Instituto Pensar - Queda de foguete chinês reacende debate sobre lixo espacial

Queda de foguete chinês reacende debate sobre lixo espacial

por: Vitoria Carvalho


Foto: Reprodução/Olhar Digital

Destroços do foguete chinês Long March 5B que levaram à órbita terrestre um módulo da nova estação espacial da China caíram no Oceano Índico, próximo às Ilhas Maldivas. A reentrada dos detritos na Terra reacendeu a discussão a respeito do lixo espacial proveniente da exploração do universo realizada por diferentes nações e, mais recentemente, por empresas privadas como a SpaceX, do bilionário Elon Musk.

Especialistas militares dos Estados Unidos observaram a reentrada do foguete chinês com grande preocupação e alertaram que era difícil prever onde e quando os destroços voltariam ao planeta ? além de quanto material poderia atingir o solo, uma vez que o foguete, quando lançado, pesava 185 toneladas. O cálculo de retorno dava conta de que cerca de 20 toneladas de lixo espacial poderia voltar à Terra e poderia até mesmo atingir algum avião durante a queda.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, por sua vez, agiu com calma, afirmando que a probabilidade de o retorno do foguete causar danos às atividades da aviação ou em pessoas e atividades no solo era extremamente baixa.

Retorno de lixo espacial

Antes da queda do foguete, Song Zhongping, especialista chinês em assuntos aeroespaciais, disse ao jornal estatal chinês Global Times que o retorno à Terra de restos de foguetes é completamente normal ? sejam eles de qualquer nação ou empresa. Song afirmou que a rede de monitoramento espacial da China também manteria vigilância sobre as áreas cobertas pelo curso de voo do foguete e tomaria as medidas necessárias caso ocorresse algum dano aos navios que utilizassem a rota.

Para Song, a fala dos militares do Pentágono era mais um velho truque ocidental usado por potências hostis sempre que observam avanços tecnológicos na China.

"Enquanto a China permanecer aberta e transparente para a sociedade internacional, esses rumores serão naturalmente feitos em pedaços.?
Song Zhongping

Lixo espacial e sustentabilidade

A questão mais ampla levantada no debate sobre lixo proveniente da exploração espacial é a respeito do espaço estar sendo alvo não apenas de programas espaciais nacionais, mas também do setor privado. De acordo com um tratado internacional, os atores espaciais privados ? que devem colocar em torno de 45 mil satélites na órbita baixa da Terra nos próximos anos ? estão sob responsabilidade legal de seus países anfitriões.

Atualmente cerca de 9 mil e 300 toneladas de lixo espacial está em órbita e as possíveis colisões são uma questão preocupante. Em abril, controladores da SpaceX na Califórnia alertaram astronautas em órbita para colocarem seus trajes espaciais e voltarem a seus assentos. O aviso ocorreu porque um pedaço de detrito espacial poderia atingir sua nave. Antes, um pedaço de tinta do tamanho de uma unha atingiu o para-brisa de um ônibus espacial, perfurando duas de suas três camadas de vidro.

"Os detritos espaciais são conhecidos há algum tempo, mas agora temos mais competição no espaço. Não há apenas duas nações com viagens espaciais ? os chineses são muito importantes, assim como a Agência Espacial Européia, entre outros. Quando você tem mais atores e mais peças, fica mais complicado?, disse ao The Guardian Joanne Gabrynowicz, professora do Centro Nacional de Sensoriamento Remoto, Direito Aéreo e Espacial do Mississippi Law Center, nos Estados Unidos.

Risco eminente de colisões

Especialistas já expressam sua preocupação com o risco de colisões no espaço desde 2009, quando dois satélites ? o Iridium 33 e o abandonado satélite militar russo Kosmos-2251 ? colidiram acidentalmente sobre a Sibéria, quebrando ambos em milhares de pedaços.

Agência Espacial Europeia organizou uma grande conferência sobre o assunto no mês passado. De acordo com a agência, cerca de 6.900 dos 11.370 satélites colocados na órbita da Terra ainda estão circulando, com aproximadamente 4.000 deles em funcionamento.

O número de entulhos regularmente rastreados pela Rede de Vigilância Espacial, no entanto, é de 28.160. Esses objetos são responsáveis por mais de 560 rupturas, explosões, colisões e eventos anômalos que resultam em fragmentação na órbita terrestre. É uma questão global.

Empresas como a britânica Astroscale estão se preparando para enfrentar o problema de detritos com serviços comerciais de coleta de lixo espacial. A companhia está com um veículo chamado "ELSA-d? na órbita inferior da Terra, buscando mostrar que a limpeza de detritos espaciais é possível, embora seja uma tarefa terrivelmente difícil.

Com informações do TecMundo



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