Instituto Pensar - Especialistas reforçam derrubada de portaria sobre aborto legal

Especialistas reforçam derrubada de portaria sobre aborto legal

por: José Jance Marques 


Rio de Janeiro RJ 08 08 2018 Marcha pela legalização do aborto na América Latina, no Rio de Janeiro Ativistas vão às ruas do centro do Rio de Janeiro em marcha pela legalização do aborto na América Latina.foto Fernando Frazão /Agencia brasil

Participantes de um webinário na última sexta-feira (18) reforçaram a necessidade de derrubada da portaria 2.282/20 do Ministério da Saúde. As especialistas usaram termos como tortura, desrespeito a direitos sexuais e reprodutivos e tutela sobre corpos que têm útero para se referir à portaria que restringe o aborto legal.

O debate foi promovido pela Frente Parlamentar com Participação Popular Feminista e Antirracista.

Portaria monstruosa

O texto publicado pelo Ministério da Saúde determina que, na fase de exames, a equipe médica informe a vítima de violência sexual sobre a possibilidade de visualização do feto ou embrião por meio de ultrassonografia. Caso a pessoa gestante deseje ver o feto, deverá proferir expressamente sua concordância, de forma documentada.

A portaria também obriga os profissionais de saúde a preservar possíveis evidências materiais do crime de estupro, como fragmentos de embrião ou feto. As evidências deverão ser entregues imediatamente à autoridade policial, para possíveis confrontos de DNA que possam levar à identificação do autor do crime.

Além disso, a portaria reforça a obrigatoriedade de notificação à autoridade policial de indícios de violência sexual sofrida pela vítima, prevista na lei 13.931/19.

Constitucionalidade questionada

Para a coordenadora do Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher, Sandra Lia Bazzo Barwinski, o Ministério da Saúde extrapolou seu poder regulamentar com a portaria, que tem sua constitucionalidade questionada. Ela também defende que a norma reflete uma sociedade machista.

"Impõe medida discriminatória, partindo de concepções sexistas e estereotipadas que consideram a mulher um ser subordinado e sem capacidade de autodeterminação, mentirosa. Tem por resultado a discriminação das mulheres, ainda que não tenha sido editada com essa intenção ou mesmo que tivesse por objetivo proteger os direitos das mulheres. Produz resultados que desprezam ou anulam o efetivo exercício dos direitos humanos das mulheres?, acredita.

Interferência da religião

Para a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ), coordenadora da frente parlamentar, a portaria está ligada a um momento de fragilização da democracia.

"É importante inserir essa portaria numa conjuntura grave que a gente está vivendo no Brasil. O avanço do fundamentalismo ? e não estou falando da religião, não estou falando do cristianismo, não estou falando dos evangélicos, estou falando do fundamentalismo religioso, que fere o estado laico ? é parte de uma cada vez maior fragilização da democracia brasileira e não dá pra tirar essa portaria desse contexto.?

Simony dos Anjos, do Coletivo Evangélicas pela Igualdade de Gênero, também relaciona a mudança nas normas a um avanço de uma moralidade de cunho religioso.

"Eu colocaria que o compulsório reforça a ideia de incompletude da mulher, de tutela. E tanto a tutela quanto a incompletude, ambos têm lastro cristão importante. Moralidade cristã que influencia as leis e o Estado brasileiro, desde quando Pero Vaz de Caminha disse, em sua carta, que tinha que salvar os indígenas.?

Um consenso entre os participantes do webinário foi de que a portaria do Ministério da Saúde é inegociável: é preciso derrubá-la. Nesse sentido, os participantes defenderam que a Câmara aprove propostas (PDL 381/20 e outros) que sustam os efeitos da portaria.

Com informações da Agência Câmara de Notícias



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