Instituto Pensar - CPI da Pandemia: tensão e ameaça de prisão de Wajngarten

CPI da Pandemia: tensão e ameaça de prisão de Wajngarten

por: Iara Vidal 


Fabio Wajngarten foi ameação de prisão por mentir à CPI. Foto: Leopoldo Silva/Agencia Senado

O depoimento do ex-secretário de Comunicação (Secom) da Presidência da República Fabio Wajngarten, nesta quarta-feira (12), à CPI da Pandemia do Senado, foi marcado por contradições e até ameaça de prisão do depoente. Em um momento da reunião, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), chegou a advertir Wajngarten para que respondesse diretamente os questionamentos dos parlamentares.

Ao final de reunião, por volta das 19h45, Aziz fez uma fala contundente sobre o depoimento de Wajngarten.

"A prisão seria o menor castigo que você vai sofrer na vida. A ninguém você agradou aqui. Você vai sofrer. A prisão não seria nada mais terrível do que você perder a credibilidade.?
Omar Aziz

Segundo Aziz, o ex-secretário de Comunicação estaria "tangenciando? perguntas elaboradas pelos integrantes da comissão. O presidente ameaçou dispensar o depoimento da testemunha, requisitar à revista Veja a transcrição da entrevista publicada em abril e reconvocar o ex-secretário de Comunicação como investigado.

O presidente da CPI afirmou que o ex-chefe da Secom só foi chamado em razão da entrevista concedida à Veja. "Senão, a gente nem lembraria que o senhor existiu?, disse.

"Está aqui tangenciando sobre as perguntas. Depois, a gente toma uma medida mais radical, e aí vão dizer que somos isso e aquilo. Por favor, não menospreze nossa inteligência. Ninguém é imbecil aqui. O senhor não está respondendo. O senhor está mentindo aqui para todos nós.?
Omar Aziz

O relator da CPI, senador Renan Calheiros, chegou a sugerir a prisão de Wajngarten. Ele afirmou que queria requisitar o áudio da revista Veja para verificar se o depoente mentiu ou não. "Se ele não mentiu, a revista Veja vai ter que pedir desculpas a ele. Se ele mentiu, ele terá desprestigiado e mentido ao Congresso Nacional, o que é um péssimo exemplo?.

"Eu queria dizer que vou cobrar a revista Veja: se ele não mentiu, que ela se retrate a ele. Se ele mentiu à revista Veja e a esta comissão, eu vou requerer a prisão do depoente. Apenas para não dizerem que nós não estamos tratando a coisa com a seriedade que essa investigação requer.?
Renan Calheiros

Planalto levou dois meses para responder carta da Pfizer

Wajngarten confirmou que o Palácio do Planalto demorou dois meses para responder uma carta em que a farmacêutica Pfizer prometia fornecer doses de vacinas contra o coronavírus ao Brasil. Ele, no entanto, eximiu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de responsabilidade no episódio, evitou críticas ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ? ao contrário do que foi publicado em entrevista à revista Veja ­? negou guardar e-mails, registros telefônicos ou minutas de contratos trocados com a empresa estadunidense.

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Segundo o ex-titular da Secom, a Pfizer enviou uma carta a seis autoridades brasileiras no dia 12 setembro do ano passado. Além de Bolsonaro, receberam a correspondência o vice-presidente, Hamilton Mourão, os ministros Paulo Guedes (Economia), Eduardo Pazuello (Saúde), Walter Braga Netto (Casa Civil) e o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster. O ex-secretário disse só ter tomado conhecimento do comunicado no dia 9 de novembro, quando entrou em contato com a farmacêutica.

"Vi por bem levar o assunto Pfizer ao presidente Bolsonaro na busca de uma solução rápida, e assim foi feito. Minha atitude proativa em relação ao laboratório produtor da vacina foi republicana e no sentido de ajudar. Nunca participei de negociação. O que busquei sempre foi o maior número de vacinas para atender a população brasileira com uma vacina que tinha maior eficácia. Isso foi o que busquei sempre.?
Fabio Wajngarten

Wajngarten protegeu Bolsonaro

Wajngarten afirmou ter recebido no Palácio do Planalto o representante da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo. O ex-secretário afirmou, no entanto, que o presidente Bolsonaro não participou do encontro e que não foram discutidos temas como "cronograma ou valores? para a compra do imunizante.

"O que havia era uma promessa da Pfizer de que, se o Brasil se manifestasse no tempo adequado, ela envidaria os maiores esforços para aumentar a quantidade e diminuir o prazo. E foi exatamente isso que eu exigi nos outros dois encontros que tive com eles.?
Fabio Wajngarten

Em entrevista publicada pela revista Veja em abril, Wajngarten afirma que o acordo com a Pfizer não prosperou por "incompetência e ineficiência? da "equipe que gerenciava o Ministério da Saúde nesse período?. Sem citar nomes, ele voltou a reclamar da "incompetência? e da "burocracia? do setor público. Mas, questionado pelo relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), negou que tenha havido procrastinação do presidente Bolsonaro para a compra das vacinas.

