Instituto Pensar - CPI da Pandemia: Wajngarten se defende com informações falsas

CPI da Pandemia: Wajngarten se defende com informações falsas

por: Da Redação


O ex-secretário de Comunicação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) Fabio Wajngarten prestou depoimento nesta quarta-feira (12) à CPI da Pandemia no Senado. A agência de checagem Aos Fatos checou as declarações feitas pelo ex-titular da Secretaria de Comunicação.

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Wajngarten foi convocado em razão de uma entrevista à Veja, em abril, em que atribuiu a sua exoneração a um embate com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello a respeito da aquisição de vacinas da Pfizer. Apoiador do presidente, ele saiu em março do comando da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) após uma reforma que alegadamente teve o objetivo de melhorar a relação do governo federal com a imprensa.

O depoimento de Wajngarten teve início às 10h e foi interrompido por volta das 17h, quando foi iniciada a Ordem do Dia no Senado, e retornou por volta das 19h30. Confira o que foi verificado até o momento.

Wajngarten mentiu sobre campanha

[A veiculação da campanha ?O Brasil não pode parar? foi] exatamente nesse período, era o mês de março, mês que eu estava totalmente ausente da Secom, desde o começo.

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Wajngarten se eximiu de responsabilidade sobre a campanha do governo federal "O Brasil não pode parar?, que criticava o isolamento social, alegando que na época em que estava sendo preparada, em março do ano passado, ele estava com Covid-19 e ausente da Secom. A declaração é FALSA porque ele disse diversas vezes que, apesar de estar em isolamento se recuperando da infecção, trabalhava normalmente.

Em 13 de março, um dia após o anúncio de seu diagnóstico, Wajngarten afirmou em entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan, que estava trabalhando: ?embora testado positivo, embora doente, embora contaminado pelo vírus, eu levo vida normal. O meu maior infortúnio é estar longe da minha família. Eu estou trabalhando normal?.

No dia 14, em transmissão no Instagram feita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Wajngarten deu uma declaração semelhante, afirmando, inclusive, que aprovava campanhas da secretaria: "Eu sou a prova viva que mesmo testado positivo, a vida segue. Eu estou trabalhando normal, tenho feito calls com ministros, tenho feito calls com a Secom, tenho aprovado campanhas, tenho conversado com os criativos das agências de publicidade, então a vida segue. Eu estou disposto, eu estou em isolamento?.

Já em 27 de março, no Twitter, ele afirmou: "noite de sono boa, assim como o dia de hoje. Sem sintomas, trabalhando de casa, ainda em isolamento. Tudo retornando à rotina?.

O slogan da campanha foi publicado no Instagram e no Twitter da Secom no dia 25 de março e o conteúdo de um vídeo preliminar foi noticiado pela imprensa no dia seguinte. No entanto, após a Justiça Federal do Rio de Janeiro proibir a União de divulgar o material, a Secom apagou as publicações e negou em nota a existência de "qualquer campanha publicitária ou peça oficial? intitulada "O Brasil não pode parar?.

Wajngarten protegeu Bolsonaro

O presidente Bolsonaro sempre disse, senador, que compraria toda e qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa.

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A declaração foi classificada como FALSA porque o presidente Jair Bolsonaro disse publicamente no ano passado que não compraria a CoronaVac mesmo que o imunizante fosse aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

No dia 21 de outubro, Bolsonaro afirmou que "a [vacina] da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Esse é o pensamento nosso?. Um dia antes, o então ministro da saúde, Eduardo Pazuello, havia assinado um protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.

Em interação nas redes sociais, o presidente também afirmou que não compraria o imunizante e chegou a dizer que "o povo brasileiro não será cobaia de ninguém?. Na mesma ocasião, Bolsonaro mentiu ao dizer que outros países não estavam interessados na vacina, quando Chile e Indonésia já haviam assinado acordos com a Sinovac.

Além disso, ao rejeitar uma proposta da farmacêutica Pfizer que previa a entrega de 70 milhões de doses a partir de dezembro do ano passado, o governo federal emperrou a campanha de vacinação no país.

Entrevista de Wajngarten à Veja

A revista não diz isso [que eu chamei o Pazuello de incompetente] e eu não chamei. Basta ler a revista.

