Há 47 anos, golpe militar derrubava Allende no Chile
por: Igor Tarcízio
Em 11 de setembro de 1973, militares chilenos, liderados por Augusto Pinochet, derrubaram governo do socialista Salvador Allende, dando início a uma brutal ditadura militar. E como um lembrete da violência de um governo ditatorial e do não respeito a democracia, mas principalmente pelo legado interrompido deste brilhante socialista, o Socialismo Criativo relembra o doloroso passado do golpe militar que ocorreu no Chile.
História
No final da manhã de 11 de setembro de 1973, o locutor da emissora sindical Rádio Corporación anunciou.
"Aviões da Força Aérea chilena atacaram o prédio da Rádio Corporación. Isso significa que é preciso contar com lutas em todas as fábricas. Isso significa que todos os sindicatos devem entrar em contato com os cinturões industriais e esses, por sua vez, com a central sindical única CUT, a fim de preparar-se para o que necessariamente virá. O importante nesse momento, camaradas, é que o povo esteja unido, venha o que vier! Cada fábrica, cada latifúndio, cada bairro pobre deve transformar-se numa fortaleza popular. Mas temos de manter a tranquilidade, pois somente assim poderemos estar preparados para o que vier. Apesar de tudo isso, temos de manter a cabeça fria e o coração quente.?
Todo o cinturão industrial de Santiago havia sido cercado pelos militares, apoiados por armas pesadas. O próprio presidente Salvador Allende recusara terminantemente as reivindicações da extrema esquerda de armar os operários. Ele, o primeiro marxista a ser eleito democraticamente como chefe de Estado e de governo de um país ocidental, acreditou profundamente e durante muito tempo na força da preservação dos valores e tradições democráticos.
Tomada do poder
Contudo, Pinochet tornara-se o líder do golpe militar de 11 de setembro, que surpreendeu a opinião pública mundial não apenas pela sua brutalidade. O Chile sempre fora tido como um exemplo de situação democrática estável, à qual também os militares se submetiam. Mesmo Allende acreditara até o final na lealdade dos seus oficiais.
Poucas semanas antes do golpe militar, Allende descrevera o Chile marcado pelo seu governo com grande orgulho.
"Um país no qual a vida pública está organizada por instituições civis, as quais se apoiam em Forças Armadas com um elevado grau de formação profissional e permeadas de profundo espírito democrático; um país de quase dez milhões de habitantes que produziu dois portadores do prêmio Nobel de Literatura dentro de uma única geração, Gabriela Mistral e Pablo Neruda, ambos filhos de simples trabalhadores?.
Memória Allende
A ditadura chilena tentou eliminar a doutrina socialista e a imagem de Allende da memória do país, mas a história mostra que não conseguiu, avalia o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.
"O exemplo de Salvador Allende, seus ideais, sua coragem e sua lealdade às causas populares, à democracia, ao socialismo, estão vivos em cada militante que hoje vai às ruas protestar por justiça social, dignidade e respeito aos direitos humanos, afirma Siqueira.
"Quem foi libertado de quê??
Poucos dias após os acontecimentos de 11 de setembro, o escritor alemão Heinrich Böll, que recebeu o prêmio Nobel de Literatura de 1972, perguntava.
"Quem foi libertado do que através desse golpe? Os esclarecimentos forçados, já quase sem pudor, de uma parte da imprensa mundial, que justifica o golpe no Chile como uma espécie de ilegalidade preventiva necessária, as suspeitas pessoais e políticas contra Salvador Allende, os prognósticos sombrios de uma iminente catástrofe econômica no Chile ? nada disso eliminará o fato de que a legalidade foi rompida no Chile, de que predominam o terror, a tortura, a xenofobia e de que a queima de livros foi declarada virtude. São os carrascos que cuidam da paz e da ordem lá?.
Realmente, os militares chilenos ? aparentemente tão democráticos ? atuavam como carrascos. O golpe de Pinochet foi festejado politicamente pelo governo estadunidense de Richard Nixon, do qual também obteve apoio logístico. O golpe militar de 11 de setembro de 1973 foi o sangrento ponto final da política externa dos EUA contra o socialista Allende, que fora combatido por Washington desde o início do seu governo.
Interferência
Poucos dias depois da posse de Allende, os Estados Unidos lançaram as suas reservas de cobre no mercado mundial, fazendo com que caísse rápida e drasticamente o preço do principal artigo chileno de exportação no mercado mundial. Dessa maneira, o financiamento das reformas sociais anunciadas por Allende tornou-se praticamente impossível.
Ele só pôde concretizar realmente uma única reforma: o pediatra Allende fez com que todas as crianças chilenas recebessem gratuitamente meio litro de leite, todos os dias, até completarem 8 anos.
A legislação chilena à época estabelecia seis anos de mandato para Allende, mas o socialista nem sequer completou a metade desse tempo. O projeto popular, democrático e socialista, eleito nas urnas, seria interrompido a tiros contra o Palácio La Moneda, na manhã de 11 de setembro de 1973.
Com informações do PSB e DW
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