A cada cinco vítimas de feminicídio em SP, duas viviam com marido
por: José Jance Marques
São Paulo voltou a registrar aumento nos casos de feminicídio durante os sete primeiros meses de 2020. O R7 fez um levantamento apontando que, das 101 mulheres mortas por condição do gênero feminino neste ano, 58 tiveram o estado civil informado no boletim de ocorrência. Destas, 70,6% (41) viviam com um companheiro ? 18 eram casadas e outras 23 viviam união estável.
Os registros apontam ainda que 13 mulheres viviam algum relacionamento amoroso e quatro eram divorciadas. Em 42 boletins de ocorrência não consta o estado civil da vítima ou a identificam apenas como solteira.
De acordo com explicação da delegada Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, presidente do Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo, o fato de indicar o estado civil da vítima de feminicídio no boletim de ocorrência pode indicar que o companheiro da vítima seja o possível autor. No entanto, pondera, é preciso analisar as circunstâncias. Por determinações legais, o Governo de São Paulo não divulga informações sobre suspeitos no Portal da Transparência.
Para a advogada Sueli Amoedo, diretora do projeto Justiça de Saia, embora seja comum a reprodução de falas de que o homem sofre com o casamento, "ao analisar a realidade das famílias brasileiras vemos claramente que quem deve temer o matrimônio são só mulheres?.
A advogada avalia que atualmente as mulheres se encontram em uma posição social superior à vivida por mulheres no passado. Porém, diz Sueli, "em relação aos homens, [a mulher] segue tendo de lidar com uma desigualdade que remunera menos e fere, agride, abusa e mata mais?.
O levantamento também constatou que 40 mulheres mortas por serem mulheres no Estado de São Paulo tinham até 29 anos. Outra grande parcela das vítimas (27) tinha entre 30 e 38 anos ? nenhuma vítima tinha 39 anos. Outras 29 mulheres tinham mais de 40 anos, sendo que a mais velha é a aposentada Letícia Barbosa, morta em maio deste ano, no município de Agudos.
Vítimas de feminicídio
As mais novas, ainda adolescentes, eram Maria Eduarda de Lima, que estava em um relacionamento e foi morta em São Carlos; Ana Luísa Ferdinanda Cristina da Silva, que vivia uma união estável e foi assassinada em Sumaré e Yasmin de Souza Fajoli, morta no município de Novo Horizonte (ela não teve o estado civil informado). As três tinham 16 anos.
As cidades que mais tiveram feminicídios entre janeiro e julho deste ano foram São Paulo (18), Campinas (6) e Guarulhos (3). No total, em 59 municípios do Estado pelo menos uma mulher foi assassinada pelo fato de ser mulher.
Entre janeiro de julho deste ano, o número de feminicídios no Estado subiu 12% em relação às 90 vítimas nos sete primeiros meses do ano passado. No mesmo período, o Estado de São Paulo registrou queda nos registros de casos de violência doméstica (como agressões e maus-tratos).
"Isso é um indício que pode demonstrar que esses números que diminuíram são irreais, e pode indicar subnotificações, porque a mulher, por estar em vigilância constante pelo seu agressor no isolamento social, fica impedida de poder denunciar, e quando fala em feminicídios não tem como mascarar?, afirma delegada Raquel. "As mulheres, algumas vezes, não estão nem conseguindo denunciar e já estão sendo mortas?, diz.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, ao se manifestar sobre a alta no número de feminicídios, informou que "tem intensificado e investido nas ações de combate à violência contra a mulher e trabalhado para aumentar o número de notificações desses crimes?.
Com informações do R7
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