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#ElasQueLutam: duas pensadoras essenciais para o feminismo contemporâneo

por: Iara Vidal 


Escritora francesa Simone de Beauvoir foi uma das principais pensadoras do feminismo ? (Foto: Reprodução)

A série especial #ElasQueLutam, produzida pelo site Socialismo Criativo, presta homenagem ao feminismo e às personalidades femininas que contribuíram para a conquista do Dia Internacional das Mulheres, celebrado no dia 8 de março. Esta edição resgata a história de duas pensadoras essenciais para o feminismo contemporâneo: Simone de Beauvoir e Silva Federici.

Foto: Reprodução

Escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social. A quantidade de atividades desenvolvidas pela francesa Simone de Beauvoir rivalizam com a importância dela para o feminismo contemporâneo. 

Foi autora de romances, ensaios, biografias, autobiografia e monografias sobre filosofia, política e questões sociais. Um dos livros mais importante dela foi O Segundo Sexo, de 1949. Nesse tratado, Simone faz uma análise detalhada da opressão das mulheres em um texto fundamental para o feminismo contemporâneo.

Simone não escrevia sem a intenção de induzir as personagens a questionamentos filosóficos para que tornasse legítima a condição de sujeito livre. As narrativas dela são marcadas pela reflexão em torno da existência a partir da qual é necessário refletir sobre conceitos como liberdade, responsabilidade, angústia, a partir de situações do cotidiano.

Ainda adolescente, aos 15 anos de idade, já havia decidido que seria uma escritora. Depois de passar no vestibular em matemática e filosofia, estudou matemática no Instituto Católico de Paris e literatura e línguas no colégio Sainte-Marie de Neuilly, e em seguida, filosofia na Universidade de Paris (Sorbonne). 

Em Sorbonne, conheceu jovens intelectuais, entre eles Jean-Paul Sartre, com quem formou um casal a partir de 1929. Eles nunca se casaram nem tiveram filhos. A decisão de ambos deu tempo para investir na carreira acadêmica, lutar por causas políticas, viajar, escrever, ensinar e ter amantes.

Lecionou em várias instituições entre 1931 e 1943. Nos anos 1940, fazia parte de um círculo de filósofos existencialistas. 

Ela foi uma crítica do marxismo do seu tempo por considerar que, embora a esquerda masculina aceitasse as mulheres nas organizações, não estava interessada nas questões das mulheres e nem as aceitavam como dirigentes ou tomando iniciativas.

"Ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade?
Simone de Beauvoir, 1949

Essa frase de Simone define bem o significado da "masculinidade tóxica?, muito usada na atualidade para discutir um tipo de virilidade que oprime e restringe os direitos femininos. Para ela, a manutenção da ideia de submissão feminina que vai garantir aos homens ? inclusive aos inseguros ou aos que se veem como pouco viris ? a falsa sensação de superioridade.

Confira uma animação, em inglês, com dados biográfico de Beauvoir.

https://www.youtube.com/watch?v=Ws2Y2cWme8c&feature=emb_title&ab_channel=TED-Ed

A filósofa italiana Silvia Federici empresta sua voz à luta feminista há décadas. Nascida na Itália, mudou-se para os Estados Unidos em 1967 para estudar Filosofia na Universidade de Buffalo, em Nova Iorque. 

Em 1972, participou na fundação do Coletivo Feminista Internacional (International Feminist Collective), organização que lançou a campanha internacional Wages For Housework (WFH) a favor do salário para o trabalho doméstico. 

Para ela, trabalhos não remunerados e sem visibilidade como os executados por mulheres em seus lares foram imprescindíveis para o desenvolvimento e a prosperidade do capitalismo.  

A ativista é uma das principais pensadoras contemporâneas para desenvolver o conceito teórico da reprodução sexual como uma chave para estudar as relações de classe, de exploração e dominação em contextos locais e globais.

Durante os anos 1980, ministrou aulas na Universidade de Port Harcourt, na Nigéria. No país, acompanhou a organização feminista Women in Nigeria. Posteriormente, foi admitida como professora de filosofia política e estudos internacionais da Universidade Hofstra. 

Na Nigéria, Silvia presenciou a implementação de uma série de "ajustes estruturais? no território africano patrocinados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial. Essa experiência influenciou seu trabalho e a levou a desempenhar um importante papel nos protestos durante os anos 1990 contra esses ajustes neoliberais.

Em entrevista ao jornal El País, em março de 2019, ela afirmou que a luta feminista é essencialmente anticapitalista. Na visão dela, o capitalismo cria continuamente hierarquias, formas diferentes de escravização e desigualdades. 

Por isso, Silvia disse não acreditar que o sistema capitalista seja capaz de melhorar a vida nem de mulheres nem de homens. Ela define o feminismo como forma de melhorar a situação das mulheres e de criar um mundo sem desigualdade, sem a exploração do trabalho humano que, no caso das mulheres, se transforma numa dupla exploração.

"O feminismo não é uma escada para que a mulher melhore sua posição, que entre em Wall Street, não é um caminho para que encontre um lugar melhor dentro do capitalismo. Sou completamente contrária a esta ideia.?
Silvia Federici

Em outubro de 2019 a italiana esteve no Brasil para uma série de compromissos, entre eles o lançamento de dois livros dela em português: O Ponto Zero da Revolução, pela Editora Elefante, e Mulheres e Caça às Bruxas, da Editora Boitempo.

Silvia Federici atribui o aumento da violência contra as mulheres e a feminização da pobreza ao redor do mundo aos processos de acumulação do atual estágio do capitalismo. Confira um vídeo da editora Boitempo sobre a luta feminista anticapitalista.

https://www.youtube.com/watch?v=eEMvztzeqiw&feature=emb_title&ab_channel=TVBoitempo
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