Instituto Pensar - Criptolavagem: moedas virtuais servem ao crime organizado

Criptolavagem: moedas virtuais servem ao crime organizado

por: Laura Moschoutis 


Criptolavagem: um novo método para um velho crime. Foto: Thomas Trutschel/Getty Images

O investimento em criptomoedas, conhecidas como bitcoins, tem sido utilizado para facilitar um crime antigo: a lavagem de dinheiro. Investigações apontam que o uso da nova moeda, de fácil transação internacional e pouca regulamentação, para "legalizar? dinheiro obtido de forma ilegal, tem criado operações criminosas gigantescas no Brasil e no mundo. A prática é conhecida como criptolavagem.

Segundo a Polícia Federal, apesar de investir em criptomoedas não ser crime no Brasil, a falta de regulamentação desse mercado pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tornou os criptoativos a nova "coqueluche da lavagem de dinheiro? no país.

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O que são as bitcoins

O nome é familiar para muitos, mas boa parte da população ainda não compreende exatamente do que se trata o termo, e nem as dimensões de valores que ele carrega. Na cotação desta terça-feira (18), por exemplo, uma bitcoin está valendo cerca de 231 mil reais.

Trata-se de um tipo de moeda virtual também chamado de criptomoeda. Como se fosse uma espécie de dinheiro da internet, as criptomoedas não possuem um sistema centralizado de controle sobre as transações realizadas, diferente das moedas reais. No Brasil, o real é regulamentado pelo Banco Central, que tem o poder de fiscalizar movimentações financeiras e até rastrear o dinheiro emitido, de forma que dificulta a transação financeira ilegal. 

A lavagem de dinheiro, esquema que troca dinheiro de origem ilícita por notas supostamente legais, dificulta o rastreio de operações criminosas. Com as bitcoins, a chamada criptolavagem surge, facilitando esse processo.  

Criptolavagem

A criptolavagem utiliza a criptomoeda para servir a criminosos em duas frentes. Uma para ocultar o dinheiro de origem ilícita, outra para movimentá-lo livremente pelo mundo. Essas movimentações, chamadas de bitcoin-cabo no Brasil, funcionam de seguinte forma: o doleiro deposita determinada quantia em reais na conta de uma corretora, que converte o valor em bitcoin e fornece um código para o depositante. 

Com essa senha, é possível sacar o valor equivalente em dólar ou euro por meio de outra corretora no exterior. "O dinheiro é transferido sem o controle do Banco Central, muito menos o pagamento de impostos?, diz o procurador Leandro Bastos Nunes, do Ministério Público Federal (MPF), especialista na investigação de transações com criptoativos. "Trata-se de um caso claro de lavagem de dinheiro e evasão de divisas?, completa o procurador.

Gigantes do tráfico utilizam o sistema

Uma operação da Polícia Federal em 2018 desmontou um gigantesco esquema de criptolavagem. A partir da investigação sobre um narcotraficante de grande porte no Rio Grande do Sul, Marino Brum, a polícia chegou até o chinês Jiamin Zhang, responsável por operações bilionárias para limpar dinheiro no Brasil e no mundo. 

Após a criação de empresas na Espanha sob o nome falso de Guo, Zhang veio para São Paulo com a mesma identidade e instalou uma loja de importação de roupas no bairro do Brás. A vida de comerciante serviu para esconder a atividade mais lucrativa de Zhang: as operações de dólar-cabo cruzadas entre comerciantes do Brás e da Rua 25 de Março, em São Paulo, que precisavam pagar pelas mercadorias adquiridas na China, e narcotraficantes que queriam receber no Brasil o pagamento pela cocaína fornecida para a Europa. 

Segundo operação da PF, Zhang recebia os valores dos comerciantes no Brasil e entregava para os traficantes; ao mesmo tempo, recebia nas empresas dele na Espanha o pagamento em dólar ou euro dos compradores europeus da droga e enviava para a China, pagando os fornecedores de mercadoria dos lojistas da 25 de Março e do Brás.

Bilhões movimentados pela criptolavagem

Para Brum, que mesmo preso permaneceu no comando da sua rede de tráfico de cocaína e lavagem de dinheiro por meio de celulares manuseados de dentro da cela, Zhang possibilitou pagamentos para os compradores dos ilícitos traficados pelo gaúcho. Depois de casar as operações de dólar-cabo com os lojistas do comércio popular paulistano, o chinês depositava os reais em contas de empresas de fachada, em nome de laranjas. 

Em seguida, transferia os valores entre empresas, para simular uma atividade comercial, e devolvia o dinheiro já limpo para Brum, que investia na compra de imóveis, automóveis de luxo e embarcações, incluindo um iate avaliado em 2 milhões de reais. Em três anos, segundo a PF, Brum movimentou 1,4 bilhão de reais.

Com informações de Uol e Revista piauí



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