Instituto Pensar - Crise hídrica no Brasil deve parar sub-bacia Tietê-Paraná em agosto

Crise hídrica no Brasil deve parar sub-bacia Tietê-Paraná em agosto

por: Michelle Portela 


Hidrelétrica de Itaipu tem menor geração de energia em 27 anos Foto: Alan Santos/PR

A bacia do rio Paraná, que alimenta a maior hidrelétrica brasileira, a binacional Itaipu, passa pela pior crise hídrica em 91 anos devido ao prolongado período de seca no Brasil. A situação dificulta o transporte de commodities como grãos e minérios para o mercado global.

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O segundo maior rio da América do Sul, que alimenta a região industrializada mais ao sul do país de energia e água, bem como dá suporte a países vizinhos já afetados profundamente pela seca, operou em junho com média 55% abaixo do esperado para o mês, segundo a série histórica.

As consequências da crise hídrica avançam também em outros países e a recuada no nível dos reservatórios já causa interferências na cadeias de suprimentos e gargalos na Argentina, a maior exportadora de farinha de soja do mundo, e no Paraguai. O Brasil é o maior exportador de grãos de soja, café e açúcar e o segundo maior fornecedor de aço e milho.

O Brasil aprovou uma medida provisória para autorizar esforços temporários e excepcionais para otimizar o uso de recursos hidroenergéticos e garantir o abastecimento de energia enquanto o Brasil enfrenta uma de suas priores crises hídricas.

Editada dia 28 de junho deste ano, a Medida Provisória (MP) 1.055/2021 foi publicada após o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitir alerta de emergência hídrica para a região hidrográfica da bacia do Paraná, que responde por mais de 50% da capacidade de armazenamento de água para geração hidrelétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) e abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

Sub-bacia do Tietê-Paraná são as mais afetadas

A sub-bacia Tiete-Paraná, que transporta grãos e oleaginosas do cinturão superior de culturas do Brasil para os terminais de exportação, está perto de interromper as atividades pela primeira vez desde a última seca severa, em 2014, disse Luizio Rizzo Rocha, vice-presidente da Federação Nacional de Empresas de Navegação Aquaviária.

Ele aponta ainda que o nível de água em um trecho-chave da hidrovia, conhecido como Avanhandava, ficou um pouco abaixo do recomendado para a navegação. A paralisação da hidrovia Tietê-Paraná a partir de julho foi, inclusise, listada como "necessária? pelo presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, durante audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, no dia 15 de julho.

Na ocasião, foram apresentados dois cenários: a paralisação da via ou a redução do calado dos navios que navegam na hidrovia, o que reduz a capacidade de transporte. "Estamos discutindo essa ação a nível federal através do Ministério da Infraestrutura, e com o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Também já falamos com o governo de São Paulo para que a gente possa fazer isso de forma controlada e planejada?, disse.

Na última segunda-feira (26), o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse que, a partir de agosto, a hidrovia Tietê-Paraná deve ter a movimentação de cargas interrompida em função da necessidade de reservar recursos hídricos para a geração de energia elétrica.

"Chega um ponto, como a crise é muito severa, em que a  gente vai ter que fazer uma opção. Ou a gente reserva a água para gerar energia ou a gente mantém a hidrovia operando. Quando a gente coloca na balança prós e contras dessas duas opções, nós vamos poupar água para gerar energia. Então, acredito que agora em agosto a gente já vai ter que realmente segurar mais água e isso vai impedir a movimentação no Tietê?.
Tarcísio Freitas

O ministro reconhece que o fechamento da hidrovia implicará aumento de custos, mas ressalta que há opções logísticas na área. "Na questão da hidrovia, nós temos modos substitutos; na energia, não. Eu posso transportar de caminhão e, no caso da hidrovia Tietê-Paraná, eu tenho a ferrovia chegando lá, eu tenho a rodovia?.

Crise hídrica agrava margem do reservatório

O nível de chuvas abaixo do normal deixou um gargalo pelo segundo ano seguido na hidrovia Paraguai-Paraná, usada pela Vale como uma alternativa de transportes mais barata que estradas ou ferrovias. O transporte de cargas está no pior momento da série histórica, levantada pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) desde 2010.

"A hidrovia Paraguai-Paraná também corre risco de parada de navegação. As embarcações já estão transportanto uma capacidade menor que há um ano, o que aumenta o tempo e os cursos de transporte.?
José Renato Ribas Fialho, superintendente de performances da Antaq

Caminhões de mineração estão lotando a principal rodovia da região e acidentes se tornaram frequentes, segundo Jesse do Carmo, presidente de um sindicato local de funcionários de mineradoras. A Vale afirmou que está usando embarcações de baixo calado no rio, e também optou pelo transporte de minérios por rodovias e ferrovias de forma a atender os clientes dentro e fora do Brasil de forma segura e legal.

O Rio Madeira, hidrovia ao sul da Região Amazônica responsável por transportar grãos e oleaginosas, também passa por um período de secas superior ao esperado para esta época do ano. A Transportes Bertolini, uma importante empresa de logística que opera na localidade, planeja reduzir as cargas pela metade, um mês antes que a estação seca do ano passado, afirmou o presidente da companhia, Irani Bertolini, em entrevista por telefone à Bloomberg.

Com informações de O Globo, Canal Rural e Agência Câmara de Notícias



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