Instituto Pensar - ?Indignados?, diz chefe da Anvisa após líder do governo ameaçar enquadrar agência

?Indignados?, diz chefe da Anvisa após líder do governo ameaçar enquadrar agência

por: Igor Tarcízio


O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres (Imagem: Leopoldo Silva/Agência Senado)

O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, reagiu nesta quinta-feira (4) às declarações do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, que acusou o órgão de estar "nem aí? para a pandemia da Covid-19 e ameaçou enquadrá-lo. 

Leia também: Bolsonaro ignorou R$ 37 mi em emendas para combater Covid-19

"Que enquadramento é esse que o deputado se refere? Ele está no dever de formalizar uma denúncia no canal competente ou se retratar. Acho que para ele não tem mais outra saída: Ou ele denuncia ou se retrata?, disse Barra Torres ao Estadão.

Desserviço à Anvisa

A briga entre a Anvisa e o líder do governo, que integra o Centrão, ocorre no momento em que Planalto e Congresso pressionam a agência para liberar novas vacinas. Para não depender principalmente da Coronavac, imunizante associado ao governador paulista, João Doria (PSDB), o Ministério da Saúde avança na compra da Sputnik V e da Covaxin, desenvolvidas, respectivamente, na Rússia e na Índia.

A Anvisa, porém, ainda aguarda mais dados sobre a segurança e a eficácia destes produtos.

Barra Torres afirmou que jamais recebeu pressão do presidente Jair Bolsonaro ou de emissários do Palácio do Planalto para aprovar qualquer vacina. Para ele, a frase de Barros "destoa? e é um "desserviço aos esforços nacionais de combate à pandemia". "As pessoas estão com dificuldade de entender em quem confiar. Fica uma guerra de versões. Agora vem o líder do governo dizendo que vai enquadrar a agência reguladora?.

Barros: "Este mal já está feito?

O presidente da Anvisa disse que nem sequer o deputado Ricardo Barros tem poderes para "enquadrar? o órgão. Segundo Barra Torres, a declaração deixou técnicos do órgão "indignados?.

"Dizer que os servidores da agência estão ?nem aí? para a pandemia? Tivemos colegas nossos que morreram. São pessoas que estão trabalhando para salvar vidas. Hoje, infelizmente, profundamente entristecidos pelo que foi feito pelo líder do governo. Este mal já está feito?, declarou.

O líder do governo também apresentou projeto para excluir a exigência de a Anvisa só liberar o uso emergencial para vacinas que realizaram estudos de fase 3 no Brasil. "O que eu apresentar para enquadrar a Anvisa passa aqui (na Câmara) feito um rojão?, avisou Barros na quarta-feira (3) ao Estadão.

"Eu vou tomar providências, vou agir contra a falta de percepção da Anvisa sobre o momento de emergência que nós vivemos. O problema não está na Saúde, está na Anvisa. Nós vamos enquadrar?, completou o líder do governo.

Flexibilização

A agência já flexibilizou esta regra na quarta-feira (3) e passou a afirmar que "preferencialmente? estes estudos devem ser feitos no país. Segundo Barra Torres, a decisão foi técnica e não teve relação com a pressão do deputado. O chefe da Anvisa reconheceu que há uma ofensiva do Congresso para reduzir exigências na liberação das vacinas, além de permitir a importação excepcional de imunizantes aprovados na Rússia e na Índia, por exemplo.

"Seja aprovada a lei que for, a Anvisa vai se esforçar para lidar com o cumprimento. Agora, não há lei, poder, que possa pegar a mão do nosso técnico e forçar a assinar determinado laudo?, declarou ele.

Barra Torres disse que não pode acusar o líder de governo de agir sob interesses de laboratórios, como a União Química, que deve distribuir a Sputnik V no Brasil. "Não tenho de tecer comentário sobre algo que eu não tenho comprovação. A gente, aqui, trabalha em ambiente científico. Se pode ter sido influência de a, b, ou c, não sei.?

O presidente da Anvisa disse que não irá procurar Bolsonaro para tratar do assunto. Se for preciso, afirma que receberá Barros com "a mesma cordialidade de sempre?. "Hoje foi um ponto fora da curva. Realmente não sei o que acontece. Me causa muita tristeza isso?, disse.

Com informações do Estadão



0 Comentário:


Nome: Em:
Mensagem: