CPI da Pandemia: Pazuello cumpriu missão e deixou 300 mil mortos
por: Iara Vidal
"Missão cumprida?, respondeu o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello sobre o motivo de sua demissão do Ministério da Saúde durante depoimento à CPI da Pandemia do Senado nesta quarta-feira (19). A perguntas foi feita ao general pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL). Foi o mais longo questionamento feito pelo senador até agora.
O general passou mal e a reunião prosseguirá na manhã desta quinta-feira (20), a partir das 9h. Há 23 senadores inscritos para fazer perguntas ao ex-ministro. O depoimento de Mayra Pinheiro foi transferido para a próxima terça-feira (25).
Socialistas comentam missão cumprida por Pazuello
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) destacou a resposta do do ex-ministro durante o depoimento à CPI, sobre o motivo de ter sido demitido. "Ao deixar o cargo, quase 300 mil brasileiros já tinham morrido de Covid-19?, ressaltou o socialista.
A deputada Lídice da Mata (PSB-BA) comentou o fato de o general ter passado mal. "Imagina esse homem comandando um tropa em um conflito bélico?, ironizou.
O deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ) também comentou o depoimento do ex-ministro à CPI da Pandemia.
"Pezadello mente: obedece a seu amo obscurantista, curanderista! Obstruiu a VaChina ? que salva vidas, comprou cloroquina- inócua. Sua omissão no Oxigênio asfixiou população. Ação criminosa de Salles devasta Amazônia, ameaça o Clima. Sigilo quebrado: cairá.?
Carlos Minc
Relator desmentiu Pazuello sobre compra de vacinas
Pazuello afirmou que decidiu fechar contrato para a compra de vacinas do laboratório estadunidense Pfizer em dezembro, a despeito de manifestações contrárias do Tribunal de Contas da União (TCU), da Advocacia Geral da União (AGU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) qualificadas por ele como "cláusulas assustadoras? impostas pela farmacêutica.
Mas a informação do general sobre a posição desses órgãos de controle acabou desmentida pelos senadores Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, e Eduardo Braga (MDB-AM). Minutos após a fala de Pazuello, Renan leu uma manifestação oficial do TCU dando conta de que o órgão jamais se posicionou contrariamente à compra das vacinas. A leitura da manifestação do tribunal de contas fez com que Pazuello se retratasse em público.
Em seguida, Braga leu pareceres da AGU e da CGU, feitos após o envio do memorando de entendimento (MoU, na sigla em inglês) com a Pfizer no mês de dezembro, em que os órgãos também não se dizem contrários à compra das vacinas. O parecer da AGU esclarece "não haver óbices jurídicos intransponíveis? na minuta e a CGU a define como "viável?, especialmente devido ao forte agravamento da pandemia.
"Da mesma forma que o general equivocou-se sobre o TCU, me parece que também sobre a AGU e a CGU. Tenho aqui a decisão da CGU e da AGU, onde, no da AGU, diz: "Parecer no sentido de entender não haver óbices jurídicos intransponíveis à assinatura dos contratos de aquisição de doses de vacinas?.
"E aqui a CGU, que diz no seu último parágrafo: "Nesse contexto, considerando riscos da saúde pública ora vivenciados em território nacional, bem como a necessidade de se ampliar os meios de combate à pandemia, com o desenvolvimento de medidas para expandir a oferta e abrangência das campanhas de vacinação, entende-se que as assinaturas dos contratos se demonstram viáveis?.
"Portanto, precisamos deixar claro que tanto a AGU como a CGU e o Tribunal de Contas não decidiram contra a assinatura dos contratos.?
Eduardo Braga
Na resposta ao senador, Pazuello apegou-se aos ajustes legislativos recomendados pela AGU em relação a algumas cláusulas contratuais, para seu entendimento de que a manifestação do órgão teria sido contrária. Mas não se manifestou novamente sobre o parecer da CGU. O senador então voltou a reiterar que os órgãos de controle não foram contrários à compra das vacinas e que "milhares de brasileiros morriam enquanto o governo não encaminhava nem sequer os ajustes legislativos recomendados?. A manifestação de Braga teve a concordância de Renan.
"Cláusulas assustadoras", avaliou Pazuello
Antes da polêmica relativa à posição dos órgãos de controle, Pazuello disse que foram as "cláusulas assustadoras? impostas pela Pfizer que atrasaram o fechamento do contrato. O ex-ministro disse que o ministério sempre respondeu às ofertas de contrato feitas pela empresa e que os dados relativos a essas negociações poderão ser enviados à CPI.
Segundo o ex-ministro, as cláusulas seriam "assustadoras?, mas isso não impediu ao final as assinaturas dos contratos, feitos alguns ajustes legislativos. Outros problemas nas negociações iniciais com a Pfizer apontados por Pazuello foram o fato de a farmacêutica não compartilhar tecnologia e a pequena quantidade de doses de vacinas ofertadas.
Pazuello informou que a primeira proposta da Pfizer foi o Memorando de Entendimentos (MoU) com cinco cláusulas que eram, segundo ele, "assustadoras?. Ele argumentou que as coisas têm que ser olhadas com "aquele momento?. O ex-ministro relatou que estava em discussão uma encomenda tecnológica da [vacina de] Oxford que chegaria a 200 milhões de doses este ano; com [o consórcio] Covax Facility 42 milhões de doses.
"E a Pfizer nos colocando um primeiro semestre de 18 milhões de doses, com foco no final do primeiro semestre, e nos colocando cinco cláusulas complicadíssimas. Os senhores todos conhecem: estávamos falando de ativos brasileiros no exterior e fundos, da isenção completa da responsabilidade por efeitos colaterais e da transferência do fórum para julgamento das ações em Nova Iorque. Estávamos falando de pagamento adiantado, de assinatura do presidente da República em contrato, coisa que não existe na nossa legislação, e de não haverem multas quanto a atrasos de entrega.?
Eduardo Pazuello
General deixou de responder a sete ofertas da Pfizer
Renan também retrucou essa explicação. O relator disse que o Ministério da Saúde deixou de responder a sete ofertas feitas pela farmacêutica entre agosto e dezembro, sem nem sequer acionar os órgãos de controle durante aquele período. Na resposta, Pazuello disse que as tratativas com a farmacêutica continuaram também durante esse período e que os dados relativos a essas "intensas negociações? poderão ser enviados à CPI.
Renan então lembrou que a falta de respostas do ministério às ofertas da Pfizer foram confirmadas por Carlos Murillo, ex-CEO do laboratório no Brasil, em depoimento à comissão na quinta-feira (13). Diante da contradição, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), cogitou pedir uma futura acareação entre Pazuello e Murillo para esclarecer a questão.
Com informações da Agência Senado
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