O fator Lula
por: Domingos Leonelli
A reabilitação do ex-presidente Lula cria um novo quadro na política brasileira. Sua entrevista coletiva, transmitida pela TVT, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo no ABC Paulista, revela que o velho-novo Lula está em plena forma pessoal e politica.
Abandonou completamente a posição justa mas inútil, de vítima das injustiças da Lava Jato e do juiz parcial Sergio Moro, para pronunciar o discurso que dele se esperava ao sair da cadeia. Colocou-se à altura do Brasil e de sua própria figura. Como todo bom candidato a presidente, negou que estivesse preocupado com isso, quando na verdade "só pensa naquilo?.
Lembrou-me do então governador Tancredo Neves, que sempre respondia que só pensava em Minas Gerais. Reafirmou a naturalidade do PT em ter candidato a presidência e seu óbvio interesse em polarizar com Bolsonaro. Não falou em impeachment do atual presidente.
Colocou a questão da Frente Ampla no seu devido lugar, a meu ver corretamente: essa Frente está estabelecida na luta pela vacinação de todos os brasileiros, pelo auxílio emergencial e pelo empregos para os brasileiros. Faltou, naturalmente, colocar o impedimento do atual presidente que ele pretende vencer nas urnas de 2022.
Abriu-se para entendimentos com todas as forças politicas, especialmente com as forças de esquerda no primeiro ou no segundo turno das eleições, reconhecendo a legitimidade de outras candidaturas presidenciais. Mais uma vez não achou necessário explicar porque. em 13 anos governo, o PT e seus aliados (inclusive o PSB) não promoveram reformas estruturais (tributária, politica, educacional, agrária), preferindo ressaltar as realizações do seus governos em que o Brasil era feliz.
Esqueceu que o governo de Dilma Roussef deixou 11 milhões de desempregados. Tampouco considerou necessário explicar porque manteve a absurda situação, uma das únicas no mundo, que dividendos do capital financeiro não são tributados.
Mas nada disso parece ter importância para a politica real. Embora não tenha repetido que os banqueiros nunca ganharam tanto como em seus governos, Lula fez coro com o megainvestidor internacional Mobius e disse que o tal do "mercado? não tinha porque temê-lo. Foi firme na defesa da Petrobras e na posição contra a independência do Banco Central.
Ofereceu-se para conversar a sério, e não em almoços ou jantares, com a Febraban, a Federação Brasileira de Bancos, com as federações das indústrias e do comércio. Colocou-se , enfim, como um candidato de centro-esquerda, que sabe falar com o povo, que gosta da politica e que sabe fazê-la. Narrou com naturalidade fatos da política internacional em que se colocava de igual para igual com Obama, Sarkozi e outros. Marcando, assim, a diferença para um patético Bolsonaro.
O fator Lula altera jogo para a direita, em que Bolsonaro, por exemplo, já está a favor da vacina. Para o Centro, na medida em que fica claro que candidaturas como de Huck, Doria, Mandetta e outros passam a não entusiasmar os profissionais da politica. E para a esquerda e centro-esquerda em que Ciro, Boulos, Flávio Dino e quem venha a ser o candidato do meu PSB, a repensarem suas estratégias.
Acho que Lula vai saber aproveitar essa "lua de mel? propiciada pela desastrada Lava Jato, em que um dos chefes disse que a prisão de Lula havia sido um presente da CIA. Pelo visto, um presente de grego.
*Domingos Leonelli é ex-deputado federal, atualmente presidente do Instituto Pensar e coordenador do portal Socialismo Criativo
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