Flávio tenta aproximar Bolsonaro de juiz evangélico

Em campanha para ser indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), o juiz federal William Douglas dos Santos tem contado com a ajuda de pesos pesados para se aproximar de Jair Bolsonaro (sem partido).

Além de ter o apoio de líderes evangélicos, o filho mais velho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), tem buscado impulsionar o nome do pastor do Rio junto ao pai e a auxiliares de confiança do presidente.

Segundo a Folha, a informação de que o juiz recebeu a chancela de Flávio, que está na mira de investigações por suspeita de abrigar em seu gabinete como deputado estadual um esquema de "rachadinha", foi confirmada por três pessoas próximas ao presidente e por três aliados do magistrado.

Vaga no Supremo

Uma vaga do Supremo ficará desocupada em novembro com a aposentadoria de Celso de Mello, que completará 75 anos. Bolsonaro indicará o substituto, que terá de ser aprovado pelo Senado.

A situação jurídica de Flávio passará pelo STF, que decidirá sobre a concessão de foro especial ao senador. Caso o benefício seja confirmado, poderá ganhar força a tese de anulação das provas colhidas quando a investigação estava sob responsabilidade do juiz de primeira instância Flávio Itabaiana.

Douglas teria auxiliado Flávio a se aproximar de líderes evangélicos no Rio durante a campanha de 2018.

Articulação

Desde o início do ano, o magistrado tem se deslocado a Brasília com frequência. Durante um período, viajou à capital federal quinzenalmente, segundo aliados. Em ao menos uma ocasião, no meio do ano, teve um encontro com Flávio no gabinete do senador.

Neste mês, segundo fontes ligadas tanto ao juiz quanto ao presidente, Douglas esteve com o próprio Bolsonaro. O encontro teria ocorrido após Flávio ter indicado o nome do juiz e após uma ofensiva de evangélicos em defesa do magistrado.

Negação

Procurado, o magistrado negou ter havido a reunião com Bolsonaro e diz que as fontes ouvidas pela Folha estão equivocadas. "Nunca promovi encontros políticos e não ocorreu o mencionado encontro com o presidente?, afirmou.

O Planalto não quis comentar, e Flávio não respondeu sobre sua relação com o juiz.

Em nota enviada após a publicação deste texto no site da Folha, Douglas disse lamentar "que a própria apuração dos repórteres seja ignorada em favor de meros boatos que visam a ridicularizar o fato de um juiz federal ser, ao mesmo tempo, um cristão atuante?.

"Não existe campanha para vaga no STF. Se sou lembrado por colegas é graças ao trabalho que conduzo há quase 30 anos como magistrado, diversas vezes premiado por produtividade, além do reconhecimento como autor de mais de 50 livros?, disse. "Espero que em assuntos do Judiciário eu seja tratado como juiz e não como pastor. O Estado é laico.?

Com informações da Folha de S. Paulo