Instituto Pensar - Ataque russo à Ucrânia abala economia global e pode afetar o Brasil

Ataque russo à Ucrânia abala economia global e pode afetar o Brasil

por: Mariane Del Rei 


Rússia bombardeia a Ucrânia nesta madrugada. Foto: Reprodução

Em reflexo do ataque feito pela Rússia contra a Ucrânia, pela primeira vez em seis meses o dólar recuou e ficou abaixo dos R$ 5. Logo após a abertura do mercado brasileiro, a moeda estadunidense chegou a ser cotada a R$ 4,99, se recuperou e orbita na casa dos R$ 5 durante esta quarta-feira (23).

Para o economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), além do cenário internacional, com o Brasil sendo visto como refúgio de potenciais perdas no mercado da Rússia em razão das tensões em torno da Ucrânia, a questão eleitoral, indicando uma eventual vitória de Lula, pode estar influenciando na oscilação da taxa de câmbio.

Desde 5 de janeiro, quando chegou ao pico de R$ 5,71, o dólar já recuou 11,5%.

"Em geral, anos eleitorais no Brasil apresentam forte oscilação na taxa de câmbio. A valorização do real atualmente pode estar expressando a posição de investidores externos favorável a perspectiva de vitória eleitoral do presidente Lula, assim como o resultado a elevação da taxa de juros que torna mais atrativo o ganho financeiro, especialmente diante da expectativa de alta nos juros nos EUA?, disse Pochmann.

No entanto, mesmo com a economia altamemente indexada na moeda estadunidense, a retração do dólar frente ao real não deve refletir em assuntos que interessam diretamente aos brasileiros, como o preço da comida e dos combustíveis.

"A economia brasileira tem sido mais dependente de produtos importados. Assim como em 2021, quando o real foi uma das moedas mais desvalorizadas do mundo, houve impacto inflacionário, seria natural que a valorização do real, a mais alta do mundo no acumulado dos meses de janeiro e fevereiro, repercutisse na queda dos preços dos produto importado. Mas até agora, isso não ocorreu?, destaca o economista.

A alta dos alimentos está ligada intimamente à política de preços de paridade internacional adotada pela Petrobras ? a chamada dolarização dos combustíveis.

No entanto, a mesma tensão na Ucrânia que fez o dólar cair no Brasil, está provocando efeito contrário no preço do barril de petróleo brent, que já beira os 100 dólares. 

"No preço do combustível, a valorização do real deveria resultar na queda importante do preço do combustível. Mas isso até agora não se efetivou concretamente?, diz Pochmann.

Tensão na Ucrânia reflete no governo Bolsonaro

A queda na cotação do dólar em decorrência à guerra iminente na Ucrânia tem causado tensão na equipe econômica do governo.

E o motivo não é a redução dos ganhos do ministro Paulo Guedes com o dinheiro depositado em paraísos fiscais, mas sim a questão eleitoral.

A preocupação é que uma eventual guerra possa deteriorar ainda mais o cenário internacional, que ainda patina para sair da pandemia da Covid.

O principal medo é que as tensões ocasionem uma alta ainda maior no preço do petróleo e, consequentemente, impacte diretamente na inflação. 

Petróleo passa de US$ 100

O petróleo ultrapassou a marca de US$ 100 o barril pela primeira vez desde 2014, as bolsas globais despencaram e o rublo atingiu uma mínima recorde nesta quinta-feira, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, lançou um ataque à Ucrânia.

Por volta de 11h15, no horário de Brasília, o contrato para abril do petróleo tipo Brent subia 8,37%, cotado a US$ 104,95, o barril, após já testarem a marca dos US$ 105.

Já o contrato para o mesmo mês do tipo WTI avançava 8,25%, cotado a US$ 99,70, o barril.

"O mercado está precificando um aperto maciço de oferta, em outras palavras. No caso de uma interrupção parcial dos embarques de petróleo russos, os outros grandes países produtores só poderiam compensar isso de forma limitada?, destacou o analista de commodities do Commerzbank, Carsten Fritsch, em relatório.

Energia e gás disparam

Além do petróleo, os preços do gás disparavam na Europa. A cotação do gás TTF negociado na Holanda, referência de preço para o resto da Europa, subiu mais de 32% nesta manhã, atingindo 117,70 euros por megawatt-hora.

"O que dissemos sobre o petróleo é ainda mais verdadeiro para o gás natural: qualquer interrupção nas entregas russas seria praticamente impossível de compensar, especialmente para a Europa. Embora os estoques de gás europeus devam durar até o final do inverno, o reabastecimento necessário para o próximo inverno dificilmente seria possível ", destaca  Fritsch.

Bitcoin e outras criptomoedas caem

No mercado de câmbio, o nervosimo se repetiu. O rublo se desvalorizou quase 7%, atingindo um valor sem precedentes de 86,98 por dólar.  O Banco da Rússia disse que realizará intervenções cambiais.

Já o iene japonês subiu em um movimento de segurança, enquanto o euro e as moedas ligadas a commodities recuaram.

Entre as criptomoedas, o Bitcoin caiu para menos de US$ 35.000 em meio à aversão ao risco. O segundo maior token, o  Ether, também sofreu pesadas perdas.

Preços dos alimentos podem subir

A Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial, um peso relevante, embora fique atrás de EUA, Brasil e Argentina. Ucrânia e Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta.

Apesar disso, na sexta-feira passada, a mídia especializada em grãos estava mais preocupada com a safra de soja e milho de Brasil e Argentina, prejudicada pelo mau tempo. A principal preocupação relacionada ao conflito era a de alta do preço do trigo, de passagem.

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A guerra na Ucrânia afeta preços de petróleo, gás natural, grãos e óleo de cozinha, pelo menos, encarecendo alimentos também no Brasil.

Os preços da indústria brasileira, que já estavam pressionados por causa do dólar muito caro até dezembro e pela persistente escassez mundial de insumos, também devem sofrer novo impacto com a alta da moeda estadunidense.

?Instabilidade afeta crescimento

A depender do tamanho da guerra, o impacto sobre a confiança econômica pode ser grande e se estender por pelo menos alguns meses, o que reduziria as perspectivas de crescimento econômico.

Empresários e investidores temerosos costumam adiar novos projetos ou expansões, o que significa menor oferta de emprego.



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