Instituto Pensar - Ameaças de massacre alerta sobre crescimento da violência nas escolas

Ameaças de massacre alerta sobre crescimento da violência nas escolas

por: Igor Tarcízio


Com o retorno das aulas presenciais, violência dentro das escolas cresceu "assustadoramente? e acende alerta sobre o armamento no Brasil, fake news e saúde mental de estudantes (Imagem: Socialismo Criativo)

Com o crescimento de casos de tiroteios em escolas dos Estados Unidos, o Brasil passou a lidar, também, com ameaças relacionados aos crimes e iresponsabilidade do governo estadunidense. Iniciada em abril, a onda de anuncios falsos de massacres em escolas do país vem assustando pais, professores e alunos em todas as regiões do país, mobilizando a polícia e até o poder público.

Leia também: Atirador mata 19 crianças em escola dos EUA

Sem saber da veracidade das mensagens que premeditam homicídios em massa, o clima de apreensão se estabelece e instituições de ensino optam por se precaver, registrando boletins de ocorrência e até suspendendo as aulas. A postura cautelosa não é de se estranhar: em um governo que estimula o armamento da população e o crescimento ?assustador? das vendas de armas de fogo e munições ? uma movimentação que lembra a trajetória do país norte-americano e o processo de facilitação da posse de armas ?, a ação seria mais uma "conteção de danos? que uma reação exagerada as ameaças.

Segundo reportagem do UOL, a onda de fake news a respeito de massacres em escolas surgiu nos Estados Unidos, em dezembro passado, quando grupos passaram a divulgar essas mensagens pelo aplicativo TikTok. Contudo, no país estadunidense, infelizmente, são comuns esses atos de violência, como o ocorrido recentemente em uma escola em Uvalde, no Texas, quando um jovem de 18 anos matou a tiros ao menos 19 crianças e 2 adultos.

Em dezembro, muitas escolas americanas cancelaram suas aulas após ameaças, principalmente as de cidades do interior do país, e a polícia aumentou seu efetivo. O TikTok chegou a divulgar uma nota afirmando que trabalha para identificar fake news e mensagens ofensivas.

No Brasil, o caso que mais deixou os pais e os funcionários dos colégios preocupados se deu na Escola Estadual Professor Manoel Abreu, em Linhares (ES). Dois adolescentes, de 13 e 15 anos, postaram em grupos de WhatsApp a ameaça ao colégio. Um deles chegou a publicar uma foto de um revólver que, segundo a polícia, seria do irmão dele. O caso aconteceu em 29 de março.

Leia também: Simpatizante do regime nazista, estudante promete "massacre? em escola no MS

Os alunos prestaram depoimento na delegacia, juntamente com seus responsáveis e representantes do Conselho Tutelar. "Com todo o procedimento de investigação das polícias civil e militar, os dois alunos foram identificados e falaram que postaram as ameaças em contexto de brincadeira?, conta o diretor Jean Carlos Borghi de Andrade, revelando que a punição dos dois foi a transferência compulsória para outro colégio.?

Também ouveram relatos semelhantes em municípios de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Rio Grande do Sul, Bahia, Tocantins, Goiás, Espírito Santo e do Distrito Federal.

Deste então, outros casos vem deixando a comunidade estudantil e a população em alerta sobre um debate que se revela necessário no País e que abarca "fake news", "armamento no Brasil? e "saúde mental de estudantes".

Violência nas escolas cresce

O crescimento das ameaças falsas acompanham uma escalada da violência dentro das escolas em todo o país após a retomada das aulas presenciais. A violência escolar não é novidade, mas ganhou novos contornos e proporções desde o afastamento do crianças, adolescentes e jovens da sociabilidade entre si e nas escolas.

Professores e diretores de escolas públicas e privadas narram dificuldades em reestabelecer uma rotina mínima no ambiente escolar, com o cumprimento de regras. Os registros se acumulam em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e outros estados.

O estado com maior recorrência de casos, São Paulo, até o o governo já reconhece que o aumento da violência nas escolas é uma realidade. Segundo dados da Secretaria da Educação de São Paulo, houve aumento de 48,5% dos casos de agressões físicas nos dois primeiros meses de aula este ano, em comparação à 2019, ano em que as aulas presenciais aconteciam normalmente. No período, houve registro de 4021 casos de agressões físicas nas escolas estaduais.

São, em média, 108 casos de violência por dia letivo nas 5500 escolas estaduais, de acordo com a Plataforma Conviva, onde são registradas as ocorrências escolares.

Também há aumento de ações violentas praticadas por grupos ou gangues nas escolas ? até 24 de março eram contabilizados 221 casos, contra 68 no mesmo período de 2019 ?, bem como aumento dos casos de bullying (77%) e ameaças (52%).

Condição psicológica dos estudantes

Uma pesquisa do Instituto Ayrton Senna com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo explicitou o forte impacto que a pandemia, e o consequente isolamento social, tiveram na condição sociopsicológica da maioria dos estudantes. A pesquisa foi apresentada no final de abril na subcomissão da Comissão de Educação (CE) que avalia o impacto da pandemia no setor.

O estudo mostra que 70% dos estudantes relataram quadros de depressão ou ansiedade quando foram consultados a partir do retorno ao ensino presencial. A pesquisa ouviu 642 mil estudantes em todo o estado de São Paulo, do 5º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.

A pesquisa mostra que 33% dos estudantes afirmam ter dificuldades de concentração sobre o que é transmitido em sala de aula; outros 18,8% disseram se sentir "totalmente esgotados e sob pressão?; 18,1% disseram "perder totalmente o sono devido às preocupações? e 13,6% relataram "a perda da confiança em si mesmo?. Além disso, 1/3 dos alunos se autoqualificou como "pouquíssimo focados?.

O agravante Bolsonaro

Outro ponto que corrobora para o aumento da tensão dentro das escolas se devem ao maior armamento da população desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL). Com a posse do ultrareacionário de extrema-direita, em 2019, foram registradas mais de 1 milhão de novas armas particulares no Brasil, segundo dados da Polícia Federal e do Exército obtidos pelos institutos Sou da Paz e Igarapé por meio da Lei de Acesso à Informação.

Leia também: Datafolha: 72% dos brasileiros discordam de Bolsonaro sobre uso de armas

Até novembro de 2021 havia no país um total de 2,3 milhões de armas registradas (os institutos ainda não obtiveram números de 2022). Trata-se de um aumento de 78% em relação a 2018, último ano da gestão de Michel Temer (MDB), quando havia 1,3 milhão de armas contabilizadas.

Uma parcela importante dessa alta se deve a armamento comprado por pessoas comuns e por servidores civis, como policiais e agentes federais. Nesse grupo, a quantidade de armas mais que dobrou: saltou de 344 mil para 810 mil no período.

Caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs, também dobraram a quantidade de armas em suas mãos: passaram de 350 mil há quatro anos para 794 mil em novembro de 2021. A quantidade de pessoas que se registraram como CACs quase triplicou em período semelhante: eram 167 mil em julho 2019 e, em outubro de 2021, somaram 491 mil.




0 Comentário:


Nome: Em:
Mensagem: