Instituto Pensar - Desemprego em alta e Bolsonaro critica metodologia do IBGE

Desemprego em alta e Bolsonaro critica metodologia do IBGE

por: Lucas Nanini 


Imagem: Reprodução

Em meio aos 14,3 milhões de brasileiros desempregadoso presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez novas críticas à metodologia adotada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Continua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Estamos criando empregos formais mês a mês. Mas tem aumentado o desemprego por causa dessa metodologia do IBGE que atendia ao governo da época. No meu entender, é o tipo (de metodologia) errado. Pode mudar. É só ver o número de carteiras assinadas mês a mês. Saber se está aumentando e quantos estão na informalidade?.
Jair Bolsonaro

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Para Bolsonaro, desemprego é culpa da Covid-19

O comentário do presidente foi feito durante entrevista à CNN Brasil, nesta quinta-feira (8). Ele afirmou que o aumento no número de desempregados teve relação com os trabalhadores informais que perderam seu "ganha-pão? após a pandemia da Covid-19 e que, por isso, buscaram emprego formal no mercado.

Ele citou atividades precarizadas como venda de produtos em sinais ou eventos esportivos para justificar os números. "Vendiam churrasquinho de gato, água mineral no sinal, um biscoito na praia, um sorvete na arquibancada de futebol.? disse o presidente. "Não tem mais como catar latinha por aí, procuraram emprego?.

Segundo o o chefe do Executivo, quando há uma melhora no emprego no país, as pessoas que recebem os benefícios como o Bolsa Família e o auxílio reclusão passam a buscar empregos formais, por isso entram no contingente de desempregado, aumentando o percentual registrado na Pnad.

O mandatário já havia criticado a metodologia do IBGE em 2019. À época, especialistas avaliaram que a fala de Bolsonaro poderia gerar preocupações entre investidores, pesquisadores e analistas quanto à interferência política no instituto.

Desemprego maior desde 2012

Ao todo, 14,3 milhões de brasileiros procuravam emprego no trimestre pesquisado. O número representa 200 mil pessoas a mais do que no trimestre anterior (entre agosto e outubro) e 2,4 milhões de desempregados a mais do que no mesmo período do ano anterior, antes do início da pandemia. A taxa de desemprego é a maior para o período desde 2012, quando o instituto iniciou o levantamento.

Em 2019, o IBGE emitiu uma nota explicando que a metodologia usada pelo instituto segue das recomendações da OIT (Organização Internacional do Trabalho). "A utilizac?a?o de conceitos, classificac?o?es e me?todos internacionais pelos o?rga?os de estati?stica de cada pai?s promove a coere?ncia e a eficie?ncia dos sistemas de estati?stica em todos os ni?veis oficiais, conforme preconizam os Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais?, informou a nota.

A Pnad apresenta o número de pessoas desocupadas no país. Entram nessa categoria aqueles que não têm emprego, mas buscam uma ocupação. Não são contabilizados os brasileiros que não possuem emprego, mas deixaram de buscar uma vaga no mercado de trabalho por falta de perspectiva ? fenômeno chamado de "desalento? por economistas.

Caged pode ?inflar? empregos

Citado pelo governo como levantamento que melhor mostra a situação do emprego no país, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregado (Caged) mudou a metodologia. Por isso, os resultados da geração de emprego podem ser inflados. Quem afirma é a economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Rosângela Vieira.

O novo Caged passou a incluir contratos temporários em janeiro de 2020. Em geral, as vagas são para períodos curtos e podem ser extintas a qualquer momento, tornando a análise sobre o panorama do emprego no Brasil imprecisa.

"Até 2019 a empresa não era obrigada a informar as categorias de trabalhos temporários. A obrigação tornou a pesquisa mais ampla, e não se pode comparar um ano com outro.?
Rosângela Vieira, Dieese

O Caged registra as demissões e admissões de trabalhadores a partir de dados fornecidos pelas empresas. Antes do golpe de 2016, o levantamento contabilizava apenas empregos formais, com carteira assinada e por prazo indeterminado. Após a Reforma Trabalhista realizada por Michel Temer, passou a computar uma nova modalidade de contratos, os trabalhos intermitentes.

A economista critica a contabilização desse tipo de contrato pois ele permite que o trabalhador seja convocado apenas quando o patrão precisar. Desse modo, a pessoa pode ser chamada apenas aos fins de semana ou quando houver demanda, sem obrigação de atuar pelos 21 dias úteis de cada mês, podendo receber menos de um salário mínimo mensalmente.

Direitos do trabalhador

Outro problema apontado por Rosângela em relação ao novo Caged é que muitas empresas podem ter falido e não ter registrado as demissões por não terem condições de pagar os diretos trabalhistas, como seguro-desemprego, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e verbas rescisórias.

"Esta é uma análise que precisa ser feita. Não temos condições de saber exatamente o número de empresas que faliram sem pagar os direitos do trabalhador. Mas temos a percepção de que, principalmente no setor de serviços, centenas de empresas por todo o Brasil fecharam as portas e parte não teve condição financeira de arcar com o pagamento das verbas rescisórias.?

Rosângela também afirma ainda que os dados mais recentes do Caged, que apontam saldo de 401 mil novas vagas, podem estar mal dimensionados. Os desligamentos podem ser fornecidos pelas empresas 15 dias após a demissão. Por isso, a estatística de fevereiro pode aparecer apenas nos dados computados em março.

Com informações da Folha de S. Paulo e do site da CUT



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