Moda: estilistas indígenas resgatam ancestralidade e combatem apropriação cultural
por: Mônica Oliveira
Plurais e engajadas, as grifes indígenas vão além da herança de seus antepassados, dialogando com o streetwear (na tradução, "estilo de roupas casuais?) em coleções desenhadas num contexto urbano e de marcado viés ativista.
Segundo O Globo, a estilista We?e?ena Tikuna, 32 anos, ativista dos direitos indígenas, nascida na aldeia Tikuna Umariaçu, no Alto Rio Solimões, encontrou na moda a forma de aumentar sua voz na luta contra o preconceito.
We?e?ena, cujo nome significa "a onça que nada para o outro lado do rio?, contou ao jornal que se não fosse a pandemia, neste momento, ela estaria cuidando dos últimos preparativos para apresentar uma coleção nas passarelas da moda em Milão.
"Passei o primeiro trimestre de 2020 na minha aldeia, no Amazonas, colhendo tururi, fibra da madeira que usamos para confeccionar nossas vestimentas. Mas irei mostrar as peças na edição virtual do Brasil Eco Fashion Week, em novembro. E, depois que tudo isso passar, pretendo ir à Europa divulgar meu trabalho?, conta a estilista.
Reconhecendo o mundo "fashion? também como espaço de lutas sociais, a designer de moda diz vê ativismo no que faz. "O que faço é resistência. Estamos no país há séculos, antes mesmo dos brancos, mas fomos deixados para trás. Não nos dão oportunidades. Não somos protagonistas da nossa própria história. Sempre fomos calados, e até tratados como animais. E não vamos mais aceitar isso.?
"A ancestralidade é minha maior referência. Sonho com todas as roupas e acessórios. Acredito que seja coisa da minha espiritualidade?, conta We?e?ena. "Somos grandes artesãos. Temos uma habilidade manual fora do comum, além de consciência ambiental. Extraímos da terra o que necessitamos, mas não destruímos a natureza. O conceito de sustentabilidade faz parte da gente?, destaca a estilista, que desde 2007 é dona de marca homônima, com algodão cru e grafismos.
Descolonizando a moda
Descente do povo Fulni-ô, no sertão de Pernambuco, a estilista fluminense Dayana Molina, de 32 anos, afirma que é uma "artivista indígena descolonizando a moda?. "Num primeiro instante, as pessoas acham que a etiqueta traz todos os estereótipos pelos quais ficamos conhecidos. Mas nós também estamos na cidade, ocupando universidades e fazendo arte por aí. Essa é minha forma de militar?, explica a designer que em 2016 criou a grife Nalimo.
"Esse choque é importante para perceberem que não ficamos parados em 1500. Minha intenção é colocar meu povo no centro das discussões.?
Dayana critica a maneira como as grandes marcas como Osklen e Tufi Duek exploram os elementos indígenas. No passado, Dior e Victoria?s Secret foram acusadas de apropriação cultural.
"Isso é uma agressão, um desrespeito. Violam o direito de o outro existir. Um cocar que sagra na cabeça de um indígena, brilha num evento de lingerie. Pegam nossos elementos sagrados e esvaziam o significado. E, na maioria das vezes, todas as pessoas que fazem parte do processo são brancas?, confronta a estilista.
Outra desbravadora do mundo da moda, a estilista indígena Isabel Rott, fundadora da grife Isaro, não chegou a conviver com seu povo, os Kaingang, no Sul do Brasil. Foi criada por mãe e pai europeus entre São Paulo e Colônia, na Alemanha. "Meu trabalho é totalmente contemporâneo. Quero desmistificar e desconstruir preconceitos?, diz Isabel.
Com informações do O Globo
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