Instituto Pensar - Raça e gênero são questões centrais para analisar desigualdade, diz Silvio Almeida

Raça e gênero são questões centrais para analisar desigualdade, diz Silvio Almeida

por: Igor Tarcízio 


O advogado e professor na FGV-SP e na Mackenzie, Silvio Almeida (Imagem: Reprodução)

De acordo com Silvio Almeida, professor na FGV-SP e na Mackenzie, é impossível fazer um diagnóstico político e econômico da desigualdade sem levar em conta como raça e gênero estruturam a sociedade, combinadas a questões de classe.

Em live na última sexta-feira (11), o advogado afirmou também que políticas de diversidade nas empresas ainda são "embrionárias? no Brasil e que poucas já entenderam a importância dessas ações para os negócios.

"Não se concebe fazer análise sobre como a sociedade produz a desigualdade sem levar em consideração raça e gênero?, disse Almeida. Para ele, esses não são elementos que só "dão um toque a mais? às análises. "O que estou falando é mais radical: sem essas variantes, condicionantes, sem pensar como raça e gênero estruturam a vida social, é impossível fazer um diagnóstico sobre a desigualdade, do ponto de vista político ou econômico.?

Racismo aprofundado pelas desigualdades estruturais

Para Almeida, "o racismo é aprofundado pelas desigualdades estruturais do sistema econômico?. Na sua avaliação, as reformas tributárias em debate no Brasil, por exemplo, não mexem na regressividade do sistema. "A manutenção de um sistema tributário pretensamente neutro aprofunda as desigualdades e também o racismo.?

O esforço de Almeida, autor de um livro sobre racismo estrutural, é tirar o debate de um âmbito apenas comportamental e individual e entender o racismo como componente do funcionamento da política, da economia, do direito e do processo de formação da subjetividade, na cultura ou na educação

Ele dá como exemplo a própria pandemia ? pesquisas indicam que a covid-19 tem matado mais negros. "Não há comprovação de que o vírus tenha preferência racial, mas as doenças se tornam muito mais mortais para pessoas que vivem em precariedade.?

Importante decisão

Nesse sentido estrutural, Almeida disse que foi importante a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que determinou a distribuição proporcional de recursos do fundo eleitoral e do tempo de propaganda entre candidatos negros e brancos de cada partido. 

"Vem colocar as coisas nos trilhos, mas é apenas o ponto de partida, não o de chegada?, afirma Silvio. 

Na semana passada, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), antecipou as regras, que valeriam a partir de 2022, para as eleições municipais deste ano. Concordando com Lewandowski, Almeida disse entender que ideia de anterioridade só seria aplicada caso se tratasse de algo específico do processo eleitoral.

Políticas de diversidade

Passando para o âmbito empresarial, o professor avaliou que políticas de diversidade no Brasil parecem mais presentes em companhias globais. De acordo com Almeida, que ministra aula sobre "compliance antidiscriminatório? na FGV, a diversidade é central na governança corporativa, porque demonstra que a empresa tem mecanismos para absorver e gerir conflitos e lidar com vários públicos. 

"Isso não é feito de uma hora para outra, tem que se converter em tecnologias, para que a empresa, interna e externamente, possa lidar com as intempéries de um mundo organizado pelo racismo?, declara.

Isso pode ser fundamental para a expansão dos negócios, disse Almeida. Pelo seu raciocínio, se é sabido que a boa governança gera valor de mercado e a diversidade é um dos pilares da governança, o incentivo à diversidade se refletiria em aumento da produtividade e do valor da companhia. "Pouquíssimas empresas no Brasil entenderam a importância da diversidade.?

Aliviar responsabilidades

O professor alerta ainda que conceitos como "racismo estrutural? e "lugar de fala? têm sido usados para aliviar responsabilidades. "Não são conceitos criados para eximir pessoas brancas da sua responsabilidade na luta antirracista?, disse ele, acrescentando que isso é ? irresponsabilidade?. Segundo ele, o "lugar de fala? é algo relacional. 

"Se alguém tem lugar de fala, é porque também há lugar de escuta. A ideia é estabelecer formas de diálogo. Quem anuncia o ?lugar de fala? está dizendo que, até agora, algumas vozes não foram ouvidas?, diz Silvio. "Se você acha que não tem lugar de fala, é simples: dialogue com quem tem e estude.?

Com informações do Valor Econômico



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