Indústria 4.0: transição é desafio, dizem dirigentes sindicais
por: Lucas Nanini
Representes de sindicatos do Brasil e dos Estados Unidos debateram nesta quarta e quinta-feiras (7 e 8) os impactos da Indústria 4.0 no setor metalúrgico. Nos dois dias de eventos, os dirigentes sindicais e especialistas discutiram as transformações no mundo do trabalho e o que deve ser feito para que reduzir os prejuízos à classe operária.
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Encontro binacional debateu Indústria 4.0
O "1º Encontro da Indústria 4.0 Metalúrgic@s ? Brasil/Estados Unidos? foi realizado de modo virtual e reuniu cerca de 100 pessoas. Em pauta, temas como a automação das linhas de produção, veículos e procedimentos nas empresas e o uso da tecnologia para fiscalização do trabalho. Houve ainda troca de experiências sobre a atuação sindical e debate a respeito de organização sindical e colaboração internacional.
O evento foi organizado pelo sindicato estadunidense United Auto Workers (UAW), em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). Professores, técnicos e especialistas de outras áreas também deram sua contribuição.
A transição para a Indústria 4.0 foi citada pelo presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, como um dos maiores desafios do movimento sindical, já que a organização por setores de atuação tem se tornado cada vez mais obsoleta. Ele disse que a remodelação dos sindicatos se faz urgente.
"Com o crescimento do teletrabalho, acelerado pela pandemia, os sindicatos terão que estar presentes não apenas nas empresas, mas também nos bairros, onde vivem esses trabalhadores que fazem home office.?
Sérgio Nobre, CUT
Novo perfil do trabalhador para a Indústria 4.0
O diretor administrativo do SMABC, Wellington Damasceno, afirmou que é preciso traçar um novo perfil do trabalhador e oferecer capacitação para que a adequação à nova situação seja menos prejudicial. "Onde estarão os novos empregos com a Indústria 4.0??, questionou.
Para ilustrar o atual cenário no Brasil e nos Estados Unidos, o diretor da UAW, Jason Wade, falou sobre o grande número de robôs que têm substituído o trabalhador humano. Ele citou ainda a criação de veículos autônomos e o o uso de impressoras 3D e de câmeras de vídeo para monitorar como os operários estão desempenhando suas atividades.
A professora da área de Gestão de Tecnologia e Inovação da Universidade Federal do ABC (UFABC) Anapatrícia Vilha, que falou sobre deficiência tecnológica do Brasil, defendeu a ampliação da agenda de políticas públicas para reduzir as perdas de emprego no país. Ela afirmou que é necessário combinar as políticas industrial e de educação, especialmente na área tecnológica, fazer parcerias comerciais e investir na indústria nacional.
Falta fomento à indústria nacional
Neste contexto, os participantes mencionaram a falta de políticas públicas no Brasil, em especial as que possam valorizar e fomentar a indústria nacional. Para o presidente do SMABC, Wagner Firmino de Santana, o atual governo colocou o país em um "processo de desindustrialização?, indo na contramão da Indústria 4.0.
Lembrando que não existe indústria competitiva sem a presença do Estado, ele citou o descaso do governo brasileiro em relação à pandemia de Covid-19, que também tem levado a população ao desemprego e à fome.
Problemas com o teletrabalho
A situação do teletrabalho também foi tema do debate. Os dirigentes manifestaram preocupação, especialmente sobre a dificuldade de descobrir novas formas de regular as jornadas de trabalho e questões sobre acidentes de trabalho e saúde ocupacional.
"Precisamos descobrir como aproximar esse trabalhador que está individualizado da coletividade?, afirmou o secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Loricardo de Oliveira,
Falta uma legislação específica para essa modalidade, como mencionou a técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Adriana Marcolino. Isso coloca os trabalhadores em situação delicada, especialmente com o aumento dos casos de empregados em home office durante a pandemia de Covid-19.
Trabalho na pandemia
O sindicalista estadunidense Darius Sivin também falou sobre teletrabalho e os protocolos sanitários adotados pelas empresas dos EUA e fiscalizados pelos sindicatos. Entre as medidas, ele destacou a garantia do salário, por parte do empregador ou do governo, para que empregados com sintomas de Covid-19 ou outras doenças possam ficar em casa e não contaminem colegas. Para Sivin, ainda não foi possível alcançar os padrões ideais nos Estados Unidos.
O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre lembrou que as mortes por Covid-19 nos Estados Unidos são resultado da postura negacionista do ex-presidente norte-americano, Donald Trump, a exemplo do que faz o presidente Bolsonaro, mas que agora Biden vem mudando para melhor essa realidade. Nobre falou sobre o movimento sindical atuar com governadores se prefeitos no Brasil, no intuito de combater a crise sanitária.
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres complementou afirmando que o auxílio-emergencial de R$ 600, por exemplo, só foi possível graças à pressão dos sindicatos junto ao Congresso Nacional. Ele defendeu que a luta que agora une as centrais sindicais é por vacinas para todos. "Faço um apelo aos colegas dos Estados Unidos: nos ajudem a conseguir mais vacina para o Brasil?, finalizou Torres.
Com informações do site da CUT
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