"Não havia segurança jurídica para a assinatura porque havia uma lacuna legal. Três cláusulas impediram, empacaram e emperraram que a negociação avançasse de forma mais rápida: resolução de conflitos em Nova York, e não no Brasil; isenção completa de responsabilização e indenização; e edição de uma medida provisória para o país elencar ativos e bens em caso de processos internacionais.?
Fabio Wajngarten

Segundo a Veja, o ex-secretário "guarda e-mails, registros telefônicos, cópias de minutas do contrato? para comprovar o que está dizendo. Wajngarten, no entanto, nega que mantenha essa documentação.

"Todas as minhas trocas de informação estão no computador da Secom. Em minhas mãos, não tenho nada. Em minha posse, não tenho. Não tenho nada além do que está no computador da Secom. Entendo que está guardado, está preservado. Se alguém logar com minha senha de usuário no computador, vai encontrar?, disse.

Bolsonaro e falas contra as vacinas

O senador Renan Calheiros inquiriu Wajngarten sobre uma série de declarações de Jair Bolsonaro contrárias à imunização.

"O presidente da República nunca escondeu sua oposição à vacinação dos brasileiros. Disse que não compraria vacinas da China. Chamou a CoronaVac de ?vacina chinesa do João Doria?. Comemorou com a frase ?mais uma que Jair Bolsonaro ganha? a suspensão temporária dos estudos de fase 3 da CoronaVac. Disse que a vacinação não seria obrigatória em seu governo. Sua declaração que ganhou mais repercussão foi a seguinte: ?Se você virar um jacaré, é problema seu\'?.
Renan Calheiros

Questionado sobre o impacto dessas declarações sobre as campanhas de imunização no Brasil, o ex-secretário de Comunicação poupou críticas a Jair Bolsonaro.

"O presidente sempre disse que compraria toda e qualquer vacina, quando aprovado pelo órgão regulatórioOs atos do presidente pertencem a ele. Não posso especular, não posso imaginar o que passava pela cabeça dele no momento em que falou isso. A mensagem do presidente é uma. A minha campanha na televisão é outra. A campanha de rádio é outra. Tem impacto? Tem impacto. A gente faz campanhas para contrapor, a gente faz campanhas para complementar?, respondeu.

Wajngarten disse que não concorda "com todas as frases? ditas por Jair Bolsonaro. Mas ponderou que, se estivesse na posição do presidente da República, "eventualmente faria exatamente a mesma coisa?.

"A população brasileira recebe inúmeras mensagens de diferentes meios e conteúdos. O discurso presidencial é um, a televisão, o rádio? É um complemento de informações que vai resultar na tomada de decisão da população brasileira. Impacta? Impacta. É único? Não é. Para cada pessoa que recebe a informação tem um impacto diferente. Uma pessoa em casa que não quer saber do presidente, não quer saber de política, não quer saber de nada? Para ela, não impacta. Para alguém que está 24 horas do dia acompanhando o que se passa aqui em Brasília, impacta?, afirmou.

Wajngarten diz que fez campanhas

Segundo Wajngarten, a Secom e o Ministério da Saúde realizaram 11 campanhas informativas, educativas e publicitárias sobre a pandemia, a um custo total de R$ 285 milhões. Ele disse "jamais? ter sofrido pressão de Jair Bolsonaro para direcionar o teor das campanhas de conscientização.

"Se tivesse ocorrido qualquer interferência, eu pegaria minha mala e voltaria para minha família e para minha empresa. O presidente nunca pediu que fizesse campanha sobre nenhum tipo de nenhum tema. Jamais. Nenhuma interferência do presidente da República em nenhuma campanha do governo.A impressão que se tem de que o governo não comunicou é uma impressão equivocada?, comentou.

o ex-titular da Secom afirmou "desconhecer? a existência de "um ministério paralelo? para orientar o presidente da República sobre o enfrentamento da covid-19. E disse que o então ministro Eduardo Pazuello foi "corajoso? ao assumir a Saúde durante a pandemia de coronavírus.

"Entendi que ele [Pazuello] ocupou um espaço diante da saída do doutor Nelson Teich. Lamentei muito a saída do doutor Teich, que é um médico técnico e preparado. Adoraria que a gente tivesse um médico na pasta e caminhasse de forma mais tranquila. O ex-ministro Pazuello foi corajoso de assumir a pasta no pior momento da história do Brasil e do mundo. Poucos teriam tido a coragem que ele teve de sentar no ministério no meio da maior pandemia que o Brasil já teve?, comentou.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) saiu em defesa do depoente.

"Muito me preocupam os caminhos que estamos trilhando nesta CPI. A cada vez, a cada dia eu me convenço mais. A diferença é abissal, é uma coisa assim, acintosa quando a gente vê a cortesia com que foi tratado aqui o ex-ministro [Luiz Henrique] Mandetta. Como a gente diz no jargão do futebol, jogada ensaiada. E a intimidação de um cidadão, de um cidadão que merece respeito, que não merece ser humilhado, que não merece ter ali uma indução. Isso pega mal para os trabalhos da CPI.?
Eduardo Girão

O presidente Omar Aziz reagiu.

"Ele não está sendo humilhado, ele está sendo bem tratado. Sabe o que acontece? Humilhado é 425 mil mortes neste Brasil. Essas pessoas estão sendo humilhadas porque não tem vacina no Brasil, essas pessoas estão sendo humilhadas. Ele? Ele está muito bem protegido, todo mês tem o dinheirinho dele para comer. Que humilhação? Humilhação é o povo pobre que não tem dinheiro para comer, rapaz!?
Omar Aziz

Com informações Agência Senado



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