projeto Brasília 2060 pretende "contribuir para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico, ambiental e social do País com a implementação de projetos de pesquisa aplicada sobre temas voltados para a gestão estratégica e a sustentabilidade de cidades”. Aborda os assuntos Ciência, Tecnologia e Inovação; Cultura, Esporte e Lazer; Educação; Especializações Inteligentes (que inclui o design); Expansão Urbana e Uso da Terra; Segurança Pública; Saúde; Mobilidade Urbana; Mapa Estratégico; e Planejamento, Gestão, Orçamento e Fazenda.

Um dos produtos dessa iniciativa é o estudo Diagnóstico do Design no Distrito Federal, que aborda o tema "Economia Criativa Descoberta Empreendedora, Especialização Inteligente”. A pesquisa foi coordenada por Fernanda Bocorny Messias, com a participação das pesquisadoras Ester Sabino Santos e Raquel Chaves. (confira o depoimento da coordenadora no final desta matéria).

O diagnóstico traz informações sobre o contexto territorial no qual destaca a importância e a transversalidade do design em empresas e no governo. Apresenta uma ampla pesquisa sobre o ensino de design, com a oferta de cursos e distribuição para diferentes níveis de formação, além de uma análise dos resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), que permitiu traçar os primeiros perfis étnicos e socioeconômicos do segmento.

O estudo reúne informações sobre a produção de conhecimento de acordo com os critérios do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Compila dados de associações profissionais, laboratórios de prototipagem, com a localização e os segmentos do design atendidos, parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, dados sobre propriedade intelectual, linhas e grupos de pesquisa e laboratórios de inovação e os de governo.

Uma novidade capaz de influenciar a gestão pública em todo o País que destaca, por exemplo, laboratórios de governo com base no DF que assumem práticas empíricas de design. Além disso, trata de futuros possíveis de um governo na posição de vetor de modernização tecnológica e, principalmente, comportamental. 

O documento traça três tipos de diagnósticos para o design no DF: demográfico, setoriais e econômico para o DF. O demográfico apresenta as proporções no mercado de cada segmento estudado (mobiliário, joias e gráfico), respectivas distribuição de gênero, faixa salarial, nível de escolaridade e territorial dos setores e dados institucionais. 

O tipo ‘setoriais’ considera dois segmentos de design de produto – joias e mobiliário -, o de design gráfico e uma abordagem sobre design de serviços focada no governo. No econômico, compila fontes de financiamento, estimativa de mercado e tamanho do potencial da economia criativa como estratégia de desenvolvimento. O levantamento mostrou que o DF é praticamente inexpressivo na captação de recursos para o desenvolvimento da inovação e do design em fontes nacionais, restringindo-se, basicamente, às fontes locais de fomento. 

A pesquisa revela que, no que se refere ao grau de instrução, os profissionais de design do DF apresentam média acima de todo mercado de trabalho do DF e do País, com predominância de profissionais com ensino superior. Mostra ainda que, no DF, as remunerações médias gerais encontradas para as atividades do setor de design eram de R$ 3.618,53, em 2015, enquanto no Brasil eram de R$ 3.009,77 e de todo o mercado de trabalho do DF R$ 4.546, 11. Esta relação de escolaridade e remuneração vem ao encontro do entendimento dos especialistas em economia criativa, que descrevem que os profissionais criativos são, em média, mais jovens, com maior grau de instrução e melhor remunerados que a média das outras profissões.

Outro dado do estudo mostra que o Distrito Federal, no ranking que consolida pedidos de patentes, depósitos para Desenho Industrial e de registro de marcas junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), está em 9º colocação entre as Unidades da Federação. Na comparação com municípios brasileiros, Brasília é o 5º colocado em depósitos de pedidos de Modelo de Utilidade, atrás dos municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. Nos pedidos de registro de marca, o DF foi o 10º colocado, com 2,3% do total no Brasil, em 2017, um crescimento de 7% em relação ao ano anterior. No ranking de municípios, Brasília posiciona-se em 5º lugar. 

