Instituto Pensar - ?Admirável Gado Novo?: Inep resiste e Enem traz questões que promovem reflexão social

?Admirável Gado Novo?: Inep resiste e Enem traz questões que promovem reflexão social

por: Mariane Del Rei 


Foto: Divulgação

Apesar de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer que a prova do Exame nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021, realizada neste domingo (21), teria a cara do governo atual, o Enem manteve suas características habituais com questões que promovem reflexão. A prova foi elogiada por educadores, que exaltaram a resiliência dos servidores que constroem o Inep independente das pressões do governo. Questões vetadas pelo governo teriam sido substituídas por outras de teor muito similar.

Uma questão que chamou bastante atenção nas redes sociais envolve a música Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho. A prova perguntava qual comportamento coletivo o compositor queria dizer com os versos da massa que seguia adiante como gado. A resposta seria a passividade social. Essa canção foi lançada em 1979, período em que vigorava a ditadura militar.

"Parabéns aos servidores que resistiram a esse governo atual, bem como sua interferência, e trouxeram questões de relevância para o #Enem2021. Abordar racismo, leitura crítica de notícias, emancipação feminina, aumento da população carcerária, questões indígenas, é fundamental?, disse o professor e ativista Jonas Di Andrade no Twitter.

Daniel Cara, dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, destacou que a manutenção da estrutura do Enem se deve à existência do Banco Nacional de Itens (BNI). "Bolsonaro manda tirar um item, entra outro do BNI. E todos os itens precisam ser pré-testados. Isso se chama Serviço Público?, tuitou.

Foram 90 questões de múltipla escolha divididas entre linguagens, códigos e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias, além da redação. Nenhuma questão da prova abordou a ditadura militar no país. Desde o início do governo Bolsonaro, o período histórico foi suprimido da prova.

Análise de professores de cursinho feita à Folha de S. Paulo é de que a prova não veio com a "cara do governo?, como disse Jair Bolsonaro e trouxe questões que abordaram minorias e direitos humanos. "Apesar das críticas do presidente, alguns temas resistiram e foram abordados na prova. Não houve nenhuma menção ao grupo LGBTQIA+, mas as questões falaram sobre indígenas, quilombolas, discriminação às mulheres, racismo. É muito importante ver que esses temas permanecem no exame?, afirmou o gerente de processos avaliativos da SAS Plataforma de Educação, Gabryel Real. 

"Invisibilidade e registro civil? é tema de redação

O tema da redação do Enem de 2021 é "invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil?. A escolha do tema, que trata de grave problemática social, foi celebrada por educadores. "Como previsto, Bolsonaro quebrou a cara. Tema da redação: ?Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil?. O Enem é fruto da resistência dos servidores. Não podemos parar de repetir isso. Não podemos parar de defendê-los?, escreveu Daniel Cara, dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, no Twitter.

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A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, também aproveitou o tema para criticar a política social do governo Bolsonaro. "Num governo que nos nega o acesso à educação, saúde e direitos básicos, os estudantes terão que falar sobre os desafios de se conseguir ser um cidadão no nosso país?, tuitou.

"Para garantir o acesso ao registro civil no Brasil é obrigatório se pensar em políticas públicas que incluam a população LGBT, povos originários e pessoas que estão em locais isolados. E a pergunta que fica: quanto o governo Bolsonaro fez??, completou Brelaz.

Crise no Enem

O Enem viveu uma crise nos últimos dias, principalmente após um desligamento em série de 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) depois do pedido de exoneração do coordenador-geral de exames para certificação, Eduardo Carvalho Sousa, e do coordenador-geral de logística da aplicação, Hélio Junior Rocha Morais.

Servidores do órgão responsável pelo exame afirmaram à imprensa que sofreram pressão psicológica e vigilância velada na formulação do Enem 2021 para que evitassem escolher questões polêmicas que eventualmente incomodariam o governo Bolsonaro.

Segundo eles, houve tentativas de interferência no conteúdo das provas, situações de intimidação e despreparo do presidente do órgão, Danilo Dupas. O foco principal dessa intervenção seria as questões de história recente, em especial sobre a ditadura militar.

Durante viagem internacional aos Emirados Árabes, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou que teria interferido no Enem para que a prova tivesse "a cara do governo?.




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