Nota do CRM-DF contra lockdown foi criticada por entidades médicas

O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) emitiu uma nota pública na qual contesta o lockdown estabelecido pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) na última sexta-feira (26) e afirma ser favorável ao "tratamento precoce? da Covid-19. A entidade recebeu críticas contundentes de outros representantes dos médicos: Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF), Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (FM-UnB) e Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico). 

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"A restrição ainda maior de liberdade causa o aumento da incidência de transtornos mentais e agravamento das demais doenças crônicas, além de prejuízo irremediável à economia, provocando desemprego, fome, violência e por conseguinte, mais caos à saúde.?
Trecho da nota pública do CRM-DF

Entidades repudiam posicionamento do CRM-DF

A Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF), o Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico) e a Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (FM-UnB) foram a público repudiar a nota do CRM-DF.

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A SIDF informou, em carta aberta, que o CRM-DF nomeou uma Câmara Técnica de Infectologia. Todavia, o colegiado não foi consultado sobre os posicionamentos recentes. A sociedade ressalta no texto que tanto o DF quanto o resto do país vivenciam uma grave crise de saúde pública que requer expertise e não radicalismos.

"O lockdown já se mostrou, em várias partes do mundo, uma medida útil para controle da transmissão da Covid-19, devendo ser adotado em casos extremos. No Distrito Federal, propõe-se no momento a restrição de atividades específicas e em horários delimitados. São lícitos os debates e os questionamentos sobre quais atividades devem, ou não, ser afetadas pelas restrições, bem como a duração desse período. Não é admissível, entretanto, que haja um posicionamento radical, contra a medida de forma geral, como fez o CRM-DF.?
Trecho da Carta Aberta da SIDF 

Em nota, a Faculdade de Medicina da UnB manifestou profunda preocupação com o posicionamento do CRM-DF. O texto afirmou que a transmissão de SARS-Cov-2 apresenta curva ascendente tanto no DF quanto nos municípios do Entorno. 

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O resultado, apontaram os médicos da UnB, é a ocupação de quase todos os leitos de Unidades de Terapias Intensivas (UTI) disponíveis. O texto avalia a situação como crítica que exige intervenção imediata e categórica para reduzir o risco de perda de mais vidas para a Covid-19.

"Assim surpreende-nos sobremaneira a afirmação do CRM-DF ao argumentar contra uma medida destinada a evitar a morte das pessoas infectadas pela doença, em prol de interesses de natureza econômica e alheios ao seu dever de zelar pelo bom exercício da profissão médica. A atitude do CRM-DF tristemente contribui para reduzir a adesão às medidas que certamente terão um preço em vidas ceifadas pela doença.?
Faculdade de Medicina da UnB

O SindMédico-DF também repudiou o posicionamento do CRM-DF. Em resposta ao Socialismo Criativo, afirmou que a posição da entidade representativa da categoria é no sentido de preservar a vida da população e também as condições de trabalho para os profissionais da saúde.

O sindicato analisou que todos os países do mundo enfrentam a mesma pandemia e as medidas de contenção estão claras. Não há mais o que se discutir em relação a isso.

"Medidas de contenção seriam desnecessárias caso a população cooperasse mantendo o distanciamento social e as medidas sanitárias cabíveis. Ao governo cabe preparar o sistema de saúde, informar a população e fornecer leitos e vacinas em uma velocidade compatível com a necessidade da população.?
SindMédico-DF

Depois da repercussão negativa da nota, o CRM-DF convocou uma coletiva de imprensa para esclarecer o posicionamento contrário às medidas do GDF para 15h desta terça-feira, 2 de março. Haverá transmissão ao vivo pelo canal da entidade no YouTube.

GDF avalia medidas restritivas

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, se reuniu nesta segunda-feira (1º) com secretários do governo e representantes de entidades ligadas ao setor produtivo para tratar de soluções no enfrentamento ao coronavírus.

O chefe do Executivo local afirmou que com a diminuição da taxa de transmissibilidade da doença será possível flexibilizar a abertura de atividades, como escolas e academias.

O DF enfrenta um aumento de casos da doença, o que provocou a adoção de medidas restritivas, como o fechamento de parte do comércio e demais atividades por um período de 15 dias.

A intenção do governo é não ultrapassar este prazo e até flexibilizá-lo para parte das atividades caso o índice de transmissão no DF sofra uma queda.

Parte da solução para a retomada segura e responsável das atividades econômicas foi anunciada pelo governador Ibaneis Rocha na reunião: a abertura de 130 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ainda nesta semana.

Ibaneis complementou que outros 200 leitos serão disponibilizados junto ao Ministério da Saúde nos próximos dias. O GDF também negocia a contratação junto à rede privada para a abertura de 150 a 200 leitos.

"A culpa não é de nenhum dos setores, mas se não interrompemos o fluxo de pessoas não conseguimos diminuir o índice de transmissibilidade da doença no DF. Quando retomarmos as condições de saúde e atendimento à população, com novos leitos de UTI, nós iremos retomar as atividades aos poucos. Não vou deixar a população morrer sem atendimento.?
Ibaneis Rocha, governador do DF