O cachorro comprou o dono
por: Domingos Leonelli
Começou o novo governo Bolsonaro. Saem, ou passam a um segundo plano da cena, os militares e civis atabalhoados e os raivosos "cães de guerra? dos costumes. Assumem o protagonismo os antigos colegas parlamentares de Bolsonaro, o reis do "toma-la-dá-cá?, os especialistas em fisiologia, os comerciantes da politica. Os legítimos descendentes políticos de Maluf; de ACM, o avô; de Sarney; Ademar de Barros; Moisés Lupion.
Inteiramente à vontade na sessão de abertura do Poder Legislativo, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu até dar uma resposta civilizada às vaias e gritos de "genocida? da Oposição no plenário da Câmara dos Deputados. "Nos vemos em 22", disse o veterano ex-parlamentar do baixo clero, em lugar do "puta que o pariu?, dirigido há pouco dias à imprensa. E leu sorridente seu discurso de autopromoção.
Sem dúvida um novo e calmo presidente, ladeado por aliados recém eleitos para as presidências da Câmara e do Senado, numa das maiores ingerências do Poder Executivo no Legislativo, por meio de escancarada corrupção que segundo os cálculos beiraram R$ 5 bilhões. Uma operação tão bem-sucedida de compra e venda de parlamentares, que os brasileiros deviam se perguntar porque tanta competência não foi utilizada para diminuir o sofrimento das famílias dos 226 mil mortos pela pandemia do coronavírus.
Um dos principais personagens principais deste novo cenário nacional, o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), já havia anunciado um dia antes no seu discurso de vitória em que Bolsonaro não foi citado, duas metas de grande repercussão popular: vacinação em massa e auxílio emergencial.
Era a voz do Centrão. Profissional, fria, calculista. Profissional no pior sentido dessa palavra na política. Cada "reforma? neoliberal, ou venda do patrimônio nacional, terá que ser trocada por uma medida paliativa que proteja o patrimônio eleitoral dos deputados e senadores do Centrão.
Deixa lá Bolsonaro, com seu estilo hidrófobo estrebuchar seu anticomunismo imbecil para alimentar o ódio de seu eleitorado racista, machista, misógino e anticultural, que eles (do Centrão) vão cuidar do que interessa: os negócios do Governo nos ministérios e estatais que gerem grana, favores e facilidades.
Um casamento perfeito do ódio meio cego com a malandragem de ótima visão.
Uma união bem ajustada do entreguismo e do neoliberalismo com o populismo.
A única coisa que pode atrapalhar esta união "homodienta? são os devaneios ditatoriais do idiota na Presidência. Mas mesmo isso se dá um jeito. Se não atrapalharem os negócios, faz-se como alguns "pastores? neopentecostais que convivem com as milícias. Ou como alguns governantes democráticos, que convivem com policias matadoras.
Bolsonaro não comprou o apoio do Centrão. Foi o Centrão que comprou Bolsonaro. Como se um cachorro comprasse o próprio dono.
*Domingos Leonelli é ex-deputado federal, atualmente presidente do Instituto Pensar e coordenador do portal Socialismo Criativo
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