Desembargador Costa Wagner é negro e o mais jovem do Tribunal de Justiça
por: Janary Damacena
A Fundação João Mangabeira conversou com o desembargador Luiz Guilherme da Costa Wagner Junior, do Estado de São Paulo, que falou sobre a empolgação por estar participando do pontapé inicial das homenagens ao saudoso presidente de honra do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e consagrado escritor e defensor da cultura nacional, Ariano Suassuna.
"Eu estou extremamente ansioso e feliz com esta participação?, afirmou o desembargador. As homenagens começarão no próximo mês de junho, na cidade histórica de Paraty, que dos dias 16 a 19 daquele mês, estará recebendo políticos, artistas, jornalistas, intelectuais e a sociedade em geral, para celebrar a memória do escritor brasileiro, que faria 100 anos em 2027.
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No dia 16, Paraty transforma-se no berço de Suassuna, já que é a data do aniversário dele. O projeto inclui que, a cada ano, uma cidade histórica brasileira abrigue uma homenagem. O desembargador foi convidado pelo presidente da Fundação João Mangabeira, Márcio França, e irá participar da reencenação do julgamento de João Grilo, momento épico do clássico ?Auto da Compadecida?, carregado de referências à cultura brasileira, aos preconceitos, ao sofrimento dos mais pobres, à generosidade, à inocência e à hipocrisia da sociedade.
Leia a entrevista
Desembargador, o senhor vai desempenhar o papel de juiz no novo julgamento do João Grilo. Quais são as suas expectativas, o que o senhor espera desse momento?
Eu fiquei muito feliz com o convite, pra mim é uma honra estar participando dessa comemoração, que eu acho que é histórica para o nosso país, né? A Fundação João Mangabeira vai fazer as pessoas lembrarem de um dos grandes ícones que nós tivemos ao propiciar um evento como esse. Eu já tinha assistido ao filme, o ?Auto da Compadecida?. Na semana passada recebi pelo correio um material bem bacana que vocês mandaram, com três obras dele (refere-se a um box organizado pela FJM com ?Auto da Compadecida?, ?Farsa da Boa Preguiça? e ?O Sedutor do Sertão?). Eu estou extremamente ansioso e feliz em estar vivenciando esse evento nesse momento.
Qual a importância de um evento como esse, recuperando a memória de um brasileiro importante?
Isso vai ser noticiado. O nome do Ariano vai voltar a ser falado, pessoas vão ter novamente interesse em ler suas obras, eu acho que o evento tem tudo pra ser um grande sucesso.
O senhor é o desembargador mais jovem de São Paulo e um dos poucos negros no Tribunal de Justiça de São Paulo, qual a importância dessa representatividade?
Verdade, eu sou atualmente o desembargador mais novo do Tribunal de Justiça, e entrei pro Tribunal de Justiça com uma idade que não é a idade muito comum das pessoas que vêm pro Tribunal. Eu vim pelo quinto constitucional, que é aquele sistema em que há uma escolha primeiro na OAB, depois no Tribunal e, por fim, cabe ao governador do Estado nomear um dentre três integrantes de uma lista. E aí, o meu nome foi escolhido, isso em 2017, então pelo governador Geraldo Alckmin e, na época, eu tinha 44 anos. Hoje eu estou com 49, comparado à faixa etária dos outros desembargadores aqui de São Paulo, eu era dez, quinze anos mais novo do que todos. Pra você ter uma ideia, já faz cinco anos que eu estou aqui e continuo sendo o mais novo. Eu credito isso a uma evolução que o Tribunal e o Direito, nos últimos anos, vêm sofrendo. No sentido de dar espaço também pra pessoas que demonstram bom currículo. Eu já era mestre, me formei muito cedo, com 21 anos. Rapidamente fiz mestrado e doutorado. Então, em que pese a pouca idade pro Tribunal, 44 anos à época, eu já tinha 25 anos de experiência na advocacia, eu já tinha sido juiz do Tribunal Eleitoral por seis anos. Então, eu acho que aqui foi importante esse desprendimento que o Tribunal mostrou com a minha escolha. De fato, eu sou de origem negra, meu pai é negro, e eu, por conta da minha mãe, que é bem clarinha, brinco que fiquei um pouquinho desbotadinho né? Mas o meu pai, meus avós, enfim, são de traços marcantes negros, eu também tenho os traços. Sou o mais jovem que entrou no tribunal de origem negra, mas já tivemos outros membros negros no Tribunal de Justiça. Não é comum, eu acho que hoje nós somos em 360 desembargadores aqui em São Paulo, muito poucos são negros.
Qual é o segredo desse sucesso? Chegar tão jovem como desembargador e se destacar num Estado brasileiro importante?
Eu digo que tenho sorte e sou uma pessoa muito religiosa. Se você, um dia, tiver oportunidade, vai ser um prazer te mostrar meu gabinete. Na entrada, você vai encontrar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, em cima da mesa algumas imagens, eu acredito que nós temos que cumprir uma missão, aqui na Terra, e se a gente fizer o bem pras pessoas que precisam, o retorno vem. E eu acho que eu tenho uma missão, que agora é cumprir esse papel que me foi dado com pouca idade e eu vou continuar fazendo o bem, e esse evento se encaixa, é um evento do bem, que transmite cultura, que vai trazer alegria, que enaltece uma grande personalidade de um país que é tão sofrido. Não temos heróis, não costumamos valorizar o que é nosso. É importante a gente valorizar o que é nosso. Se é um americano recebe todas as honras, se é um músico de fora nós estendemos o tapete. Quando a Fundação faz um evento como esse, eu torço pra que tenhamos muita publicidade porque as pessoas precisam ter conhecimento, ter acesso a isso. Estou torcendo pra que o evento seja muito bonito.
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