?O povo é soberano, se quiser a volta de Lula, paciência?, diz Mourão
por: Iara Vidal
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), considera pouco provável a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2020, mas também avalia que não há risco de ruptura institucional caso o líder petista seja eleito para o terceiro mandato na Presidência da República.
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As declarações do vice-presidente da República foram dadas durante entrevista concedida à Folha de S.Paulo, publicada na edição desta quinta-feira (11).
"É aquela história: o povo é soberano. Se o povo quiser a volta do Lula, paciência. Acho difícil, viu, acho difícil.?
Hamilton Mourão, vice-presidente da República
O ex-presidente Lula recuperou os direitos políticos após decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular as condenações sofridas pelo petista na Lava Jato em Curitiba. Na entrevista à Folha, Mourão disse que faltou uma campanha dos governos federal e estaduais para conscientizar a população no combate à Covid-19, e afirmou ainda que a disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), atrapalhou.
"Essa pandemia foi usada politicamente tanto pelo nosso lado quanto pelas oposições. Esse uso político da pandemia é péssimo.?
Mourão ainda defendeu a atuação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, general da ativa do Exército, e disse que, de vez em quando, "puxa? sua orelha. "Digo: Faz mais e fala menos.?
Confira alguns temas abordados na entrevista:
Falta de coordenação na pandemia
Mourão admitiu a falta de coordenação dos governos federal, estaduais e distrital para conscientizar a população sobre a Covid-19.
"O que vejo nessa questão da pandemia é que faltou realmente uma campanha intensiva por parte não só do governo federal, mas também pelos demais entes federativos, de conscientização da população. A população tinha de se conscientizar das limitações que essa doença provoca.?
Demora na compra de vacinas
O vice-presidente tentou justificar a decisão do governo federal de não comprar vacinas. Ele argumentou que é preciso analisar o cenário mundial e que todos os países enfrentam problemas para aquisição de imunizantes.
"Se apostou as fichas que a AstraZeneca, a vacina de Oxford, realmente conseguiria uma produção consistente e entregaria as nossas necessidades dentro de um cronograma que o Ministério da Saúde havia planejado. Ao mesmo tempo, teve a questão da vacina Coronavac. Não compraram? E ainda tem essa questão aí da Pfizer e da Johnson & Johnson. Principalmente a da Pfizer, que tem gerado mais turbulência. O que soube, desde o primeiro momento em conversa com o ministro Eduardo Pazuello, era que as condições que a Pfizer colocava no contrato não aderiam à nossa legislação.?
Negativas à Pfizer
Mourão admitiu que as três negativas de compra de vacinas da Pfizer foram equivocadas. Ele explicou que o governo apostou na produção nacional, pela Fiocruz, da vacina AstraZeneca seria o suficiente para que o programa de vacinação avançasse.
"Pela visão de hoje, foi uma aposta equivocada. Não digo dessa forma. Uma coisa é a análise a posteriori. É que nem comentarista de futebol: ?Se tivesse colocado fulano, o time teria ganho?. Então, tem de olhar quais eram os dados presentes naquele momento.?
Bolsonaro não usa máscaras e estimula aglomerações
O vice-presidente considerou exagero da imprensa afirmar que o presidente da República é contrário às medidas sanitárias para conter o avanço da pandemia da Covid-19, mas avaliou que Bolsonaro não contribui para o cenário atual de descontrole da crise sanitária.
"Se o presidente tem capacidade para isso, ele está reeleito. Acho que aí vocês forçam uma barra. Se o presidente tem capacidade de arrastar 150 ou 160 milhões de pessoas para não usarem máscara e não lavarem as mãos, ele está reeleito, ele não precisa mais se preocupar. Eu acho que há uma forçação de barra em cima do comportamento do presidente.?
Movimento de governadores, Judiciário e Legislativo isola Executivo
Mourão avaliou que o movimento de governadores com o Judiciário e o Legislativo em defesa de medidas de restrição não demonstra que o Executivo está isolado no combate à pandemia. Ele disse que interpreta o movimento como de cunho político.
O vice-presidente admite que a pandemia foi usada politicamente tanto pelo governo federal quanto pela oposição.
"Isso foi até ruim. Esse uso político da pandemia é péssimo. Então, a gente tem de fazer o que é certo porque é certo. Não porque vou ter dividendos políticos na frente. Então, [essa disputa] está muito centrada na dicotomia entre o presidente e o governador de São Paulo [João Doria].?
Polarização atrapalha medidas contra o coronavírus
A polarização entre governo e oposição, na avaliação de Mourão, atrapalhou as medidas contra o coronavírus.
"Acho que atrapalhou, porque como hoje, fruto do que se vive no mundo inteiro, a gente vive em um clima de disputa. E é realçado pelo papel que as redes sociais têm.?
Vacinação de Jair Bolsonaro
Questionado se Jair Bolsonaro deveria se vacinar para dar um bom exemplo, Mourão afirma que ele e o presidente compartilham da mesma visão. Ambos só vão receber a vacina quando chegar a vez da faixa etária deles.
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O vice-presidente confirmou que tomará a vacina e que vai para a fila normal, no drive-thru. Ele garantiu que Bolsonaro também vai ser vacinado.
Ministério da Saúde sabia da situação em Manaus
Confrontado com indícios de que o Ministério da Saúde tinha ciência da falta de oxigênio em Manaus (AM), Mourão desconversou e não respondeu. Ele disse que ninguém tem experiência para lidar com uma crise como a da pandemia da Covid-19. Em elogio ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, Mourão afirmou ainda que é usual enaltecer ministros que saíram do governo, mas que não enfrentaram uma crise como a atual.
"A Saúde não é um ministério simples. Vamos lembrar que é um ministério que, ao longo dos últimos anos, se notabilizou mais pelos escândalos de corrupção. O general Pazuello conheço há bastante tempo. É um bom planejador e tem uma boa capacidade.?
130 milhões de pessoas vacinadas até o final de 2021
Ao contrário do que vem sendo defendido pelo presidente Bolsonaro, Mourão afirma que a vacina é prioridade do governo.
"Desde o começo, não tenho dúvidas de que a vacina é a solução para que a gente, em primeiro lugar, proteja a saúde das pessoas. E, em segundo, assegure a retomada da economia e do nosso modo de vida. A minha avaliação é de que vamos chegar ao final do ano com 120 ou 130 milhões de pessoas vacinadas.?
Lula candidato à Presidência em 2022
Mourão respondeu que umma candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não o preocupa.
"Todo mundo pode ser candidato. Quanto ao ex-presidente Lula, nem me preocupo. Podem anular o processo, podem mudar o juiz do jogo, mas uma coisa para mim é clara. O ex-presidente Lula foi condenado em três instâncias por corrupção. Isso aí não muda.
Decisão de Edson Fachin interfere na democracia
Mourão avaliou que a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, de anular as condenações de Lula na operação Lava Jato interfere no equilíbrio de Poderes na democracia.
"O equilíbrio de Poderes na nossa democracia está rompido. O Judiciário está com um poder acima dos outros dois e, consequentemente, isso leva a uma instabilidade jurídica. Estamos vendo isso acontecer.?
Confira a entrevista completa neste link.
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