Guedes tenta resistir, enquanto pressão por renovação de auxílio cresce
por: Nathalia Bignon
O ministro da Economia, Paulo Guedes, segue resistindo à extensão do auxílio emergencial, pago aos trabalhadores mais afetados pela pandemia do coronavírus, apesar da crescente pressão pela prorrogação do benefício no Congresso.
De acordo com o ministério da Cidadania, a última parcela do auxílio emergencial, paga em dezembro, beneficiou 56,4 milhões de pessoas. No último mês de pagamento previsto pelo Planalto, o total de beneficiários foi menor do que em novembro, quando atingiu 57,9 milhões.
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A redução foi provocada por conta das reavaliações mensais realizadas pelo governo para garantir o cumprimento dos critérios estabelecidos pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que desde sua prorrogação endureceu as regras para o pagamento. Em seu auge, ainda com o valor de R$ 600, o auxílio chegou a ser pago a 68 milhões de pessoas.
Enquanto representantes do Executivo se esquivam da possibilidade de prorrogar o pagamento ? o Brasil mantém níveis alarmantes de crescimento da doença e de mortes ? parlamentares vêm se articulando para dar andamento à pauta no Congresso Nacional.
Argumentos da Economia
Nesta sexta, em fala enviada ao jornal Valor, a pasta argumentou sobre a paralisação da distribuição dos benefícios. "É importante lembrar que a segurança da operação foi uma premissa desde o início da operacionalização do pagamento do benefício? Dessa forma, ao todo, 15 grandes bancos de dados foram utilizados para aferir a elegibilidade de cada requerimento do benefício?, explicou a pasta.
O ministério ainda buscou argumentar sobre a exclusão de parte dos beneficiários da lista. "Com a edição da Medida Provisória 1.000/2020 os critérios de elegibilidade também ficaram mais rígidos. A MP excluiu, por exemplo, dependentes de pessoas que tenham declarado Imposto de Renda ou quem conseguiu emprego formal depois de ter recebido o Auxílio. Também foram instituídas reavaliações mensais sobre critérios relativos à existência de vínculo formal, ao recebimento de benefícios previdenciários ou assistenciais e ao óbito do beneficiário?, acrescentou.
Enquanto isso, pressão por auxílio aumenta
Na Câmara, no entanto, há contestações. O deputado Bira do Pindaré (PSB-MA), por exemplo, chamou de "acinte? a ideia do governo de suspender os pagamentos no momento de agravamento da crise.
"Todos nós sabemos que o governo de Bolsonaro não queria o auxílio emergencial, do mesmo jeito que não queria a vacina. Um governo sem sensibilidade, sem empatia, sem compromisso com os interesses da população, sobretudo daqueles que mais precisam. Por essa razão é que contestamos completamente esse posicionamento do ministério da Economia e do senhor Paulo Guedes, em dizer que não há necessidade de dizer que não há necessidade de auxílio emergencial. Isso é simplesmente um acinte em relação à população brasileira, que sofre tanto nesse momento em razão da pandemia?, disse o parlamentar em entrevista ao Socialismo Criativo.
"Retorno em meio à pandemia e desemprego?
A partir de janeiro deste ano, o auxílio foi encerrado, exceto para algumas pessoas que estavam contestando o fato de não terem sido contempladas no ano passado. O governo tem sido crescentemente pressionado a voltar a conceder esse benefício. A área econômica, porém, resiste à ideia, por entender que não faz sentido, com a volta das pessoas às suas atividades, pagar esse benefício cujo objetivo original era garantir a subsistência em meio às medidas de quarentena e isolamento.
No entanto, diante do colapso sanitário verificado em Manaus, com falta de infraestrutura de atendimento e de equipamentos, como oxigênio, a renovação do auxílio não foi completamente descartada, apesar dos apelos e argumentos da ala econômica, sobre os riscos de crescimento da inflação.
Pedido de secretários estaduais
Engrossando a pressão pela manutenção do auxílio emergencial, secretários de Fazenda de 18 Estados enviaram nesta sexta-feira (22) uma carta aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-RR), pedindo que o benefício seja mantido. Para tanto, pedem o retorno do estado de calamidade por seis meses, com com suspensão da regra do teto de gastos e da regra de ouro.
"A continuidade de tal medida é essencial para não colocar milhares de famílias em situação de fome e desamparo social, manter o nível do consumo, evitando a paralisia da atividade econômica e, consequentemente, a arrecadação dos tributos, principalmente do ICMS, principal imposto estadual?, argumentaram, em ofício.
Íntegra
Confira abaixo a íntegra da carta enviada pelos secretários de Fazenda ao Congresso:
Carta ao Poder Legislativo dos secretários de Estado da Fazenda sobre medidas urgentes para enfrentamento da segunda onda do Covid-19
22 de janeiro de 2020
Os secretários de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação dos estados e do Distrito Federal do Brasil, em face da atual crise que motivou a decretação de pandemia do Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde, em 11 de março de 2020, manifestam às egrégias Casas do Congresso Nacional sua preocupação com a urgência de se garantir a manutenção de medidas que possibilitem aos entes federados fazerem frente a este estado de calamidade, com iniciativas voltadas para mitigar a gravidade dessa crise.
A pandemia de COVID-19 fez cerca de 2 milhões de vítimas pelo mundo ao longo do ano de 2020, um momento sem precedentes na história. No Brasil, até a presente data, perdemos mais de 210 mil vidas para a doença. Além das vítimas fatais e dos impactos causados tanto na saúde pública quanto na saúde física e mental dos infectados e de seus círculos de relacionamentos, milhões de brasileiros estão sofrendo com os outros efeitos socioeconômicos da pandemia como o desemprego e a recessão. O distanciamento social é a principal forma de reduzir a taxa de contágio da doença e salvar vidas, segundo os principais expoentes da área de infectologia, microbiologia, medicina preventiva e cuidados sanitários. Ao longo desses meses, a população de praticamente o mundo todo readaptou suas relações sociais e a sociedade como um todo precisou desenvolver novas formas de interação.
