Apoiada por Trump e Bolsonaro, Jeanine Añez é presa na Bolívia acusada de terrorismo
por: Nathalia Bignon
Apoiada por Donald Trump e Jair Bolsonaro (sem partido), Jeanine Añez, a autoproclamada presidente interina da Bolívia, foi presa na madrugada do sábado (13), acusada conspiração, sedição e terrorismo durante o processo de anulação aberto contra o líder político Evo Morales (Movimento pelo Socialismo ? MAS), em novembro de 2019. Na última sexta-feira (12), o tribunal boliviano já havia expedido ordens de prisão contra ela e nove de seus ex-ministros, com um alerta sobre o "risco de fuga? dos suspeitos.
Áñez foi encontrada em sua casa, na cidade de Trinidad, escondida dentro de uma cama box, segundo a agência estatal de notícias ABI. Imagens da TV boliviana registraram o momento da prisão e a exibiram saindo de casa puxada pelo braço. A prisão ocorreu por volta de 1h. Dali, ela foi transportada à La Paz, onde foi colocada em uma cela dentro de um quartel.
Mortes e repressão em protestos
A denúncia que culminou na prisão da ex-presidente foi apresentada por um bloco de deputados e ex-deputados do MAS, legenda de Evo Morales e do atual presidente do país, Luis Arce. A questão seguiu para a Justiça. No processo, a Promotoria acusa a cúpula do governo de Añez de ter causado mais de 30 mortes em comunidades de maioria indígena de Senkata, Sacaba e Yapacani. Ela é acusada também de genocídio por dar à polícia uma "licença para matar? durante os protestos ocorridos no país há dois anos.
Na época, Morales, que presidia a Bolívia desde 2006, disputou um quarto mandato, mas houve acusações de fraude na eleição. Em meio a uma pressão das Forças Armadas e de movimentos populares, cujos protestos deixaram mortos e feridos pelo país, ele renunciou em 10 de novembro de 2019.
Depois do golpe, apoiada pelas milícias de direita e por forças policiais simpáticas, Añez se viu chefe do parlamento e se declarou presidente interina em 12 de novembro de 2019, acolhida pela mídia e pelo governo dos EUA, que forneceram apoio às forças anti-MAS do país, ainda sob a gestão do agora ex-presidente dos EUA, Donald Trump. No Brasil, Jair Bolsonaro rapidamente reconheceu Añez como chefe do declarado governo interino.
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As acusações de "sedição, conspiração e terrorismo? referem-se ao modo como Áñez atuou no período em que esteve interinamente no poder ? entre 12 de novembro de 2019, dois dias depois da renúncia de Morales, e 8 de novembro de 2020, quando assumiu Arce, eleito em outubro do ano passado.
Añez pode pegar até 20 anos de prisão
As penas para os crimes descritos, caso confirmados, vão de 5 a 20 anos de prisão. A ordem de prisão também atinge os ex-ministros Arturo Murillo (Governo), Luis Fernando López (Defesa), Yerko Núñez (Presidência), Álvaro Coimbra (Justiça) e Rodrígo Guzmán (Energia).Coimbra e Guzmán já foram detidos. Segundo a Interpol-Bolívia, outros dois ex-ministros acusados deixaram o país em novembro passado e estão nos Estados Unidos.
Após a prisão, Añez, de 53 anos, afirmou que sua detenção é um ato de perseguição política e que o governo a "acusa de ter participado de um golpe de Estado que nunca ocorreu?. A ex-presidente também enviou cartas para a União Europeia e para a Organização dos Estados Americanos (OEA), pedindo o envio de observadores para acompanhar o processo contra ela.
A prisão de Áñez ocorre uma semana depois de ela ser derrotada nas eleições regionais, quando disputou o cargo de governadora do departamento de Beni. Seu desempenho nas urnas foi medíocre, e ela ficou em terceiro lugar.
Golpe orquestrado
Dois dias depois da renúncia de Morales, Añez chegou ao poder em uma controversa manobra legislativa, aproveitando-se de uma brecha na legislação boliviana, uma vez que todos os que estavam na linha de sucessão direta renunciaram após a saída de Evo.
Sem ter reunido quórum nem na Câmara de Deputados nem no Senado, ela justificou que assumiria a Presidência de acordo com o que estabelece o regimento do Senado sobre sucessão na Casa. Segundo as regras, ante a renúncia do presidente e do primeiro vice-presidente do Senado, o regimento permitia que ela, segunda vice-presidente, assumisse o comando.
Añez deixou o cargo somente no início de novembro do ano passado, após em 18 de outubro de 2020, Luis Arce, do Movimento pelo Socialismo (MAS), se tornar presidente ao vencer a eleição com esmagador número de votos.
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Na semana passada, ela recusou uma intimação para se encontrar com o promotor estadual em Beni, sob pena de prisão.
Sem citar a ex-presidente diretamente, Evo pediu punição firme. "Por justiça e verdade para as 36 vítimas fatais, os mais de 800 feridos e mais de 1.500 detidos ilegalmente no golpe de Estado. Que se investigue e sancione os autores e cúmplices da ditadura que abalou a economia e prejudicou a vida e a democracia na Bolívia?, escreveu, em uma rede social, neste sábado.
Com informações da Folha de S.Paulo
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