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Neste trecho, o ex-secretário distorce o que disse à Veja, o que torna a declaração FALSA. Questionado sobre o motivo de as negociações para a aquisição da vacina da Pfizer não terem avançado a despeito da autorização do presidente, Wajngarten respondeu à revista que se tratava de "incompetência e ineficiência? do Ministério da Saúde.

Em áudio da entrevista divulgado pela revista Veja nesta quarta (12), o ex-secretário, quando questionado se teria havido negligência ou incompetência por parte do governo e, especialmente do Ministério da Saúde, responde: "Incompetência. Incompetência. Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando na negociação e você tem do outro lado um time pequeno, tímido, sem experiência, é sete a um?.

Como condição de chefe da pasta, portanto, o ex-ministro também foi incluído no grupo caracterizado por Wajngarten como incompetente e ineficaz.

Ataques aos jornalismo

Com relação a ataques de jornalismo, eu prego a boa informação, eu prego a boa relação, a relação respeitosa. Em nenhum momento incentivo, em nenhum momento contribuo.

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A declaração de Wajngarten é FALSA, porque, em diversas ocasiões, em especial por meio das redes sociais, o ex-secretário de Comunicação criticou e atacou o trabalho da imprensa.

No dia 29 de outubro de 2019, ele chamou a TV Globo de "lixo? depois que a emissora noticiou, com base no depoimento do porteiro do condomínio do presidente Jair Bolsonaro, que um suspeito da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) teria dito, antes do crime, que iria visitar o presidente.

Na ocasião, Wajngarten publicou em sua conta no Twitter: "Eu to só esperando a nota da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Eu to só esperando a nota da Associação Brasileira de Imprensa. Eu to só esperando a nota da Associação Brasileira de Rádio e Televisão. VERGONHOSO. LIXOOOO?.

Em janeiro de 2020, em resposta a reportagem da Folha de S.Paulo que revelou que empresa da qual ele era sócio recebia dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pelo governo, Wajngarten afirmou que estava sendo atacado pela grande mídia, que teria o objetivo de "minar o presidente Jair Bolsonaro?.

No dia 15 de abril do mesmo ano, o então secretário atacou mais uma vez o grupo Globo, que desta vez classificou como "fake news? e "tendencioso?. Poucos meses mais tarde, em junho, Wajngarten disse que o trabalho da mídia na cobertura da pandemia era "egocêntrico?, "informal?, "acientífico? e que tentava se mostrar mais relevante que as próprias ações do Ministério da Saúde.

Campanha de prevenção à Covid-19

Na primeira campanha, o apresentador Otávio Mesquita, já em fevereiro, já falava de distanciamento e já falava de álcool [como medida de prevenção à Covid-19].

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Wajngarten se refere à campanha do governo federal "Coronavírus: Juntos somos mais Fortes? que, diferentemente do que afirmou o ex-secretário, começou a ser veiculada em março de 2020, não em fevereiro. Apesar de recomendarem o uso do álcool em gel, em nenhum momento os vídeos produzidos (aqui e aqui) indicam o distanciamento social, seja por meio do apresentador Otávio Mesquita, seja por outras personalidades que aparecem nas peças. A declaração, portanto, é FALSA.

As peças se resumiam a apresentar dicas de higiene e de como tossir ou espirrar de maneira a diminuir a transmissão do novo coronavírus. A fala completa de Mesquita na campanha é: "Pessoal, nós brasileiros já enfrentamos e controlamos muitas epidemias ao longo da nossa história?. Ele também aparece em um cartaz de divulgação que orienta as pessoas a não compartilharem utensílios de uso pessoal.

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Uso de cloroquina contra a Covid-19

? não existia a cloroquina em março.

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Neste trecho do depoimento, Wajngarten dizia aos senadores que, quando foi diagnosticado com a Covid-19, a cloroquina e a hidroxicloroquina ainda não haviam sido apontadas em público como potencialmente eficazes contra a doença, o que é FALSO, de acordo com os fatos que elencamos a seguir.

O anúncio de que o ex-secretário teria contraído a doença foi feito pela Secom no dia 12 de março de 2020 e ele só retornou da licença em 1º de abril. Antes que Wajngarten adoecesse, a cloroquina e a hidroxicloroquina já tinham aparecido em artigo na revista científica Nature, em fevereiro, que trazia resultados potencialmente positivos de pesquisas em laboratório com as drogas.