Como consequência da pandemia e da nova dinâmica social por ela trazida, a atividade econômica foi significativamente impactada, de modo que uma grave crise econômica assola o mundo todo. Países como EUA, Alemanha, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul implementaram pacotes econômicos expressivos, com programas e ações em apoio a empresas, cidadãos e entes subnacionais durante esse período de exceção, além das medidas específicas para os setores de saúde. Acompanhando o movimento global e a urgência de ações econômicas, sociais e de saúde pública que a pandemia requer, o Brasil também adotou medidas significativas em apoio a sociedade como um todo.
Em nosso país, vimos o aumento explosivo do desemprego e da pobreza, de modo que o auxílio renda emergencial foi essencial para garantir que milhões de brasileiros não passassem fome e tivessem condições básicas de sobrevivência. A transferência direta de renda às famílias mais pobres, com maior propensão a consumir, impulsionou o comércio, possibilitando uma gradual retomada da atividade econômica e mitigando os impactos na arrecadação de impostos. Em paralelo ao auxílio direto à população, mostrou-se necessário também o apoio às empresas, principalmente às pequenas e médias, via linhas de crédito para financiar capital de giro com juros baixos, e auxílio para o pagamento de salários. As medidas para a manutenção da atividade empresarial e a garantia do emprego à população, evidencia que o apoio às empresas é estratégico para a recuperação presente e futura da economia e para evitar um colapso social.
O Sistema de Saúde precisou receber uma robusta quantidade de recursos, até agora cerca de R$ 40 bilhões, que permitiram ampliar leitos, construir hospitais de campanha, contratar profissionais de saúde de forma emergencial, desenvolver pesquisas, etc. Tais medidas precisam de continuidade para permanecer salvando vidas, principalmente em um momento em que o número de infectados pela COVID-19 voltou a crescer exponencialmente e vários Estados e inúmeros Municípios estão com ocupação máxima de leitos. De acordo com especialistas, e como a realidade de algumas cidades da Região Norte do país infelizmente nos mostra, o cenário que se desenha para as próximas semanas é de colapso do sistema de saúde, podendo superar as semanas mais críticas de julho.
Neste aspecto, o auxílio federativo foi essencial para que Estados e Municípios dessem continuidade aos serviços públicos, mantivessem o pagamento dos servidores e continuassem atendendo toda a população. Além do vultoso esforço na área da saúde, prioritária deste momento, os demais serviços públicos necessitaram passar por readaptações e não podiam ser paralisados. Todos os auxílios realizados ao longo do ano de 2020 foram primordiais para preservar vidas, garantir renda e emprego aos brasileiros e evitar o colapso dos serviços públicos estaduais e municipais. Não há dúvidas que o esforço foi grande, mas foi fundamental para atender a sociedade brasileira nesse triste período.
Lamentavelmente, ao contrário do que esperávamos, a pandemia ainda não chegou ao fim. Ainda não está definido o calendário nacional de vacinação do país e os dados de evolução de mortes e da taxa de contágio estão em níveis alarmantes e, com a volta da lotação de leitos hospitalares e dos recordes de casos, esse início de ano está sendo similar às piores semanas de julho, agosto e setembro, segundo os especialistas têm ressaltado e conforme é possível acompanhar pelas diversas mídias. Entidades de crédito internacionais recomendam ao país, um dos mais prejudicados do mundo pela pandemia, a prorrogação de auxílios e estímulos à economia.
O protagonismo dos Estados e Municípios nessa conjuntura, é fato, depende de sustentabilidade fiscal para promover as ações que os governadores se articulam para realizar em sintonia com as postulações consensuais da comunidade científica. Dessa Egrégia Casa do Congresso Nacional, esperamos cooperação para continuar respondendo aos impactos econômicos, sociais e sanitários da atual crise, sublinhando dois aspectos preliminares, que dependem de iniciativa legislativa conjunta, sem prejuízo da edição de outras medidas necessárias ao atendimento das necessidades fiscais dos Estados e Municípios ? no caso de agravamento da crise, os quais se seguem:
1ª Prorrogação do Estado de Calamidade Pública por 6 meses e, consequentemente, a continuidade da EC 106, permitindo a suspensão temporária de bloqueios fiscais como o "teto de gastos? e da "regra de ouro?. Os auxílios realizados ao longo do ano de 2020 mostraram-se fundamentais para preservar a vida, o emprego e a renda, garantiram a continuidade dos serviços públicos e aumento de oferta em áreas prioritárias, principalmente saúde e assistência social.
2ª Prorrogação do Auxílio Renda Emergencial, que garantiu renda à população mais necessitada e foi fundamental para, além de garantir o sustento básico das famílias, impulsionar o consumo e a atividade econômica. A continuidade de tal medida é essencial para não colocar milhares de famílias em situação de fome e desamparo social, manter o nível do consumo, evitando a paralisia da atividade econômica e, consequentemente, a arrecadação dos tributos, principalmente do ICMS, principal imposto estadual
3ª Suspensão do pagamento de precatórios e possibilidade de manutenção das suspensões dos pagamentos de amortização e juros de dívidas com União, bancos públicos e instituições financeiras internacionais e multilaterais, assim como das operações de crédito com aval da União, por 12 (doze) meses, a contar a partir de 01/01/2021, postergando por igual período os prazos de respectivas amortizações e pagamentos suspensos, para os estados que manifestem esse interesse.
Com informações do Valor
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