Instituto Pensar - Privacidade Hackeada e a ameaça à Democracia

Privacidade Hackeada e a ameaça à Democracia

Por
 Redação

Eles pegaram seus dados, assumiram o controle, hackearam a democracia e estão colocando em prática um projeto de poder ultradireitista. Existe uma realidade filtrada nas plataformas digitais, onde é possível criar e espalhar propaganda direcionada a alvos específicos e vulneráveis, selecionados por meio de cruzamento de dados digitais, o Big Data. 

Esse é o tema central do recém-lançado Privacidade Hackeada (The Great Hack, documentário, 2019, Netflix, 2h19), que expõe o perigoso mundo da exploração de dados através de histórias reais de diferentes lados do escândalo Cambridge Analytica/Facebook. Trata de como a internet pode e está sendo usada para manipular indivíduos, um a um, e dividir o mundo, com consequências em eleições sérias e que merece a nossa reflexão – dos EUA ao Reino Unido, passando pelo Brasil.

O filme aborda o aspecto político da Quarta Revolução Industrial. Trata do Big Data, termo da Tecnologia da Informação (TI) para designar grandes conjuntos de dados que requerem processamento e armazenamento e envolve, pelo menos, três atributos: velocidade, volume e variedade. O escândalo da Cambridge Analytica não foi apenas um caso de uma empresa que usou o Big Data, dados de usuários do Facebook, para manipular resultados eleitorais nos EUA e no Reino Unido. Foi uma história complexa e que, provavelmente com o passar do tempo, se tornará mais clara; neste momento apenas há um documentário acabado de sair no Netflix, lançado dia 24 de julho, e que basicamente explica porque é que a Cambridge Analytica é um assunto importante.

Não é só pela Cambridge Analytica. The Great Hack é sobre uma sociedade que, iludida com o sonho de um mundo interligado, entregou os seus dados pessoais a empresas de tecnologia, não reguladas, que os exploram em negócios multimilionários e que não dão garantias de privacidade. Mas não deixa de ser um documentário sobre a Cambridge Analytica, que levanta, por exemplo, a questão sobre ser uma empresa criminosa ou não. 

O documentário tem participação especial de David Carroll, professor universitário que se envolveu numa batalha judicial com a Cambridge Analytica para reclamar os seus dados, e de Carole Cadwalladr, jornalista do The Guardian que, junto com o delator (whistleblower, em inglês) Christopher Wylie, tornou pública a primeira parte da história sobre a Cambridge Analytica. O documentário foca a atenção em Brittany Kaiser, que trabalhou diretamente na Cambridge Analytica e ao lado de Alexander Nix nas campanhas de Trump e do LEAVE.EU (Brexit). 

O filme não tem o propósito de sugerir respostas e soluções, mas sim de levantar perguntas para que possamos refletir sobre o lado obscuro da internet, que sorrateiramente influencia o mundo real de maneiras que sequer notamos. É uma história nova, sobre dados e monitoramento e é um marco histórico. A obra não poderia ter vindo em tempos mais adequados, já que o Facebook está sendo multado em US$ 5 bilhões justamente por causa da privacidade de seus usuários, que foi quebrada no caso da Cambridge Analytica.

 "A ORDEM IMPÕE UM REGIME PRIVADO QUE INCLUI UMA NOVA ESTRUTURA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, COM PRESTAÇÕES DE CONTA INDIVIDUAIS E CORPORATIVAS COM MONITORAMENTO DE CONFORMIDADE MAIS RIGOROSO. ESTA ABORDAGEM AUMENTA CONSIDERAVELMENTE A PROBABILIDADE DE O FACEBOOK ESTAR EM CONFORMIDADE COM A ORDEM. SE HOUVER ALGUM DESVIO, PROVAVELMENTE SERÁ DETECTADO E REMEDIADO DE FORMA RÁPIDA.”
FTC, ÓRGÃO RESPONSÁVEL PELA PENALIDADE
CONTRA O FACEBOOK

Cambridge Analytica – usou dados de usuários do Facebook, sem o seu conhecimento ou consentimento, para categorizá-los e oferecer aos clientes o conhecimento de seu público e a melhor maneira de alcançá-lo.Trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump em 2016 e negou envolvimento na campanha Leave.EU, apesar de, em outras ocasiões, ter discutido sobre ela publicamente. Foi liquidada em 2018, mas as implicações morais e legais possíveis continuam sendo investigadas.

Impacto em democracias – o documentário revela detalhes bastante chocantes, o nível de influência que as técnicas da Cambridge Analytica tiveram em campanhas políticas em todo o mundo – incluindo Argentina (2015), Trindade e Tobago (2009), Tailândia (1997), Índia (2010), Malásia (2013), Itália (2012), Quênia (2013) e Colômbia (2011), para citar alguns países que foram listados no documentário.

Brittany Kaiser – Uma das informantes e uma das principais participantes da Cambridge Analytica, cooperou com os investigadores e forneceu evidências que ajudaram a esclarecer o que aconteceu. "A maior parte de nossos recursos foi direcionada àqueles cujas mentes pensamos que poderíamos mudar. Nós os chamávamos de ‘persuasivos’”, comentou. A executiva descreve no documentário que a Cambridge Analística se concentrou nas pessoas em estados indecisos que poderiam impactar o resultado geral. A equipe criativa projetou "conteúdo personalizado” para "acionar esses indivíduos”, acrescentou Kaiser. 

"NÓS OS BOMBARDEAMOS ATRAVÉS DE BLOGS, SITES, ARTIGOS, VÍDEOS, ANÚNCIOS, TODAS AS PLATAFORMAS QUE VOCÊ PODE IMAGINAR. ATÉ QUE ELES VIRAM O MUNDO DO JEITO QUE NÓS QUERÍAMOS… E VOTARAM EM NOSSO CANDIDATO.”
BRITTANY KAISER

A conclusão é indigesta e o mundo liderado pela tecnologia abriu a Caixa de Pandora. A tecnologia, correta ou incorretamente, existe para manipular os eleitores sem que eles percebam – então, para onde foram os processos democráticos?

Com informações de ShifterObservatório do CinemaCanal Tech



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