Instituto Pensar - Convite a Crivella para ser embaixador gera desconforto no Itamaraty

Convite a Crivella para ser embaixador gera desconforto no Itamaraty

por: Mariane Del Rei


Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convidou o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), de quem é aliado político, para ser embaixador do Brasil na África do Sul. O convite foi feito há dois meses, após um encontro entre ambos no Palácio do Planalto. A informação causou desconforto no meio diplomático, que não vê com bons olhos o deslocamento de Sergio Danese, que assumiu o posto há cerca de cinco meses.

Segundo notícia publicada pelo jornal Correio Braziliense, o governo brasileiro pediu "agrément? à África do Sul, para que as autoridades daquele país aprovem o nome de Crivella. O Itamaraty não se manifestou, alegando sigilo.

O convite foi feito no Palácio do Planalto, em um reunião que contou com a presença de Dona Sylvia, mulher do ex-prefeito. Ela aprovou a ideia, pois conhece bem a África do Sul, assim como os filhos do casal, que chegaram a viver no país. Crivella chegou a publicar um livro chamado "Evangelizando a África?, publicado no fim dos anos 1990.

Antes do encontro, a possibilidade havia sido levada ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) por intermédio do jornalista Cláudio Magnavita. Como Flávio tem boa relação com o ex-prefeito, levou o assunto ao conhecimento do pai, que também é próximo de Crivella.

Bolsonaro avalia que o atual embaixador da África do Sul, Sergio Danese ? que assumiu o posto em dezembro de 2020 ? está lá "há pouco tempo? e não teria dificuldade de ser deslocado para outro país.

Embaixada seria "autoexílio? para Crivella

Crivella, que não conseguiu se reeleger prefeito, não descarta disputar a eleição do ano que vem, mas integrantes da Igreja Universal querem que ele se candidate a deputado federal. Por já ter sido senador e prefeito, contudo, só está disposto a disputar 2022 se for ao Senado. Nesse caso, iria se desincompatibilizar e voltaria para o Brasil em abril. Do contrário, planeja permanecer na África do Sul e apostar as fichas na reeleição de Bolsonaro.

Crivella tem sido aconselhado por amigos a ir para África do Sul como uma forma de "autoexílio?, como para "se reinventar? (ele chegou a ser preso meses atrás). Também seria uma forma de prestigiar o bispo Edir Macedo, tio de Crivella e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.

Leia tambémBolsonaro quer dobrar bancada evangélica no Senado em 2022

Macedo deu sinais, há algumas semanas, de que poderia romper com Bolsonaro, sob a alegação de que o Itamaraty não teria dado apoio à instituição em um conflito com o governo de Angola e religiosos locais. Representantes da Igreja Universal naquele país foram denunciados sob acusação de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e associação criminosa

O fato de Bolsonaro estar pessoalmente empenhado faz com que aliados de Crivella aguardem um retorno rápido das autoridades da África do Sul. Quando deixou o PSL, Flávio migrou para o Republicanos por empenho de Crivella, que apostou suas fichas na vinculação com o clã Bolsonaro para tentar se reeleger ? sem sucesso.

Situação diplomática do Brasil pode se complicar

De acordo com fontes da área diplomática, além da questão delicada de deslocar um embaixador que assumiu o posto há pouco tempo em Pretória, existe a preocupação de Crivella passar a representar os interesses da Igreja Universal naquele país, e não do Estado brasileiro. Isso poderia até ser motivo para o governo sul-africano rejeitar a indicação do ex-prefeito, avaliam diplomatas.

Em uma avaliação interna, se a África do Sul conceder o agrément e Crivella passar pelo Senado, a situação diplomática do Brasil no continente pode se complicar. A Igreja Universal vem enfrentando desgastes em vários países da África Austral. Recentemente, houve a expulsão de 34  bispos e/ou pastores de Angola e há problemas na Zâmbia e em Moçambique.

A África do Sul é a maior economia da África Austral e país membro do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Suul).  Exerce grande liderança no continente africano e também entre as nações em desenvolvimento. É considerado um país-chave para a política externa brasileira.

Com informações do jornal O Globo



0 Comentário:


Nome: Em:
Mensagem: