Instituto Pensar - México e Argentina selam um novo eixo progressista para a América Latina

México e Argentina selam um novo eixo progressista para a América Latina

O presidente argentino, Alberto Fernández, e seu homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador, esta terça-feira na Cidade do México. Em vídeo, suas declarações na coletiva de imprensa conjunta ? (Foto: Luis Cortés ? Reuters)

Os presidentes do México e da Argentina lançaram as bases para um propósito comum que visa consolidar um novo eixo progressista ou antineoliberal na América Latina. A visita oficial que Alberto Fernández iniciou, na última segunda-feira (22), ao país estabeleceu um significado, que vai além da conjuntura ? agora determinada pelo combate à pandemia do coronavírus e pela gestão das doses de vacinas ?, com o propósito de fortalecer uma aliança geopolítica na região.

Os dois dirigentes apareceram em coletiva de imprensa conjunta em que mostraram uma profunda sintonia marcada por um objetivo: realizar uma ruptura com o passado recente e o legado dos últimos governos.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, venceu as eleições há dois anos e meio com um projeto que prometia se concentrar nos assuntos nacionais: ?A melhor política externa é a política interna?. Esta sempre foi uma das máximas do político veterano. Desde que assumiu o poder, Obrador, no entanto, tem evitado falar abertamente ou interferir nas questões de maior preocupação na América Latina. Nas últimas semanas, porém, a estratégia de seu governo mudou, ao menos aparentemente, e buscou conquistar novas lideranças na região, uma iniciativa que a Argentina está decidida a apoiar, sem dúvida.

"Que o México e a Argentina estejam unidos é um dever que temos. Que tenham um futuro comum e que isso ajude a América Latina é uma obrigação que temos, desde o país mais setentrional até o mais meridional, devemos saber traçar um eixo que une todo o continente?, disse Fernández na visita ao país.

Protagonismo do México após exigência de vacinas

O México, de alguma forma, alçou uma nova posição como representante dos países prejudicados pela distribuição internacional de vacinas contra a Covid-19. O chanceler Marcelo Ebrard lembrou disso durante os anúncios diários do presidente.

"Na semana passada, levantamos isso no Conselho de Segurança da ONU por indicação do presidente López Obrador. É sobre o quão inaceitável é o armazenamento de vacinas. Dez países já concentram quase 80% das vacinas mundiais e o pior é que isto está se acelerando?, lamentou o chanceler. O México, com uma população de cerca de 130 milhões, administrou apenas 1,7 milhão de doses.

Fernández apoiou o protesto que exigiu uma distribuição mais justa dos imunizantes. Mas esse é apenas um passo concreto em uma agenda compartilhada, que também tem um grande alcance simbólico. O presidente lembrou a proteção concedida pelo México aos exilados da ditadura e a recepção que o governo de López Obrador deu a Evo Morales em novembro de 2019, quando o político argentino já havia vencido as eleições, mas ainda não era presidente em exercício. A afinidade de projetos políticos talvez seja a principal premissa para fortalecer essa aliança.

?Harmonia entre líderes?

Fernández também foi o primeiro presidente a participar de uma das lives matinais promovidas pelo presidente mexicano. É mais um exemplo desse alinhamento, que é político e até pessoal. Nas palavras de Martín Borrego Llorente, diretor da Subsecretaria para a América Latina do ministério da Relações Exteriores do México, existe uma "química natural? entre os dois líderes.

"Há uma harmonia de posições entre eles e isso gerou um diálogo fluido?, afirmou. As coincidências ideológicas entre as lideranças foram traduzidas em elogios nesta terça-feira. "Afinal o México tem um presidente com valores morais como os mexicanos merecem?, disse o argentino. "Alberto é nosso amigo?, respondeu seu homólogo mexicano.

Em última análise, o objetivo de López Obrador e Fernández é promover um retorno ao equilíbrio recente, quando o mapa geopolítico da América Latina era predominantemente "vermelho?, embora tivesse uma ampla gama de tonalidades. Da Argentina, de Cristina Fernández; à Bolívia, de Evo Morales; ao Brasil, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a esquerda governou quase toda a América do Sul.

No Chile, há uma década, Michelle Bachelet havia acabado de terminar seu primeiro mandato, que voltou depois, entre 2014 e 2018. Rafael Correa estava em ascensão no Equador. Na Venezuela, Hugo Chávez ainda estava no poder e, apesar das críticas a sua gestão, a deriva social, institucional e econômica de Nicolás Maduro ainda não havia se acelerado.

O fim do eixo bolivariano

O Registro acontece, ainda, após o colapso do chamado eixo bolivariano, que nos últimos meses registrou a volta ao poder do herdeiro da esquerda de Morales, na Bolívia, e quando estão programadas para abril, eleições no Equador e no Peru.

No primeiro país, um candidato do ex-presidente Correa venceu o primeiro turno por ampla margem, no dia 7 de fevereiro. Ao mesmo tempo, multiplicam-se as atividades de organizações políticas progressistas como o Grupo Puebla, fundado na cidade mexicana em 2019. Nesse contexto, México e Argentina, de norte a sul, lideram as aspirações de mudança no região.

Isso era o mais importante: a mensagem predominante além das expectativas que pairaram sobre a visita. O presidente argentino iniciou a viagem, a primeira ao México feita por um presidente em exercício em uma década, com objetivos essencialmente comerciais, pontuada pelo escândalo das vacinas administradas irregularmente a 70 pessoas influentes, conhecida como vacinação VIP.

O caso, que abriu uma profunda crise política no país sul-americano e custou o cargo ao ministro da Saúde argentino, permeia a visita quando o foco é colocado justamente no manejo das vacinas contra a Covid-19. Fernández, porém, pediu para tratar do assunto sem politizar e foi à Justiça com uma reclamação: "Vamos acabar com a palhaçada?.

O político desdenhou as dezenas de denúncias feitas para esclarecer as responsabilidades do caso, descobertas na última sexta-feira (19).

"Não existe nenhum tipo de criminoso na Argentina que diga que quem vacinar quem furou a fila será punido. Não se constrói crimes com elegância ?, enfatizou o presidente.

Visita após renúncia de ministro da saúde argentino

Fernández afirmou ter feito o que era necessário para virar a página. O escândalo da vacina levou à renúncia de um dos ministros mais fortes do governo. O chefe da Saúde, Ginés González García, foi obrigado a renunciar depois da imprensa divulgar que alguns privilegiados, com bons contatos no poder, haviam sido imunizados na sede do ministério. Na lista dos vacinados, que o Executivo argentino anunciou na segunda-feira, figuram nomes como o ex-presidente Eduardo Duhalde e seus filhos, e o ex-candidato presidencial kirchnerista Daniel Scioli.

Uma das denúncias levou a Justiça a acusar González García de abuso de autoridade e a vasculhar a sede do Ministério da Saúde em busca de provas na mesma segunda-feira (22). "Reagi e perdi um ministro?, lembra Fernández. "Se houver mais responsáveis, terão que sair, mas não vou me encarregar do escárnio público que estão promovendo sem medida na Argentina?, continuou.

López Obrador evitou comentar. "Respeitamos muito o Governo da Argentina e não vamos comentar sobre o assunto neste momento?, afirmou. Em vez disso, o presidente mexicano aproveitou as perguntas feitas pelos jornalistas para destacar as mudanças, a ruptura com o passado, os últimos governos de Felipe Calderón e Enrique Peña Nieto ? uma das prioridades de seu mandato ? e a acusação contra a imprensa.

"Às vezes a imprensa não age de forma objetiva. E nesses casos, como disse Alberto [Fernández], pensei que não fosse outra coisa no México, a imprensa conservadora, aqueles que apoiaram os governos neoliberais, que saquearam, creio que no caso do México não há dúvida. No caso da Argentina, não posso dizer mais do que sei, que eles endividaram a Argentina ?, disse a respeito da relação do país com o Fundo Monetário Internacional. "Eu sei que os organismos financeiros internacionais, que supostamente atuam de forma imparcial e não participam da política, isso é mentira?.

Com informações do El País México




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