Fome: 19 milhões de brasileiros enfrentaram flagelo em 2020
por: Iara Vidal
A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), divulgou, nesta segunda-feira (5), o "Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19? que mostra que 19,1 milhões de brasileiros, o equivalente à população da Grande São Paulo, não têm o que comer.
Fome é cria das desigualdades
A resultado da pesquisa da Rede Penssan mostra as desigualdades sociais de um país em que o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) previu para este ano safra recorde de cereais, leguminosas e oleaginosas. De acordo com a previsão divulgada em fevereiro passado, o país deve produzir 262,2 milhões de toneladas, resultado 3,2% superior ao registrado no ano passado.
Um desempenho e tanto para tempos de pandemia com auxílio emergencial de R$ 150, que não garante nem um terço da cesta básica, economia congelada e desemprego em alta. Nesse cenários, milhões de brasileiros empurrados para a pobreza extrema e de fome .
Leia também: Fome no mundo: relatório da ONU alerta para crescimento do flagelo
Problema histórico
A fome no Brasil é um problema histórico, mas houve um momento em que o país foi capaz de combatê-la. Mas s avanços obtidos para garantir o direito humano à alimentação adequada e saudável foi anulado. Os números atuais são mais do que o dobro dos observados em 2009.
O retrocesso mais acentuado se deu nos últimos dois anos. Entre 2013 e 2018, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), a insegurança alimentar grave teve um crescimento de 8% ao ano. A partir daí, a aceleração foi ainda mais intensa: de 2018 a 2020, como mostra a o levantamento, o aumento da fome foi de 27,6%.
"Ou seja: em apenas dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia.?
Pesquisa ouviu mais de 2 mil domicílios
Os dados foram coletados em 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, em áreas urbanas e rurais, entre 5 e 24 de dezembro de 2020. Os resultados mostram que nos três meses anteriores à coleta de dados, apenas 44,8% dos lares tinham seus moradores e suas moradoras em situação de segurança alimentar. Isso significa que em 55,2% dos domicílios os habitantes conviviam com a insegurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018 (36,7%).
Em números absolutos: no período abrangido pela pesquisa, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos. Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).
"É um cenário que não deixa dúvidas de que a combinação das crises econômica, política e sanitária provocou uma imensa redução da segurança alimentar em todo o Brasil.?
Rede Penssan
Poucos comem muito e muitos passam fome
Entre 2004 e 2013, os resultados da estratégia Fome Zero aliados a políticas públicas de combate à pobreza e à miséria se tornaram visíveis. A PNAD realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma importante redução da insegurança alimentar em todo o país.
Em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2% ? o nível mais baixo até então. Essa marco, à época, fez com que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura finalmente excluísse o Brasil do Mapa da Fome que divulgava periodicamente.
Desigualdades regionais seguem acentuadas
Segundo a pesquisa da Rede Penssan, a insegurança alimentar cresceu em todo país, mas as desigualdades regionais seguem acentuadas. As regiões Nordeste e Norte são as mais afetadas pela fome.
Em 2020, o índice de insegurança alimentar esteve acima dos 60% no Norte e dos 70% no Nordeste ? enquanto o percentual nacional é de 55,2%. Já a insegurança alimentar grave (a fome), que afetou 9,0% da população brasileira como um todo, esteve presente em 18,1% dos lares do Norte e em 13,8% do Nordeste.
O Nordeste apresentou o maior número absoluto de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, quase 7,7 milhões. Já no Norte, que abriga apenas 7,5% dos habitantes do Brasil, viviam 14,9% do total das pessoas com fome no país no período.
Além disso, a conhecida condição de pobreza das populações rurais, sejam elas de agricultores familiares, quilombolas, indígenas ou ribeirinhos, tem reflexo importante nas condições de segurança alimentar. Nessas áreas, em todo o país, a fome se mostrou uma realidade em 12% dos domicílios.
0 Comentário:
Nome: | Em: | |
Mensagem: |