O diagnóstico mostra que o desenvolvimento do design no DF acompanha a tendência de seu desenvolvimento territorial, industrial, cultural e econômico. Mostra que conforme aumentar a compreensão do potencial do setor do design é possível fortalecê-lo como setor estratégico para o desenvolvimento econômico e sustentável do DF.

Conclui que as oportunidades, a expertise e as potencialidades do papel do design embasadas no documento podem servir de subsídios para formular políticas públicas e empresariais em design para o DF.

Depoimento de Fernanda Bocorny, coordenadora da pesquisa.

O estudo Diagnóstico do Design do DF foi um trabalho realizado com a colaboração de outras duas pesquisadoras e designers, selecionadas por trazerem de suas trajetórias bagagens que agregavam olhares potenciais sobre realidades setoriais do design no DF. Desde o início, a pauta era demonstrar ao diferentes públicos a transversalidade do design e seu potencial transformador de realidades.

A primeira dificuldade foi tratar-se de um estudo inédito realizado em uma Unidade da Federação. Do ponto de vista metodológico, tínhamos como referência o Diagnóstico do Design Brasileiro (2014), realizado pelo Centro Brasil Design por encomenda do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, cuja visão superlativa exigiu refinamentos para o diagnóstico local. Não contemplava, por exemplo, informações sobre os níveis de escolaridade, quantidade e avaliação dos cursos de design, que à época ainda não participava do Enade, ou informações locais que são subsídios a políticas públicas, a exemplos de incubadoras, aceleradoras etc. e o alinhamento territorial do setor de design com o desenvolvimento socioeconômico do DF.

Um dos achados do estudo foi detectar que tanto os profissionais quanto as escolas de design se concentram ao longo do eixo de desenvolvimento econômico do DF, o que indica o design como ator do desenvolvimento, bem como um potencial papel das escolas na formação de uma cultura de design no DF. Revelou, ainda, a importância das cotas sociorraciais no Enade 2015, até então apenas na Universidade de Brasília (UnB), para transversalidade e pluralidade do design na sociedade, que historicamente é elitizado.

O Diagnóstico vem contribuir para o debate sobre a importância do design na cidade e nas políticas públicas, bem como para os governos e para a qualidade de vida. Oferece subsídios a diversos públicos do DF: às empresas e aos setores beneficiados pelo design, como os de cultura e os tradicionais da economia, em que revela o potencial de financiamento nacional que não está sendo visto pelos empreendedores do DF.

Às escolas de design, tanto no que se refere a orientações para a especialização dos estudantes, seja em pós-graduações ou estudos técnicos, inclusive pelo potencial econômico de cada região do DF, quanto no tocante à avaliação de suas contribuições e performances, a partir dos resultados do Enade no nível local e no nacional.

Ao governo local, o estudo contribui em diversas frentes, como por exemplo:

1) aponta para a ausência de design nos sites de governo, cuja informação está fragmentada em várias fontes, o que confunde e dificulta o papel de informação ao público e onera o governo, que necessita de outros canais para acesso às informações;

2) o potencial de inovação e agilidade na gestão pública, a exemplo dos laboratórios de inovação, que disponibiliza metodologias de design thinking aplicadas às instâncias de governo;

3) a surpreendente marca de depósitos de patentes em 2017, quase 10 por dia, que indica um perfil empreendedor do DF;

4) talvez a mais importante, o potencial de uma gerência de design no DF, conforme indicado pela Unesco às cidades criativas da Rede, que seja capaz de reunir todos estes atores para sinergia do desenvolvimento considerando os diferentes públicos – idosos, crianças, jovens, mulheres, LGBTs etc. – e criar um ciclo virtuoso a uma cidade para as pessoas, em vez de automóveis.

Trata-se de um pontapé inicial para qualquer governo que adotar o design como estratégia de desenvolvimento e inovação – a mais barata, segundo especialistas.

Confira aqui o Diagnóstico do Design no DF 2018



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