O estudo do francês Didier Raoult, principal referência para os defensores da cloroquina contra a Covid-19, foi divulgado em 18 de março e o então presidente americano Donald Trump promoveu o medicamento no dia 19. Foi também nesta data que Jair Bolsonaro citou o remédio pela primeira vez e que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu um alerta contrário ao uso do composto.

Ainda em 27 de março, o Ministério da Saúde editou a Nota Informativa nº 5/2020 que liberou o uso da cloroquina como terapia adjuvante no tratamento de casos graves da Covid-19. No dia seguinte, ainda no período de isolamento de Wajngarten, o remédio foi citado em uma peça publicitária da Secom como uma ação do governo contra a pandemia.

Wajngarten com Covid-19

Quando eu fui vítima da Covid, não se falava em ficar 7 dias, 14 dias. Eu fiquei 26 dias até ter o teste negativado.

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É FALSO que não se falava na necessidade de isolamento de pessoas com Covid-19 até 12 de março de 2020, data em que a Secom confirmou que Fabio Wajngarten estava com a doença. Em 11 de fevereiro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) já alertava que os países deveriam se preparar para medidas de contenção da infecção, o que incluía isolamento e gerenciamento de casos.

Em 29 de fevereiro, uma orientação provisória da entidade também falava que pessoas que tivessem contato com infectados pela Covid-19 deveriam ficar 14 dias em isolamento.

Medida semelhante foi anunciada, por exemplo, pelo CDC (Center for Disease Control, agência do Departamento de Saúde doos EUA), em 31 de janeiro de 2020. Também foi adotada pelo governo federal para os brasileiros repatriados de Wuhan, na China, em 9 de fevereiro.

Wajngarten negocia com a Pfizer

Eu não tratei de negociação [com a Pfizer]. Eu não negociei.

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Neste trecho do depoimento, Wajngarten negou ter participado das negociações para aquisição da vacina da Pfizer. Essa fala foi considerada CONTRADITÓRIA porque, em entrevista à Veja no dia 22 de abril e também em outro momento da sessão na CPI, o ex-secretário disse que contatou o CEO da farmacêutica, convidou os diretores das empresas para irem a Brasília e que fez reuniões com os executivos.

Na entrevista à Veja, o que ele disse foi: "Liguei para a sede e me apresentei. No mesmo dia, o CEO da empresa [Pfizer] me retornou. Foi uma conversa surpreendente. Ele relatou o que havia acontecido. Ou melhor, o que não havia acontecido. O Ministério da Saúde nem sequer havia respondido à carta [oferecendo 70 milhões de doses]. Sou filho de médico e sei o que representa a tradição da Pfizer, sei quanto a vacinação é importante e também como isso poderia implodir ou incensar a imagem do presidente da República (?)?

E prosseguiu: "Me coloquei à disposição para negociar com a empresa, antevendo o que estava para acontecer: o presidente seria atacado e responsabilizado pelas mortes. A vacina da Pfizer era a mais promissora, com altos índices de eficácia, segundo os estudos. Precisávamos da maior quantidade de vacinas no menor tempo possível. E dinheiro nunca faltou. Então, eu abri as portas do Palácio do Planalto. Convidei os diretores da empresa a vir a Brasília. Fizemos várias reuniões. Fui o primeiro a ver a caixa que armazenava as vacinas a menos 70 graus. Eu também levei a caixa para o presidente Bolsonaro ver. Expliquei que aquilo não era um bicho de sete cabeças, como alguns técnicos pintavam?.

Durante seu depoimento à CPI, o ex-secretário também repetiu que teria ligado para o CEO da Pfizer quando ficou sabendo da carta enviada pela farmacêutica ao governo brasileiro e até disse o dia exato em que os dois se encontraram: "eu tive com o CEO Carlos Murilo em Brasília pela primeira vez 17 de novembro no meu gabinete, em 17 de novembro, no Palácio [do Planalto]?.

Outro lado. Até a última atualização desta reportagem, Aos Fatos não havia conseguido localizar contatos de Fabio Wajngarten para ouvi-lo a respeito das checagens publicadas. Procurada nesta quarta-feira (12), a Secom disse que não poderia informar telefones do ex-secretário.

Com informações de Aos Fatos




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