Instituto Pensar - Contra Putin, Otan vai decidir sobre o maior reforço militar desde a Guerra Fria

Contra Putin, Otan vai decidir sobre o maior reforço militar desde a Guerra Fria

por: Mariane Del Rei 


Otan aumentará para mais de 300 mil sua força de alta prontidão. Foto: Kenzo Tribouillard/AFP

Contra Vladimir Putin, a cúpula de Madri, da Otan, esta semana marcará uma virada histórica. Uma aliança posta em xeque depois do colapso da União Soviética, seu principal objetivo, mas que na capital espanhola viverá uma espécie de refundação para se adaptar a um cenário bélico sem precedentes desde o final da Guerra Fria.

Os 30 aliados se reúnem em estado de alerta máximo por causa da invasão russa à Ucrânia e dispostos a embarcar em uma corrida armamentista para transformar a parte Leste da Europa em um forte com milhares de soldados e grande quantidade de equipamentos militares para se antecipar a um possível ataque do presidente russo, Vladimir Putin. A Otan quer passar a mensagem de que se encontra em pé de guerra e pronta para responder a qualquer agressão contra seus membros.

O secretário-geral da aliança atlântica, Jens Stoltenberg, deu o tom nesta segunda, anunciando um aumento maciço do número de soldados em alta prontidão: passarão de cerca de 40 mil para mais de 300 mil. Também antecipou uma mudança de linguagem com relação ao Kremlin, deixando para trás a "parceria estratégica? para dizer "claramente? que Moscou apresenta "um risco direto para nossa segurança, nossos valores e para a ordem internacional baseada em regras?.

? Vamos elevar nossas tropas na parte Leste da aliança para os níveis de brigada. Transformaremos a força de resposta da Otan e aumentaremos o número de nossos soldados em alta prontidão para mais de 300 mil ? disse o secretário-geral.

A reunião na capital espanhola, de 28 a 30 de junho, tem como trágico e inevitável pano de fundo a guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia, uma agressão de um país contra outro de uma magnitude inédita no território europeu desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Esquerda russa se posicionam contra a guerra com a Ucrânia

Membros do Partido Comunista da Federação Russa (PCRF) se posicionam contra a guerra com a Ucrânia. Em mais uma tentativa de se distanciar do presidente russo Vladimir Putin, a esquerda no país tem lutado para sobreviver à mira do Kremlin.

Nas últimas eleições para a Duma, em setembro de 2021, o PCRF conquistou 57 assentos no Parlamento (18,9%). A Duma é composta por um total de 450 membros, dos quais 326 (49,8%) são da coligação Rússia Unida, alinhada ao presidente Vladimir Putin.

As últimas eleições encorajaram comunistas russos a se tornarem oposição a Putin, força que com a guerra foi transferida para a luta pelo fim do conflito.

Putin sempre se posicionou contra o comunismo e, ao chegar ao poder, atuou para enterrar de vez o passado soviético. Em parte, conseguiu.

Logo após o fim da União Soviética, o então presidente Boris Yeltsin acabou com o Partido Comunista Soviético. O que resultou o surgimento de diversos grupos políticos de esquerda, opositora ao governo e à política econômica adotada.

O PCFR surgiu nesse contexto, em 1993, e concentrou o monopólio da esquerda a partir da estratégia de Yeltsin, de permitir uma oposição moderada ao seu governo, mantendo-se fiel às orientações do então presidente.

Putin não aceita oposição moderada

A oposição moderada não foi aceita por Putin quando chegou ao poder, em 2000. Obrigou o afastamento de dirigentes do PCFR tidos como radicais e apertou o controle do dinheiro do partido.

De acordo com o Le Monde, no início dos anos 2000 as cotizações dos membros constituíam mais da metade de suas receitas, em 2015 não representavam mais do que 6% e o financiamento público subiu para 89% de seus recursos.

A lealdade do PCFR a Putin fez com perdesse parte expressiva de seus filiados, com baixas de 160 mil, em 2016, em universo que já contou com cerca de 500 mil.

Em 2018, porém, deu mostras de uma guinada e lançou o empresário Pavel Grudinin, com discurso mais distante do comunismo antigo e mais focado nos problemas atuais do país.

Leia também: Deputados comunistas russos são contra guerra

Conseguiu o segundo lugar no primeiro turno, com 11,7% dos votos ? o que representa 8,6 milhões de eleitores. Um feito notável diante do poderio de Putin.

Com isso, as últimas eleições parlamentares do país assinalaram uma possibilidade de renovação da esquerda russa com a aparição de novos quadros, críticos ao governo, assumindo compromissos com pautas como direitos humanos, liberdade democrática, igualdade social e meio ambiente.

Esquerda dividida

Com o relativo crescimento e a falta de modernização do seu programa partidário, três parlamentares do PCFR se levantaram, na Duma, contra o conflito na Ucrânia, apesar de declarar apoio ao conflito já no início e ter encampado o discurso de "desmilitarizar e desnazificar? o país vizinho, posicionamento seguido de outras declarações em apoio a Putin.

Mais à esquerda e mais isolados estão os pacifistas. O Le Monde cita a declaração publicada pelo Movimento Socialista Russo em conjunto com a esquerda ucraniana, uma das raras iniciativas em comum contra o conflito em um momento em que a segurança na Ucrânia ataca a esquerda do país.

Já os anarquistas da Avtonomnoe Deistvie [Ação Autônoma] chamam os "soldados russos a desertar, desobedecer às ordens criminosas e deixar a Ucrânia imediatamente?, num chamado que remete claramente ao passado comunista.

Com informações do O Globo



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