Instituto Pensar - ?As cidades criativas devem reter e atrair talentos?, diz Gina Paladino

?As cidades criativas devem reter e atrair talentos?, diz Gina Paladino

por: Tainã Gomes de Matos


Foto: Acervo Pessoal Gina Paladino

Em entrevista exclusiva para o Socialismo Criativo, a especialista em economia criativa, Gina Paladino explica que apesar de muitas cidades terem projetos inovadores, não significa que elas sejam criativas. Segundo ela, é preciso pensar a cidade como algo que faz parte da vida das pessoas e que facilite a experiência cidadã. 

O debate em torno da economia criativa e, mais especificamente sobre cidades criativas, volta a ganhar destaque global depois das mudanças advindas da pandemia da Covid-19. O isolamento social e as modificações no comportamento dos cidadãos refletem diretamente nos centros urbanos, que precisam oferecer soluções para as novas formas de convívio, qualidade de vida de seus habitantes, além de garantir o uso sustentável dos recursos naturais. 

Confira a entrevista com Gina Paladino

Ela explica ainda que existem uma série de instrumentos e de políticas públicas que são necessárias para que uma cidade avance em direção à criatividade urbana. 

"Para ser criativa, a cidade deve ter condições e capacidade de reter os seus talentos. As pessoas que são criativas devem  ficar na cidade, elas não podem se mudar porque assim você acaba perdendo um ativo muito importante que é a mente humana. Além de reter, é preciso também atrair pessoas criativas dando condições para elas atuarem?, disse. 

Segundo Gina, o ser humano, enquanto cidadão, tem papel fundamental na provocação do poder público para que uma cidade seja classificada como criativa. Para ela, o cidadão organizado em entidades e associações, principalmente as associações das classes criativas, têm o poder de levantar o debate e incentivar a reflexão sobre o planejamento urbano. 

"Posso citar com exemplo as associações dos arquitetos que funcionam nas cidades brasileiras. Elas são fundamentais nesse processo. As entidades representativas dos designers, os centros da moda. As entidades que estejam ligadas a essas  "classes criativas? têm um papel muito forte e podem, sim, chamar a atenção do governo?, explica. 

Setor privado e sociedade civil 

A especialista destaca também a participação do setor privado e da sociedade civil na construção de uma cidade criativa. De acordo com ela, as parcerias público privadas, as PPPs, são capazes de alavancar o desenvolvimento dessas cidades.

"Nas melhores experiências criativas pelo mundo, a gente percebe que a aliança público privada é fundamental para a evolução  da economia criativa e para consolidação dos diferentes modelos de cidades?, completou. 

Cidades criativas e a desigualdade social 

Existem vários estudos de especialistas que demonstram que a economia criativa é um segmento da economia considerado muito generoso, aberto, acolhedor e inclusivo. Gina ressalta que muitos empreendimentos das classes criativas nascem pequenos e com pouco capital e que ao longo do processo vão ganhando corpo. 

"A maior parte dos empreendimentos da economia criativa, da área do artesanato, do patrimônio histórico, da fotografia, da moda, do design, da arquitetura eles nascem pequenos com pouca verba. Assim, conclui-se que pessoas com baixo poder aquisitivo podem se lançar nesse segmento. A economia criativa é inclusiva e ajuda que as pessoas sejam incorporadas no mercado de trabalho como  empreendedores?, afirmou a especialista.  

Cidades Criativas na Pandemia 

Gina Paladino destacou que a pandemia da Covid-19 abalou as classes criativas e que o futuro dos processos que já estavam em andamento ainda é incerto. Segundo ela, os especialistas da área estão fazendo estudos e pesquisas nesse sentido exatamente para entender o quanto, como e quando será a pós pandemia,

"Nós não sabemos ainda como se dará o futuro da economia criativa.Estamos ainda em pleno processo da pandemia e ainda não está claro como ficará, por exemplo, os projetos da economia da cultura. Se a gente pegar o segmento do audiovisual, a maioria dos cinemas ainda continua fechada e os projetos estão comprometidos?, disse. 

A economista aposta no retorno das atividades presenciais logo após a imunização em massa e que os projetos de criatividade urbana serão impulsionados novamente. Ela afirma ainda que a pandemia trouxe o fenômeno da digitalização em várias setores que antes eram 100% presenciais 

"Não há incompatibilidade entre os serviços presenciais e online na maioria dos casos. O artesanato, por exemplo, pode ser feito à mão e vendido de maneira online. Acredito que vários segmentos da economia criativa continuarão operando online e também na presencial naquilo que for possível?, opinou. 

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Tendências na área da criatividade urbana 

Quando falamos de cidades criativas, há no mundo a tendência da formação de clusters, ou seja, nichos dentro da própria cidade que são trabalhados de maneira isolada. 

"Quase nunca veremos uma cidade totalmente criativa. A gente trabalha com regiões dentro da própria cidade e à medida que o projeto vai dando certo ampliamos para o resto centro urbano?, disse. 

Para ela, a divisão por clusters se faz necessária porque as cidades são organismos complexos que têm vários interesses. "Se você fizer um projeto muito ousado provavelmente não terá recursos financeiros para fazer algo muito abrangente. Por isso a divisão por distritos criativos?, completou. 

As cidades mais competitivas do mundo, na visão da especialista,  estão cada vez mais dominadas por inovações que substituem recursos naturais não renováveis pelos talentos do ser humano como insumo básico das suas economias. 

"A vitalidade empreendedora e criativa das pessoas se transforma no ativo essencial que garante a competitividade das cidades e, por consequência, a qualidade de vida das comunidades no mundo globalizado. Repensar as cidades é investir nas pessoas. Só cuidado dos nossos talentos é que será possível avançarmos enquanto cidades?, concluiu. 



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