Instituto Pensar -

#ElasQueLutam: conheça mulheres Revolucionárias do século 20

por: Iara Vidal

Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo (Mannheim, 1910) ? (Foto: Reprodução)

Ao longo da história, mulheres têm sido silenciadas pelas narrativas controladas pelos homens. Inclusive no registro sobre a participação feminina nas revoluções anticapitalistas, de resistência ao fascismo e ao nazismo deflagradas ao longo do século 20.

Na série especial #ElasQueLutam, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, celebrado no dia 8 de março, o Socialismo Criativo resgata a história de mulheres revolucionárias que ajudaram a garantir direitos conquistados nos dias atuais.

Mulheres e a criatividade

Uma das maiores contribuições femininas na luta por um mundo mais justo foi a criatividade. Sem o olhar das mulheres para os desafios impostos pelo sistema capitalista e patriarcal, pouco se teria avançado na conquista de direitos de trabalhadoras e trabalhadores mundo afora. Mulheres revolucionárias contribuíram de forma essencial na construção de um mundo mais justo e solidário. 

Leia tambémAtivista Stacey Abrams é indicada ao Prêmio Nobel da Paz

Na primeira matéria da série, resgatamos o papel de personalidades históricas que foram cruciais para o avanço da conquista de direitos da classe trabalhadora em resposta às atrocidades capitalistas, fascistas e nazistas ao longo do século passado: Nadezhda Krupskaya, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai e Clara Zetkin.

Muito mais do que esposa do líder revolucionário russo Vladimir Lênin (1870-1924), Nadezhda Krupskaya foi uma figura determinante no movimento que impulsionou a Revolução Russa de 1917. Feminista, pedagoga, dirigente bolchevique, criou o novo sistema educativo soviético e colocou em pé as bibliotecas do estado operário, se tornando a responsável por impulsionar o sistema bibliotecário soviético. Atuou como palestrante e escreveu extensamente sobre a importância das bibliotecas e da leitura na sociedade socialista.

Após o triunfo bolchevique, as mulheres soviéticas conquistaram a liberdade e a igualdade, o que culminou na consolidação do código sobre o casamento, a família e a infância, aprovado em outubro de 1918. Era o fim de séculos de poder patriarcal e o início da instauração de uma nova doutrina baseada nos direitos individuais e na igualdade de gênero.

A atividade feminista desenvolvida por Krupskaya foi intensa durante sua vida, e especialmente em dois momentos anteriores à emancipação da mulher soviética. Participou da redação do jornal Rabotnitsa e fez parte da delegação russa na III Conferência Internacional de Mulheres Socialistas.

Ainda adolescente, ela se interessou pela teoria da educação democrática do escritor russo Leo Nikolayevich Tolstói (1828-1910). O celebrado autor defendia que a ciência não deveria ser utilizada como uma arma de exploração pela elite, mas sim uma forma de democratizar-se. 

A partir da teoria da educação democrática, Nadezhda dedicou a vida a melhorar as oportunidades educacionais para trabalhadores e camponeses. Como Ministra Interina da Educação na União Soviética de 1929 até sua morte, em 1939, esteve imersa em projetos educacionais, como a luta para tornar as bibliotecas disponíveis para toda a população. 

"Sem um livro, sem uma biblioteca, sem o uso hábil dos livros, não pode haver uma revolução cultural para o leitor.?
Nadezhda Krupskaya

Aos 25 anos, em 1895, Nadezhda ingressou em um grupo de estudo comunista clandestino e deu início à jornada revolucionária. Nesse período, envolveu-se com uma organização de trabalhadores de uma fábrica de construção, deu aulas noturnas de alfabetização a operários e escreveu o primeiro texto feminista significativo sobre a situação das mulheres na Rússia.

O texto feminista de vanguarda foi publicado no primeiro panfleto de Nadezhda, "The Woman Worker? (versão em inglês). Escrito em 1899 sob o pseudônimo de "Sablina?, o artigo foi publicado dois anos depois na imprensa clandestina russa. Mas devido à repressão durante a Revolução de 1905, o escrito feminista foi banido. Nadezhda também atuou como secretária do jornal político Iskra, onde gerenciava toda a correspondência que atravessava o continente europeu, muitas codificadas.

Nascida na Polônia russa, em uma família judaica, a filósofa, jornalista e economista Rosa Luxemburgo é considerada a dirigente marxista mais importante da história. Foi uma defensora intransigente da democracia como valor universal e suas ideias servem de inspiração para o socialismo democrático defendido pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Ex-militante do Partido Socialdemocrata da Alemanha (SPD), Rosa Luemburgo foi a líder mais significativa da Liga Espartaquista e fundadora do Partido Comunista da Alemanha.

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.?
Rosa Luxemburgo

Pacifista e antimilitarista, Rosa foi vítima de um assassinato político antes de completar 50 anos. Morta por soldados prussianos, há evidências de que o crime tenha contado com a cumplicidade ativa ou passiva de antigos companheiros socialdemocratas. 

A morte de Rosa não apagou seu legado e sua obra permanece até a atualidade como umas das mais necessárias para compreender o marxismo e as lutas de emancipação do povo trabalhador.

Ainda jovem, migrou para a Alemanha, que foi seu principal campo de ação. Casou-se por conveniência com um socialista alemão e obteve a cidadania daquele país. Ela acreditava que morar no local onde havia o SPD, o partido socialista mais forte do mundo, com mais de um milhão de filiados, ampliaria a luta por seu ideário marxista.

