Eleições na Colômbia: Espionagem e tentativa de golpe contra a esquerda
por: Ana Paula Siqueira
Após conseguir levar a disputa eleitoral para o segundo turno das eleições presidenciais da Colômbia, a esquerda virou alvo de espionagem e tentativa de golpe. Vídeos com gravações de integrantes da campanha do candidato do Pacto Histórico, Gustavo Petro, foram vazados para tentar desestabilizar sua campanha no momento em que ele ultrapassa seu concorrente, Rodolfo Hernández, e aparecem em empate técnico nas pesquisas.
A votação do segundo turno é no próximo dia 19 e, na noite desta quinta-feira (9), a revista Semana publicou vídeos de reuniões entre líderes da campanha de Petro onde são discutidas estratégias contra rivais e questões sensíveis para o Pacto Histórico.
As gravações estariam sendo realizadas, de acordo com Gustavo Petro, há meses. Por isso, ele questiona o vazamento dos vídeos justo quando está na liderança da disputa.
"Eles estão simplesmente publicando as provas de que fomos gravados ilegalmente?, escreveu ele no Twitter.
E cobrou a divulgação dos vídeos na íntegra para que as pessoas possam tirar suas conclusões.
Nos vídeos, membros da campanha aparecem discutindo estratégias para amenizar as notícias de que o Pacto Histórico teria se comprometido a não extraditar criminosos por meio do perdão social, defendido por Gustavo Petro.
Também aparecem discussões sobre como atrapalhar a campanha dos seus então adversários Federico Fico Gutiérrez, da direita, e Alejandro Gaviria, da coalizão centrista.
De acordo com o El País, nesta quinta Petro superou Hernández pelo segundo dia consecutivo. Levantamento realizado pela GAD3 para o Canal RCN mostra Petro com 48,5% das intenções de voto contra 46,7% de Hernández.
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Marketing eleitoral
Quem mais chama a atenção nos vídeos é o senador Roy Barreras que fala em "explodir? o escândalo das extradições de maneira controlada ou em outro em que propõe ações para dividir o centro.
"Felizmente, quando os ouvintes ouvem esta e outras gravações, descobrem que o que está ali é absolutamente normal, legal. Não há sequer um adjetivo ou um insulto aos concorrentes, que são obviamente ameaças normais no marketing eleitoral. Nossa campanha foi espionada, grampeada, infiltrada; o que é crime?, afirmou na madrugada desta quinta em entrevista à Rádio Caracol.
Quem é Gustavo Petro
Petro é natural de Ciénaga de Oro, departamento de Córdoba. Economista de 62 anos, foi militante do grupo guerrilheiro Movimento 19 de Abril (M-19) na sua juventude e tinha o codinome de "Comandante Aureliano?.
Ele foi um dos responsáveis pela transição da guerrilha urbana no partido Aliança Democrática M-19, pelo qual foi constituinte em 1991 e deputado até 2006. Em 2011 foi eleito prefeito de Bogotá (2012-2015) com o partido Polo Democrático Alternativo, e desde 2018 atua como senador já pela nova legenda, da qual também foi fundador, Colômbia Humana.
Já Francia Márquez, candidata a vice na chapa de Pedro, tem 40 anos, nasceu em Yolombó, Antioquia, mas vivia na comunidade de La Toma, em Cauca, onde iniciou sua vida política em manifestações contra a retirada forçada da comunidade para liberar a área para extração mineral.
Tornou-se advogada para representar sua comunidade. Em 2018 ganhou o Goldman Environmental Prize pelo seu papel como defensora do meio ambiente. Até iniciar a campanha para a presidência também atuava no Conselho Nacional pela Paz.
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Para os movimentos e organizações de esquerda que compõem a aliança eleitoral, a dupla representa um momento de ruptura para a política do país, que se expressou na escalada de mobilizações nos últimos quatro anos, sendo o ápice a maior greve geral da história da Colômbia, iniciada em abril do ano passado.
"A mudança não virá por decreto. Petro e Francia farão um governo de transição. Acreditamos que o que eles podem fazer é criar as condições para que nos tornemos um país onde as diferenças sejam resolvidas através do diálogo e do respeito?, diz Mauricio Ramos, dirigente da Marcha Patriótica.
Direita sob suspeita de corrupção
Já o candidato da direita, Rodolfo Hernández, pode ser condenado por crimes de corrupção durante sua gestão como prefeito de Bucaramanga, capital do departamento de Santander, entre 2016 e 2019. Hernández é acusado de ter favorecido a empresa Vitalogic na concessão da licitação dos serviços de coleta de lixo na cidade.
O contrato de 30 anos no valor de US$ 570 milhões previa uma comissão de 2,2% para o lobista que colocou a empresa em contato com o ex-prefeito e US$ 100 milhões (cerca de R$ 500 milhões) ao filho de Hernández, Luis Carlos Hernández.
No processo, aberto em fevereiro de 2020, o Ministério Público ainda destaca depoimentos afirmando que antes de abrir o processo de licitação, Hernández já havia designado pessoas de confiança para avaliar as ofertas das empresas privadas, a fim de garantir vantagem para a Vitalogic.
Com informações do O Globo
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