Instituto Pensar - 24 anos sem Paulo Freire e pedagogo ainda assusta conservadores

24 anos sem Paulo Freire e pedagogo ainda assusta conservadores

por: Júlia Schiaffarino


Foto: Reprodução/Site CNTE

Há 24 anos o Brasil perdia o filósofo Paulo Freire. Em uma vida dedicada à educação, ele se tornou referência internacional por construir um método de ensino focado na alfabetização de maneira crítica e humanizada. Isso numa época em que a maior parte das regiões periféricas do país detinham quase metade de sua população adulta sem saber ler ou escrever.

Freire nasceu em Pernambuco e faleceu em 2 de maio de 1997, vítima de um infarto no miocárdio.

O filósofo é considerado patrono da educação brasileira. Um título cedido pelo governo após anos de perseguição pela ditadura militar, quando chegou a ser preso e exilado acusado de "atividades subversivas?. Professores que replicavam o chamado método freiriano de ensino também sofreram perseguição, alguns levados para interrogatórios e outros tantos, presos.

Mesmo morto, Paulo Freire assusta

Apesar de falecido há mais de duas décadas, o pedagogo ainda sofre perseguições de políticos e militantes conservadores. Na lista dos que dedicam tempo a falar contra as teorias do filósofo pernambucano estão apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e simpatizantes de movimentos, abraçado pelos bolsonaristas, como por exemplo, o Escola Sem Partido.

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Um dos episódios mais recentes aconteceu na semana passada quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, sem saber que era gravado, que as escolas ensinam "Paulo Freire, sexo para criança de 5 anos?. Isso aconteceu durante a reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu). 

Na mesma semana o Brasil atingia os 400 mil mortos pela Covid-19 e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reclamava falta de recursos para realizar o censo demográfico. Entre os prejuízos da não realização do censo, argumentaram os técnicos, estava o risco de um "apagão de dados? inclusive na educação. Algo capaz de comprometer a construção de políticas para minimizar os danos da pandemia sobre a alfabetização no país.

Já Congresso Federal, não de hoje alguns parlamentares acharam importante dedicar tempo a apresentar projetos para tirar o título de Patrono da Educação de Paulo Freire. Um deles foi o deputado federal Heitor Freire (PSL-CE) que autor do PL 1930/19.

Na justificativa ele diz que "o pedagogo foi endeusado pela esquerda para delírio dos marxistas do país?. O texto usa palavras como "insubordinação? para se referir ao filósofo e aqueles que o apoiam e tem outras três proposições, de mesmo objeto, apensadas.

O Movimento Brasil Livre (MBL) também organizou atos para revogar a lei que tornou Freire Patrono da Educação Brasileira.

Analfabetismo entre jovens e adultos

O trabalho de Paulo Freire esteve focado na alfabetização, principalmente, de jovens e adultos. Muitas das pessoas beneficiadas foram encarcerados ou trabalhadores rurais. O método foi testado com sucesso na cidade de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, na década de 1960, o que rendeu projeção ao educador.

Na base da ideia freidiana reside em um ensino para além da simples compreensão de códigos linguísticos, ou seja, a proposta é partir da realidade dos alunos. Assim palavras que compunham o dia a dia de um agricultor, como por exemplo plantação ou colheitas, eram usadas em lugar das cartilhas prontas que pouco ou nada traziam da vivência deles.

Na década de 1960 o Nordeste possuía aproximadamente 15 milhões de analfabetos. Algo que correspondia à quase 50% da população da região. Na cidade de Angico, onde Paulo Freire desenvolveu o método, o percentual da população adulta que não sabia ler ou escrever chegava a 75%.




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