Dia Internacional dos Museus é marcado por reinvenção com tecnologia
por: Laura Moschoutis
A arte e a história do mundo estão no centro da pauta cultural nesta terça-feira (18). Em 2021, o tema central para celebrar o Dia Internacional dos Museusé "O Futuro dos Museus: Recuperar e Reimaginar".
A temática escolhida não poderia ser diferente. A pandemia da Covid-19 atingiu em cheio o funcionamento rotineiro de instituições ao redor do mundo, a saída para a sobrevivência das instituições tem sido a inovação e a criatividade.
A data foi instituída pelo Conselho Internacional de Museus (Icom), em 1977, com o objetivo de promover as instituições enquanto importante meio para o desenvolvimento de compreensão mútua, cooperação e paz entre os povos.
Pandemia impactou funcionamento de museus
A pandemia da Covid-19 obrigou as instituições, assim como muitos outros serviços, a fecharem as portas. Funcionários, pesquisadores, curadores, todos foram obrigados a trabalhar de casa ou fazer rodízios nos museus presencialmente.
Atividades internas foram mantidas, mas a visitação, principal fonte de renda ? por ingressos ? dos museus, principalmente particulares, foi encerrada, criando uma nova necessidade: manter o contato com o público e a própria existência dos espaços culturais.
Museus brasileiros enfrentam obstáculos
A política cultural no Brasil, agravada no atual governo, liderado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tem aumentado expressivamente as dificuldades de manutenção dos museus no país. Mesmo antes da pandemia, os investimentos no setor criativo já não correspondiam às necessidades do setor, criando condições críticas para manter as instituições em funcionamento.
O cenário tem sido catastrófico no que diz respeito ao investimento para manutenção de acervos históricos. A série de incêndios em museus no Brasil é um sintoma desse déficit.
Museu do Ipiranga, Museu da Língua Portuguesa, Cinemateca de São Paulo, Museu Nacional, considerado a maior tragédia museológica do Brasil, Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e acervo da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), todos sofreram com a falta de estrutura e proteção de seus acervos, em vários aspectos, irrecuperáveis.
Bolsonaro despreza Iphan
Além da não responsabilização de governos pelas catástrofes ocorridas e da diminuição (ao invés do necessário aumento) da destinação de recursos para os museus, pesquisadores precisam enfrentar ainda uma política governamental explícita de desmonte.
As declarações do atual chefe do executivo sobre o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) constroem um cenário desanimador para quem espera por mais investimentos.
Bolsonaro chegou a declarar que o Iphan atrapalhava o desenvolvimento do país. Em polêmica reunião ministerial, cujo conteúdo foi divulgado em 2019, o presidente declarou: "O Iphan para qualquer obra do Brasil, como parou a do Luciano Hang (empresário)?.
Bolsonaro ainda diminuiu a importância de descobertas arqueológicas "enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô, para a obra?, completou o conservador.
Inovação é a saída para isolamento social
A inovação tem sido a alternativa para driblar a imposição do isolamento social. Museus foram forçados a dialogar com o mundo pandêmico e criar novas conexões. A informatização dos acervos e a criação de novas formas de contato com o público tem sido priorizada pelas instituições com novos conteúdos para os sites oficiais, exposições virtuais, visitas remotas aos espaços dos museus, jogos interativos online, entre outras opções.
Enquanto isso, pesquisas de embasamento para ações futuras seguem centrais. Tanto para as atividades presenciais como para as atividades online que não devem cessar após a retomada da normalidade.
Impactos financeiros a museus
O déficit financeiro criado pela paralisação das atividades no ano de 2020, por sua vez, precisa ser revertido com urgência. Nos Estados Unidos, os museus agora podem vender suas obras de arte para compensar as perdas. Alguns querem aproveitar a oportunidade para renovar ou diversificar seu acervo, mas outros temem que isso afete suas exposições.
A prática, conhecida como "alienação", só era permitida para novas compras. Em abril de 2020 a proibição foi suspensa pela Associação Americana de Diretores de Museus de Arte (AAMD) por dois anos para ajudar no equilíbrio dos orçamentos.
Modernização e resistência
Apesar de enfrentar dificuldades duplas para manter o funcionamento, os museus do Brasil resistem. A recente descoberta de artefatos arqueológicos durante a reforma do Museu do Ipiranga, que sofreu um incêndio em setembro de 2018 e passa por reformas para modernização, ampliação e reabertura, estabeleceu o canteiro de obras como sítio de monitoramento arqueológico. Entre os objetos encontrados estão ossos, fragmentos de porcelana e objetos de uso pessoal.
Logo as descobertas tornaram-se conteúdo para divulgação do museu. Em parceria com a Scientia Consultoria Científica, os objetos encontrados são analisados e divulgados em série de postagens nas redes sociais do museu, garantindo contato da instituição com a população.
Outros museus brasileiros juntam-se às iniciativas internacionais e, utilizando a tecnologia, criam tours virtuais, disponibilizando acesso às exposições e espaços dos prédios sem fazer necessária a circulação de pessoas.
Esse tipo de medida não é positiva apenas para o enfrentamento do desmonte da cultura e das restrições da pandemia, mas também cria uma nova forma de democratizar o acesso e potencializar o conhecimento do que existe dentro dos museus brasileiros do trabalho que existe na manutenção de uma instituição desse tipo.
Economia Criativa
O Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) corrobora com a noção de que a economia criativa quando aplicada nos museus fomenta a relação museu-comunidade. Utilizar a economia criativa de forma que considere a função social das instituições, produzindo novas perspectivas de geração de renda pautadas em produtos e serviços, é considerado ponto central para projetar um futuro menos nebuloso para os museus.
Museus virtuais
Uma série de museus no Brasil e no mundo estão disponibilizando tours virtuais para a população acessar os espaços. Entre eles estão o Museu de Arte de São Paulo Assis Chsteaubriand (MASP), a Pinacoteca de São Paulo, o Museu do Louvre na França e muitos outros.
Para disponibilizar esse acesso, o Google criou uma plataforma chamada "Arts & Culture", que facilita as visitas aos espaços virtuais, além dos disponibilizados pelos próprios museus, como demonstram os links abaixo.
Museus no Brasil
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)
Museu Nacional do Rio de Janeiro
Museus internacionais
Metropolitan Museum de Nova York ? Estados Unidos
Museu Casa de Anne Frank ? Amsterdam
Com informações de G1, ArchDaily e Jornal da USP
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