Instituto Pensar - ?Negacionistas são responsáveis por segunda onda?, diz diretor do Butantan

?Negacionistas são responsáveis por segunda onda?, diz diretor do Butantan

por: Jaqueline Nunes 


Em entrevista à agência de notícias DW Brasil, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, falou sobre o trabalho desenvolvido pela entidade na produção e aquisição de vacinas. Ele também lamentou a postura de forças políticas poderosas que seguem negando a gravidade da doença e defendendo a não adoção de medidas de distanciamento social durante a pandemia.

Enquanto o resto do mundo assiste à queda de casos da Covid-19 e acompanha a terceira semana consecutiva de redução de mortes em consequência da doença, o Brasil vive seu pior momento desde o início da pandemia. Falta de leitos e materiais básicos em hospitais, além de uma campanha de vacinação lenta e tardia são alguns dos resultados da gestão duvidosa que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) tem realizado ao longo do último ano.

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Covas explicou que, mesmo antes dos primeiros casos de coronavírus no mundo, o instituto participa de organismos internacionais que desenvolvem políticas e tecnologias para enfrentamento de emergências sanitárias, como a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI, em inglês). Essa proximidade e a experiência do órgão no desenvolvimento de imunizantes permitiram que, logo no início da epidemia de coronavírus, já fossem feitos contatos com laboratórios internacionais para formalização de parcerias no desenvolvimento de vacinas.

Contrariando o posicionamento de Bolsonaro, que não aceitava a utilização da vacina chinesa, o instituto seguiu as tratativas e iniciou os estudos sobre a doença.

"Neste caminho, já tínhamos conhecimento prévio da Sinovac, [empresa] que visitamos em 2019 e da qual também recebemos uma visita para discutirmos cooperação em vacinas. Já existindo essa aproximação e considerando que a Sinovac já tinha uma vacina em desenvolvimento em cuja tecnologia [de vírus inativado] temos experiência, nada mais apropriado. A parceria foi firmada preliminarmente em maio e assinada em junho do ano passado?, explicou.

Aposta bem-sucedida

Nas duas primeiras etapas dos testes da vacina CoronaVac, realizados pelo laboratório biofarmacêutico ainda na China, foram obtidos resultados promissores que animaram o início da terceira fase de testagem no Brasil. Em 6 de julho de 2020, após liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Butantan iniciou os ensaios clínicos. Como resultado, a vacina apresentou o índice de 50,38% de eficácia contra contaminação da doença.

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"Riscos são inerentes a todo processo inovador e o cientista e gestor responsável deve avaliar corretamente e assumir estes riscos, principalmente quando se trata da vida de milhões de pessoas. Assumimos o risco e felizmente hoje temos uma excelente vacina que é a base do programa nacional de imunização nesse momento?, comentou o diretor.

Apoio à vacina é crescente

Apesar da imunização ser um avanço e uma prática tradicional no Brasil, Covas analisa que o fenômeno dos grupos antivacina ainda faz barulho e espalha notícias falsas relacionadas às vacinas disponíveis no Brasil. Tendo como garoto-propaganda o próprio presidente da República, foram muitas as manifestações preconceituosas em relação à origem chinesa da CoronaVac, sobre outras fórmulas e até em relação à campanha de vacinação em geral.

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"O movimento antivacina no Brasil era incipiente até muito recentemente. A postura de autoridades federais negando a sua utilidade e, inclusive, usando de uma campanha subterrânea de fake news e mentiras a respeito da vacina e da própria pandemia vieram a alimentar esse movimento?, destacou Covas.

Porém, segundo ele, o início da vacinação no país e a consciência da população em relação aos riscos do vírus aumentaram o apoio e a procura pela vacina.

"Ao contrário do que alguns esperavam, a vacina se tornou assunto nacional com grande apoio popular?, comentou.

Interferência política

Outro dado trazido pelo diretor do Butantan é que, atualmente, o Brasil é vice-campeão em mortes pela Covid-19 no mundo. Este fato, em grande parte, tem ligação com a postura adotada pelo presidente e seus apoiadores. Figuras de expressão política seguem negando o poder devastador do vírus e defendendo que as pessoas sigam suas vidas como se nada estivesse acontecendo. Em diversas aparições públicas, Bolsonaro, que se nega a utilizar máscara de proteção, não só defendeu, como provocou aglomerações.

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A insistência em defender o uso da cloroquina enquanto pré-tratamento da Covid, inclusive, por meio de um investimento milionário na produção do medicamento é outra constante das falas do presidente. Segundo Tadeu Covas, posturas como esta são responsáveis pela segunda e mais violenta onda da Covid.

"A negação da gravidade da pandemia, a disseminação de tratamentos sem comprovação científica, o combate deliberado ao uso de máscaras e às medidas de restrição de circulação são os grandes responsáveis, neste momento, pela segunda onda explosiva que o país está sofrendo?, lamentou.

O gestor completou dizendo que o "obscurantismo científico? destas figuras, que deveriam estar agindo para evitar mais mortes, é responsável pela catástrofe em que o país está afundado. Ele aposta em uma consequência futura grave e afirma que "a história colocará essa tragédia na conta desses negacionistas?.

Butantan segue cumprindo seu papel

Apesar da postura do atual governo, Covas lembrou que o relacionamento do instituto com o Ministério da Saúde sempre foi "excelente? e como principal fornecedor de vacinas e soros para o estado, o Butantan seguirá garantindo que a população tenha acesso aos imunizantes, inclusive os utilizados no combate ao coronavírus.

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"Sem o Butantan o Brasil não teria vacinado mais de 7 milhões de pessoas. O Butantan entregou mais de 12 milhões de doses até esse momento ao Ministério e continuará como o principal fornecedor por muito tempo ainda?, afirmou.

Com informações da Agência DW Brasil



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