Negros têm mais risco de morrer de covid mesmo no topo da pirâmide social
O risco de morrer de covid-19 é significativamente maior para homens negros e mulheres brancas e negras do que para homens brancos no Brasil, de acordo com um grupo de pesquisadores que analisou estatísticas oficiais sobre milhares de brasileiros mortos no ano passado. A reportagem é do jornal Folha de S. Paulo.
Ligado à Rede de Pesquisa Solidária, que reúne várias instituições públicas e privadas, o grupo concluiu que as desigualdades raciais e de gênero contribuem para aumentar o risco de morte mesmo em grupos de pessoas com atividades profissionais que as colocam no topo da pirâmide social.
"Pensávamos que a mortalidade dos negros era maior porque trabalhavam em atividades mais expostas ao vírus, mas nem sempre isso é verdade?, diz o sociólogo Ian Prates, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e coordenador do grupo responsável pelo estudo.
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De acordo com a reportagem, os pesquisadores examinaram dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, sobre 67,5 mil pessoas que morreram de covid-19 no ano passado, amostra equivalente a um terço de todas as mortes causadas pelo coronavírus notificadas no período.
Em números absolutos, houve mais mortes por covid em grupos ocupacionais que são grandes empregadores, como comércio e serviços (6.420), agricultura (3.384) e transportes (3.367), mas o estudo mostra que alguns setores foram muito mais afetados em termos relativos.
Mulheres brancas X covid
No caso das mulheres brancas, o estudo mostra que o risco de morrer de covid é menor que o dos homens brancos para aquelas que pertencem a grupos ocupacionais de nível superior e maior para atividades que exigem menos instrução. Em geral, o risco é menor que o das mulheres negras.
Nos serviços domésticos, o risco de morte para mulheres brancas é 73% maior do que o dos homens brancos, dizem os pesquisadores. A situação se inverte no topo da escala social. O risco é 39% menor para advogadas e 22% menor para mulheres em posições gerenciais e cargos de direção.
Para os autores do estudo, a vantagem das mulheres sobre os homens no topo pode ser explicada pelo hábito que elas têm de manter em dia cuidados preventivos com a saúde, ao contrário dos homens, que tendem a postergar visitas aos médicos, de acordo com especialistas em saúde pública.
Nos grupos ocupacionais da base da pirâmide, a perda de acesso a serviços de saúde e a sobrecarga de tarefas com cuidados de crianças e idosos durante a pandemia pode ter tornado muitas mulheres mais vulneráveis diante dos riscos criados pela covid, dizem os pesquisadores do grupo.
Com informações da Folha de S. Paulo
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