No seio da socialdemocracia e da Segunda Internacional, uniu teoria ? com a publicação de dezenas de artigos e livros muito importantes; e prática ? com intervenção em congressos, debates com muitos dos líderes do marxismo e aulas na escola de formação do partido. 

O seu legado teórico, chamado de "luxemburguismo?, consiste em uma escola marxista com características próprias, baseada no pacifismo, na luta contra o revisionismo e na defesa da democracia no seio da revolução. Rosa defendia também o internacionalismo como  forma de pensar e de viver.

Alexandra Mikhaylovna Kollontai foi uma das líderes da Revolução Russa de 1917 e a primeira mulher eleita para o Conselho Operário, o Soviete, de Petrogrado (atual São Petersburgo), segunda maior cidade da Rússia. 

Ocupou o cargo de Comissária do Povo de Assuntos Sociais e da Mulher no primeiro governo soviético presidido por Lênin, em 1917. Sob a sua liderança, a nova legislação estabeleceu para as mulheres soviéticas o direito ao voto, a ser candidatas, ao divórcio e ao aborto livre e gratuito, o acesso universal à educação gratuita, a salários iguais aos dos homens e a auxílios para aliviar os encargos familiares. 

Para garantir a emancipação das mulheres trabalhadoras, Alexandra organizou, em 1918, o primeiro Congresso das Mulheres Trabalhadores da Rússia, do qual surgiu a necessidade de fundar um departamento feminino de caráter governamental, o Jenotdel, fundado em 1919. 

O Jenotdel trabalhou para melhorar as condições de vida das mulheres russas. O órgão combateu o analfabetismo e educou as mulheres sobre novos direitos no casamento, educação, cuidados e trabalho. Nesse período, graças à capacidade teórica de Alexandra, foi estabelecido um debate no qual o centro de discussão não era tanto os direitos sociais e políticos, mas a emancipação sexual das mulheres.

Filha de uma família da nobreza latifundiária, Kollontai estudou regularmente, concluiu o bacharelato aos 16 anos e prosseguiu os estudos de maneira autodidata. Estreou a vida política revolucionária dentro da própria casa, ao questionar a situação confortável que a família com recursos a proporcionava. 

Em 1896, deu início aos estudos de economia e aproximou-se do marxismo e de trabalhadores do setor têxtil da cidade natal. Ao longo da vida, apoiou movimentos operários, como a greve do setor têxtil de Petrogrado, numa luta em que participaram 36 mil operários.

Dentre as contribuições teóricas de Kollontai, está a de argumentar em prol de direitos e liberdades específicas para as mulheres.

Ela também abordou o papel do capitalismo no estabelecimento da prostituição em "A prostituição e as maneiras de combatê-la", uma intervenção da comunista durante a Terceira Conferência de toda Rússia de Líderes dos Departamentos Regionais das Mulheres, em 1921.

"Somente as novas tempestades revolucionárias foram fortes o suficiente para varrer preconceitos grosseiros contra a mulher e somente o povo trabalhador é capaz de efetuar a completa equalização e liberação da mulher, construindo uma nova sociedade."
Alexandra Mikhaylovna Kollontai

Nascida na Alemanha, Clara Zetkin dedicou a vida à causa comunista e à luta feminina revolucionária. Teve o primeiro contato com ideias da revolução ao ingressar na universidade para se tornar professora. Aos 24 anos, ingressou no Partido Socialista dos Trabalhadores, que mais tarde seria renomeado para SPD.

Clara defendia a importância das mulheres no movimento revolucionário. Ela contribuiu para o avanço do debate e compreensão sobre a questão feminina por meio de textos nos quais expôs ideias avançadas para aquela época. Seu pensamento serve de norte para compreensão sobre a emancipação da mulher até os dias de hoje.

Clara também fundamentou suas ideias a partir da premissa de que apenas o modo de produção capitalista foi capaz de jogar luz sobre o problema das mulheres. Com a revolução industrial, a produção doméstica foi lentamente entrando em decadência e milhões de mulheres foram obrigadas a encontrar o sustento e o sentido de vida fora do lar. A partir desse momento, dizia Clara, a consciência da mulher para a sua situação sofreu um salto qualitativo.

"A mulher proletária luta lado a lado com o homem de sua classe contra a sociedade capitalista.?
Clara Zetkin

Atuou na clandestinidade em razão da lei antissocialista outorgada pelo então chanceler da Alemanha, Otto von Bismarck. A legislação proibia qualquer tipo de imprensa e organização de cunho revolucionário. A perseguição do Estado alemão forçou Clara e o companheiro, Ossip Zetkin, a deixarem o país e se refugiarem em Paris. Ela regressaria à Alemanha apenas dez anos depois.

De volta ao país de origem, em 1915, Clara organizou a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas contra a guerra e em luta contra o revisionismo de Karl Johann Kautsky (1854-1938) durante a Segunda Internacional. Um ano depois, desfiliou-se do SPD.

Em 1919 foi fundado o Partido Comunista da Alemanha. Clara e outras companheiras e companheiros de luta, como Rosa Luxemburgo, filiou-se ao novo partido. Ela foi membro do Comitê Central do Partido Comunista até 1929. Também participou do Comitê Executivo da Internacional Comunista de 1921 até 1933. Ela morreu no exílio na União Soviética, para onde fugiu em decorrência da ascensão do nazismo.




0 Comentário:


Nome: Em:
Mensagem: