Brasil e Oscar: sucateamento na Ancine prejudica desempenho do cinema nacional
por: Iara Vidal
O sucateamento da Agência Nacional de Cinema (Ancine) vem impactando o desempenho do cinema brasileiro em premiações importantes. Mesmo com uma produção cinematográfica extensa e o reconhecimento no cenário internacional por diversas obras, o Brasil parece não conseguir alcançar o prêmio máximo do cinema: o Oscar, entregue anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
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As pré-indicações para a edição de 2021 do Oscar foram divulgadas e os brasileiros que estavam cotados para participar da competição ficaram mais uma vez ficaram de fora. Para a categoria "Melhor Filme Internacional? (antiga "Melhor Filme Estrangeiro?), a indicação do Brasil para o comitê que selecionou os finalistas deste ano foi Babenco: Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, documentário sobre a vida e obra do diretor Hector Babenco, dirigido por Bárbara Paz.
A derrota deste ano não é uma situação inédita. O Brasil nunca trouxe um Oscar para casa ? alguns brasileiros já foram individualmente contemplados pelo prêmio, mas em produções atribuídas a outros países.
Especialistas do setor do audiovisual avaliam que a principal barreira para o cinema nacional alcançar a premiação de Hollywood é a falta de investimento. Além de recursos para a produção dos filmes, falta também apoio para distribuir as obras e promovê-las no exterior.
"A disputa pelo Oscar exige um projeto bastante complexo de marketing e lançamento, envolvendo profissionais extremamente especializados e grandes investimentos, o que dificilmente um filme brasileiro dispõe?.
Flávio Souza Brito, professor do curso de Cinema da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap)
O Oscar e a trajetória do Brasil desde o fim da 2ª Guerra
A história do Brasil com o Oscar começou em 1945, com a composição Rio de Janeiro, de Ary Barroso. Indicada como melhor canção original pelo musical Brazil, a produção estadunidense foi dirigida por Joseph Santley e estrelada por Tito Guizar e Virgina Bruce. O prêmio acabou indo para Going My Way, do filme O Bom Pastor.
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O Brasil demoraria mais 15 anos para voltar à premiação. O retorno foi em grande grande estilo. Orfeu Negro, filme baseado na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, levou para casa o troféu de melhor filme estrangeiro em 1960, tornando-se a primeira produção em língua portuguesa a conquistar o título. Mas a vitória não valeu como brasileira, pois o longa concorreu como representante da França, já que foi coproduzido pelos dois países e pela Itália.
O primeiro representante brasileiro a disputar o Oscar na categoria ? hoje chamada de filme internacional ? seria O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, em 1963. O filme, que já havia ganhado a Palma de Ouro do Festival de Cannes, perdeu para o francês Sempre aos Domingos, de Serge Bourguignon.
Décadas depois, nos anos 1990, o Brasil emplacou mais três indicados à categoria: O Quatrilho, de Fábio Barreto (1996), O Que É Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto (1998), e Central do Brasil, de Walter Salles (1999). Os três saíram derrotados ? os dois primeiros, por produções holandesas, e o último, pelo italiano A Vida É Bela.
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O país conseguiu até sair da caixinha reservada aos filmes internacionais e extrapolar para as categorias principais do Oscar. Em 1986, O Beijo da Mulher-Aranha, coprodução Brasil/EUA dirigida por Hector Babenco, aborda um diálogo entre dois homens que estão presos no período da ditadura militar. O longa foi indicado nas categorias de filme, roteiro e direção e conseguiu o prêmio de melhor ator para William Hurt.
A produção de Fernando Meirelles Cidade de Deus (2002) não foi indicada a melhor filme estrangeiro do Oscar 2003. Mas depois de fazer sucesso nos cinemas dos Estados Unidos e da Europa foi reconhecida pela premiação no ano seguinte. O longa concorreu em quatro categorias: diretor (Fernando Meirelles), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani e Paulo Lins), edição (Daniel Rezende) e fotografia (César Charlone), mas não levou nada.
Em 2016, a animação O Menino e o Mundo (2013), de Alê Abreu, foi indicada na categoria de "Melhor Animação?. Na categoria "Melhor Documentário?, o Brasil foi indicado com O Sal da Terra, em 2015, e Democracia em Vertigem em 2020, sem levar nenhuma estatueta.
Com informações da CNN Brasil e UOL
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