Vítimas da covid-19 querem condenação criminal de Bolsonaro
por: Ana Paula Siqueira
Cansados do descaso do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com a vida dos brasileiros na pandemia da covid-19, que já matou mais de meio milhão de pessoas no Brasil, sobreviventes e familiares de vítimas da doença transformaram dor e indignação em luta. A recém criada Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico) quer que Bolsonaro responda criminalmente por sua política de morte.
Para isso, a primeira medida da Avico foi denunciar Bolsonaro na Procuradoria Geral da República (PGR) por negligência em relação à pandemia. Ação semelhante foi feita na Itália, em junho de 2020.
A entidade quer que a PGR ofereça denúncia contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de perigo para a vida ou saúde de outrem; subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento, infração de medida sanitária preventiva, emprego irregular de verbas públicas e prevaricação. Todos previstos no Código Penal.
"Estratégia cruel e sangrenta?
No documento de 33 páginas apresentado à PGR, a Avico diz que "é possível afirmar que a postura do representado Jair Messias Bolsonaro diante da pandemia evidencia uma estratégia federal cruel e sangrenta de disseminação da covid-19, perfazendo um ataque sem precedentes aos direitos humanos no Brasil?.
A representação, afirma a entidade, traz fartos argumentos que comprovam que, apesar das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de cientistas, Bolsonaro tomou decisões colocando deliberadamente em risco e levando à morte de brasileiros e brasileiras por Covid-19.
A representação resume em quatro blocos as ações do chefe do Executivo apontadas pela entidade como crimes: ineficiência na condução da vacinação; estímulo ao tratamento precoce de ineficácia comprovada com o "kit covid?; estímulo a aglomerações e à propagação de informações mentirosas; e gestão autoritária do Ministério da Saúde.
Sobrevivente
A associação foi criada a partir da indignação de dois amigos perante a ineficiência e negligência do Estado. O advogado Gustavo Bernardes e a assistente social Paola Falceta criaram a Avico em abril de 2021, em Porto Alegre (RS). Ambos vítimas e familiares de vítimas da covid-19.
No final de 2020, Gustavo, de 46 anos, enfrentou duras complicações da covid-19. Ele ficou intubado por dias e os médicos chegaram a duvidar se o paciente sobreviveria. "Me despedi da minha família por ligação de vídeo, antes de ser intubado. Um médico chegou a dizer para a minha irmã que achava que eu não resistiria?, disse à BBC.
O advogado se recuperou e recebeu alta hospitalar. Meses após viver o período mais difícil de sua vida, decidiu buscar a responsabilização daquele que aponta como o principal culpado pela dramática situação da pandemia no país: Bolsonaro.
Iniciativa coletiva
Gustavo é o presidente da Avico e explica que, apesar de a medida protocolada na PGR estar em seu nome, representa todas as pessoas que compõem a associação e tiveram quadro grave de covid-19 ou perderam familiares para a doença. "É uma iniciativa coletiva?, ressalta.
O advogado, que se considera uma pessoa saudável e sem fatores de risco para agravar a covid-19, chegou a ser desenganado pelos médicos. Após complicações, ele conseguiu melhorar e passou pelo procedimento de retirada do tubo, após 10 dias de intubação.
Foi quase um mês de internação. Em 20 de dezembro, ele recebeu alta e passou a lidar com as complicações deixadas pela covid-19.
"Tive lapso de memória, não reconhecia meu corpo, tive dores nas articulações, taquicardia e precisei reaprender a andar. Fiquei na casa da minha família e recebi apoio para evoluir.?
Gustavo Bernardes
Pior momento da vida
Enquanto o advogado enfrentava a recuperação em casa, uma amiga, a assistente social Paola Falceta, começava a viver a fase mais difícil de sua vida. No fim de janeiro de 2021, a mãe de Paola, Italira Falceta, de 81 anos, foi internada em um hospital público de Porto Alegre para fazer uma cirurgia cardiovascular.
Após o procedimento cirúrgico, a idosa foi encaminhada para um quarto coletivo na unidade de saúde. A assistente social acredita que foi justamente nesse período que a mãe foi infectada. "Um dos médicos testou positivo. Depois, escutamos vários outros casos de pessoas que também tinham testado positivo ali. E a minha mãe acabou pegando o coronavírus também?, relata Paola.
A assistente social, que passou alguns dias junto com a mãe após a cirurgia, também testou positivo para a covid-19, assim como a irmã dela e um sobrinho. Os três tiveram sintomas, mas se recuperaram. Já Italira não resistiu às complicações da doença.
Dor em meio ao colapso
Paola relata que os últimos dias de vida da mãe foram traumáticos. Na época, início de fevereiro, a região Sul do país começava a enfrentar o pior período da pandemia. Italira passou semanas em um quarto de isolamento na unidade de saúde. Não havia vaga em UTI para a idosa, por conta do colapso no sistema de saúde.
Caso a vacinação no Brasil tivesse começado antes e fosse mais rápida, acredita Paola, os pais poderiam ser imunizados antes da cirurgia de Italira. "E ela estaria com a gente até agora?, disse a assistente social à BBC.
A reportagem procurou o Palácio do Planalto, mas não teve resposta.
Com informações da BBC
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