Levante Popular da Juventude protesta no quiosque Tropicália, onde Moïse foi morto
O Levante Popular da Juventude organizou na madrugada desta quinta-feira (3) um protesto em frente ao quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca (RJ), onde o congolês Moïse Mugenyi Kabagambe foi assassinado brutalmente. Com a faixa "Fogo nos Racistas?, o movimento pediu justiça pelo imigrante.
"A juventude negra aqui no Brasil nunca teve acesso pleno aos direitos. Então a gente vê esse caso como a gota d?água e por isso nós do Levante estamos aqui para poder denunciar e falar que a juventude não vai aceitar mais esse tipo de violência contra a juventude negra, que morre todos os dias, sobretudo no Rio de Janeiro?, disse Maíra Marinho, integrante do Levante, em entrevista divulgada pelo "O Cafezinho?.
Segundo o movimento, a notícia da morte de Moïse "escancara a veia xenofóbica e racista da construção social brasileira que se expressa no cotidiano extermínio da juventude negra nas periferias brasileiras?.
Dados do Atlas da Violência de 2021 mostram como atos como esse têm crescido cada vez mais no Brasil, consequência de um racismo estrutural, mas também do governo de Jair Bolsonaro (PL), que "vem destruindo as políticas de direitos humanos, além de pregar o discurso de ódio e a marginalização da juventude negra e periférica?, diz o Levante.
Leia também: Caso Moïse: Guarda Municipal ignorou espancamento
"A morte de Moïse é inaceitável e, tão inaceitável quanto, é o silêncio das autoridades sobre o ocorrido, comportamento institucional que não se restringe ao Moïse, mas a tantos outros que tiveram suas vidas ceifadas pelo racismo: Marielle Franco, João Pedro, Miguel?, afirma ainda o texto enviado à imprensa. O Levante Popular da Juventude completa 10 anos de nacionalização nesta quinta-feira.
O crime
Moïse foi, na segunda-feira (24), cobrar duas diárias no quiosque Tropicália, que fica próximo ao Posto 8, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ele prestava serviços de ajudante de cozinha no local. A informação é da sua família.
Logo após ele chegar ao local, surgiram três homens, um deles com um taco de beisebol nas mãos, que o cercaram, o jogaram no chão e desferiram, pelo menos, 26 pauladas em Moïse, que continuou apanhando mesmo desacordado. As imagens podem ser vistas nas câmeras de segurança do quiosque.
Moïse foi encontrado morto, no chão, com as mãos e pés amarrados. De acordo com laudo do IML (Instituto Médico Legal), ele morreu em decorrência de traumatismos no tórax, com contusão pulmonar causada por ação contundente. O laudo diz ainda que os pulmões apresentavam áreas hemorrágicas de contusão e também vestígios de broncoaspiração de sangue.
Estão presos temporariamente pelo crime Brendon Alexander Luz da Silva, Fábio Pirineus e Aleson Cristiano. Os três aparecem nas imagens do espancamento. Ao depor, todos negaram que quisessem matar o congolês. Brendon, porém, disse ter a "consciência tranquila?, enquanto Aleson afirmou que, ao bater no imigrante com um taco de beisebol, "resolveu extravasar a raiva que estava sentindo?.
Dono diz que não conhece agressores e nega dívida
Mais de oito pessoas já prestaram depoimento à DH (Delegacia de Homicídios da Capital). Um dos ouvidos foi o dono do quiosque, que não teve a identidade revelada. Ele negou envolvimento no crime e disse que estava em casa no momento da agressão que resultou na morte de Moïse.
Um casal que prestou depoimento à Polícia Civil como testemunha do assassinato revelou, ainda, que acionou a Guarda Municipal para tentar salvar o homem, mas foi ignorado pelos agentes.
Segundo reportagem do jornalista Flávio Trindade, de "O Globo?, o casal tentou ajudar Moïse ao ver os três homens o espancando no quiosque Tropicália, na praia da Barra da Tijuca. Eles afirmaram à polícia que acionaram dois guardas municipais que estavam presentes no local, mas eles passaram direto.
O casal, então, voltou ao local para tentar ajudar por conta própria. Os agressores tentaram mantê-los afastado da vítima, mas nas imagens, a mulher aparece tentando reavivar o congolês com uma massagem cardíaca. Já era tarde.
Por Carolina Fortes na Revista Fórum
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