Projeto cultural visa trabalhar a economia criativa de jovens do DF
João Carlos Silva: "O mais interessante é trabalhar com um material que seria descartado (papel reciclado) e eu poder gerar renda com ele" Foto: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press.
por Renata Rusky em 17/02/2019
As aulas fazem parte do projeto Casa de Criatividade e Inovação e visa trabalhar também a economia criativa com jovens de 15 a 29 anos.
Cachorros correndo, brincando e se divertindo. É o que mostra o vídeo feito por Isabella Góis, 28, empresária, para divulgar o hotel de cachorros que abriu. Até a semana passada, Isabella não conseguiria produzir um vídeo, mas ela é uma dos quase 400 jovens de 15 a 29 anos que participaram das oficinas oferecidas pela Casa de Criatividade e Inovação, um projeto criado em novembro do ano passado pelo Instituto de Educação, Esporte, Cultura e Artes Populares (Iecap) com o apoio do Governo do Distrito Federal.
Durante todo o ano, o Iecap oferece vários cursos gratuitos, como os de muai-thai, massoterapia, empregabilidade, culinária sustentável. "Queremos oferecer novas oportunidades para transformar estas vidas, afirma Renata de Oliveira, presidente do Iecap, que administra o Centro de Juventude da Estrutural.
Entre muitas tentativas de descobrir qual empreendimento apostaria na vida, a moradora de Arniqueiras, há seis anos, começou a oferecer o serviço de passear com cachorros. Isabella conseguiu, então, dar outro salto e abrir um hotel para os bichinhos. Acostumada a lidar com os animais, o maior desafio no trabalho era a divulgação do empreendimento. A oportunidade de aprender produção de vídeo com um profissional a deixou empolgada.
O objetivo da Casa de Criatividade, que terá continuidade em Samambaia, entre amanhã e sexta-feira, é trabalhar com os jovens a economia criativa. "A criatividade é o começo, a inovação é transformá-la em dinheiro, explica Mirian Magalhães, consultora das oficinas e diretora da Associação de Culturas Gerais. Segundo ela, após o carnaval, ainda haverá um encontro para ensiná-los a precificar a arte deles e para lançar um catálogo virtual com os melhores produtos.
Vídeos só com o celular
Graças às aulas de produção de vídeo de bolso, Isabella aprendeu da filmagem à edição com o videomaker voluntário Enzo Nogueira. "Eu estava precisando melhorar a imagem do meu serviço na internet, destaca Isabella. Para Enzo, ensinar aos jovens a trabalhar com vídeos é uma forma de promover inclusão social e econômica. "Os vídeos dão voz a eles, comemora.
Enzo teve seu primeiro contato com o audiovisual depois de trabalhar como sonoplasta. A parte visual veio depois, por meio de cursos técnicos e de estágios como editor de vídeo em produtoras da capital. Em 2012, ele adquiriu sua primeira câmera fotográfica e aprimorou seus trabalhos incrementando criatividade em sua paixão. Para lecionar, foi um pulo. Mas precisava de uma plataforma que todos pudessem manusear. "Eu precisava ensiná-los a trabalhar com equipamentos acessíveis, então, pensei no celular, que todos têm. Deu certo, explica.
Grafite
Paralelamente, o projeto também deu oficinas de grafite com os grafiteiros brasilienses Yong, autodidata e que tem uma década de estrada com exposições em Miami e Orlando, e Neew, formado em design gráfico e também conhecido pelo uso de técnicas especiais como acrílico sobre tela, ilustração digital e customização. Entre as alunas está Larissa Campos, 17.
A adolescente sempre gostou de desenhar e talento não lhe falta. Mesmo assim, terminou o Ensino Médio no ano passado e ainda está "em busca de fazer da arte a minha profissão. Desenha rostos, árvores, ambiente. "Tudo que vejo, eu desenho. No ônibus, vou desenhando as pessoas, as paisagens, afirma. Ela grafitou caixas de madeira, latas de tinta e também azulejos inspirados na obra de Athos Bulcão. Raíssa Alves, 21, também participou da oficina e conta que, além de estudar, canta e interpreta em um grupo de teatro. "Eu gosto de trazer coisas diferentes para os meus projetos artísticos e o grafite pode ser cenográfico também, explica.
A ideia de incluir na oficina um elemento bem brasiliense, como os azulejos, veio do estilista Ronaldo Fraga, consultor agregador e curador da Casa de Criatividade e Inovação. "Eu sugeri isso porque o conceito dos azulejos é de uma obra destinada a prédios públicos, aos quais todos têm acesso, mas que muitos aqui não conheciam, explica.
Papel machê
O artista paraibano Babá Santana é um decorador e cenógrafo cuja obra é definida como arte popular urbana. Desde 2002, ele dedica-se à produção de bonecos de papel machê inspirados no universo circense. Participou de exposições em diversas cidades brasileiras e no exterior. Ele veio à capital ensinar os jovens da Estrutural. "É um presente contribuir com a formação desses jovens. Tirá-los da ociosidade e vê-los mais felizes, afirma o artista. Para as oficinas na Casa de Criatividade e Inovação, ao lado de Ronaldo Fraga, decidiu que os alunos fariam cachepôs com rostos, poderia ser os deles mesmos, ou caricaturas, ou de qualquer pessoa.
João Carlos Silva Gomes, 21, faz um curso de massoterapia no Centro de Juventude da Estrutural e resolveu investir em arte também. Nunca tinha trabalhado com artesanato, até participar da oficina de papel marchê. Em sua obra, ele fez um índio, para resgatar as próprias origens. Trabalhou nela a semana toda. "O mais interessante é trabalhar com um material que seria descartado (papel reciclado) e eu poder gerar renda com ele, comemora. "É algo marcante para a vida deles. Eles nunca mais vão querer ver papel na rua, garante Babá.
Serviço - Oficinas de vídeo de bolso e de grafite.
Onde: Centro de Juventude de Samambaia
Inscrições: www.iecap.org.br / @iecap.instituto
Horários: das 9h às 12h e das 14h às 17h
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