Nassif: ?Falta inteligência para discutir sobre privatizações no Brasil?
O anúncio do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em frear as desestatizações, iniciadas pelo governo Bolsonaro e a agenda "privatizadora? defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, gerou fortes críticas ao petista. O mercado, que esteve aliado a gestão de extrema direita e neoliberal, vê como "maus olhos? o retorno de Lula e o fim das políticas entreguistas do atual mandatário.
Para o jornalista Luis Nassif, a declaração do futuro presidente está sendo lida de maneira "extrema? e revela a ignorância de analistas em relação a programas de privatizações.
"Em muitos casos, a estatização abre espaço para barganhas políticas espúrias. Vide caso Petrobras. Em muitos casos, a gestão de mercado abre espaço para desmonte de empresas, como a própria Petrobras recente, distribuindo dividendos em valores muito superiores ao lucro contábil, e reduzindo drasticamente os investimentos e, desse modo, sacrificando o futuro da empresa?, declarou em uma matéria para o jornal GGN.
De acordo com Nassif, ainda falta racionalidade ao se discutir sobre privatizações e estatizações e as consequências sobre a mudança do estabelecimento de empresas. "Privatização ou estatização não são um fim em si mesmo, mas um meio. É de uma malícia, ou ignorância atroz, tratar toda privatização ou toda estatização como virtuosa ou daninha, sem analisar o setor ou a missão da empresa?, afirmou.
Caso Petrobras e as privatizações no Brasil
O jornalista reconta a história da maior estatal brasileira, a Petrobras, para citar os fatores que remodelaram a empresa ao decorrer dos anos e a força do mercado privado sobre a mesma.
"Desde Pedro Parente, a Petrobras foi dirigida sob a ótica exclusiva do mercado, isto é, dos acionistas. Teve lucros assombrosos, bancados pelos consumidores internos. Distribuiu dividendos em valores muito superiores aos lucros contábeis. Não fez os investimentos necessários para garantir seu futuro. Foi submetida a um processo inédito de espoliação, com predomínio total do mercado, e dos lucros imediatos, em prejuízo da própria operação da empresa?.
Outro caso notório de processo de privatização que impactou de forma negativa foi a da Eletrobras, que deixou de ser utilitária ao povo brasileiro e atendeu apenas as necessidades do mercado. "A partir de Michel Temer foi submetida a uma gestão de mercado. E distingo gestão privada de gestão de mercado, porque o segundo tipo visa exclusivamente maximizar os dividendos imediatos. Reduziu investimentos, reduziu pesquisas, para sobrar mais recursos para distribuir dividendos. E a gestão foi aplaudida pelo mercado e por uma mídia ignorante em relação à lógica empresarial?, declarou.
Dado o histórico brasileiro de ceder às pressões mercadológicas em prol das políticas neoliberais, Luis Nassif reintera que a declaração de Lula vem sendo interpretada de forma errada intencionalmente.
"Ao se declarar contra continuidade da privatização, Lula obvioamente se referia às grandes empresas públicas, como a Petrobras, que estavam na mira do mercado. A mídia já generalizou e incluiu na afirmação a condenação às PPPs ? mesmo com Haddad enfatizando a sua utilidade?, completou.
De acordo com o jornalista, qualquer plano de privatização ou estatização exige um grande planejamento e avaliação sobre as reais necessidades, não apenas simplicar a uma discussão breve ou interesses externos. "Dividir a discussão entre privatização, qualquer que seja ela, ou estatização de qualquer espécie, em nada fica a dever ao terraplanismo dos sem-vacina?.
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