Instituto Pensar - Sindicalismo de volta aos EUA?

Sindicalismo de volta aos EUA?

Funcionários em um galpão da Amazon. Foto: Amazon/Reprodução

A votação pela criação de um sindicato dos funcionários de uma loja da Apple, nos Estados Unidos, neste final de semana, é mais um passo que confirma o movimento de retomada da união de trabalhadores para defender seus direitos diante das empresas, após décadas de ostracismo do sindicalismo.

Dos 110 funcionários de uma loja de Towson, Maryland, 65 votaram a favor e 33 contra. A contagem foi transmitida ao vivo no sábado (18) por agência federal responsável pela supervisão da votação.

À primeira vista, pode até parecer um número irrisório diante do universo de empregados da gigante da tecnologia dentro e fora dos EUA. Mas é uma grande vitória, especialmente, pelo posicionamento da Apple, que se opôs de maneira veemente à criação do sindicato.

Embora não tenha sido a primeira tentativa dentro da empresa, foi a primeira que avançou e conseguiu realizar a votação a partir de um grupo de funcionários chamado AppleCORE (Coalition of Apple Retail Employees). Eles poder de decisão ativa nos salários, horas e medidas de segurança.

De acordo com a RFI, a diretora de distribuição e recursos humanos da Apple, Deirdre O?Brien, visitou a loja em maio para conversar com os funcionários.

"É direito de vocês se filiar a um sindicato, mas também é direito não se filiar a um sindicato?, disse O?Brien, de acordo com um trecho de áudio transmitido pelo site Vice.

A Apple silenciou diante da notícia, mas a diretora afirmou que um intermediário complicaria o relacionamento entre a Apple e seus funcionários.

Em dezembro, funcionários de uma loja da Starbucks conseguiram se mobilizar e criar o primeiro sindicato da rede.

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Em abril, funcionários de um galpão da Amazon, em Nova York, também conseguiram maioria para criação do primeiro sindicato dos trabalhadores da empresa nos EUA. Mas, a empresa não aceitou o resultado e exige outra votação.

Apesar disso, a notícia foi celebrada como vitória histórica não apenas dentro da empresa, mas para todo o movimento sindical do país.

"É provavelmente a mais importante vitória sindical (no país) em quase cem anos?, afirmou à BBC News Brasil o professor John Logan, diretor do departamento de estudos sobre Trabalho e Emprego da San Francisco State University, na Califórnia.

O que mudou?

A eleição de Joe Biden para presidência dos EUA e o apoio dele à sindicalização parecem ter influenciado esse movimento.

A pandemia da covid-19 também teve grande peso para a mudança no movimento sindical dos EUA.
Busca de melhores condições, novas formas de relacionar com o trabalho e envolvimento político dos mais jovens fazem parte desse processo. Mesmo que muitas tentativas não consigam prosperar, estimula que outros trabalhadores sigam por esse caminho.

"Os trabalhadores foram forçados a trabalhar em condições perigosas em muitos lugares. Eles se viam assumindo grandes riscos apenas para receber um salário, enquanto a gerência ficava em casa em segurança e as empresas obtinham lucros enormes. Isso aumentou a insatisfação?, analisa Stephanie Luce, professora da Escola de Trabalho da Universidade da Cidade de Nova York (Cuny).

O ano de 2021 foi um marco. Um levantamento da Universidade de Cornell mostrou que foram 250 greves em todo o país ao longo do ano passado, 41 apenas em outubro.

Apesar de aumento de trabalhadores que se sindicalizaram ser aparentemente baixo, de 10,3%, em 2019, para 10,8%, em 2021, o percentual representa 14,3 milhões e foi o maior crescimento em 40 anos.

Além disso, a população também passou a apoiar mais a sindicalização. A pesquisa anual da Gallup "Trabalho e Educação?, mostra que percentual dos americanos que aprovavam os sindicatos chegou a 68% em 2021. É a maior taxa desde 1965.

A aprovação é ainda mais alta entre jovens adultos de 18 a 34 anos ? 77%. Logo em seguida, os que têm renda familiar anual abaixo de US$ 40 mil, com 72%.

Com informações da BBC, O Globo, Folha, RFIPCdoB




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