Discurso de Bolsonaro desperta reações: ?Cospe na cara da nossa democracia?
por: Nathalia Bignon
Autoridades e políticos lamentaram a incoerência do discurso presidencial transmitido na noite desta segunda-feira (7), em rede nacional. Três meses desde a última fala à nação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a fazer um pronunciamento, desta vez em homenagem aos 198 anos da independência do Brasil, mas os panelaços ouvidos em todo o país foram mais fortes que sua mensagem.
Para políticos da oposição, o presidente não desperdiçou a chance de novamente expor o viés autoritário de sua gestão ao recordar, indiretamente, o Golpe Militar de 1964.
Líder do PSB, o deputado federal Alessandro Molon (RJ) afirmou que o sentimento deixado pelo mandatário foi o da "vergonha?. "No pronunciamento de Bolsonaro, um festival de absurdos e mentiras: diz que tem compromisso com a democracia, mas homenageia a ditadura; simula nacionalismo, mas coloca o Brasil de joelhos diante de outros países; falseia nossa história e ameaça nosso futuro?, declarou.
Este, aliás, foi o sentimento compartilhado pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP). "Bolsonaro envergonha o país. Em pronunciamento, voltou a elogiar a ditadura militar, momento nefasto em que os militares se tornaram criminosos contra o povo, e disse que o brasileiro é ?temente a Deus?. O Brasil, democrático e laico, rechaça o arbítrio miliciano!?, disse.
Negacionismo de Bolsonaro
Pré-candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos foi mais um a rejeitar o conteúdo e as ideias do mandatário. "Bolsonaro não consegue fazer um pronunciamento na TV sem mentir compulsivamente. Diz defender a democracia, mas celebra o golpe de 1964. Diz amar a pátria, mas quer entregar a Amazônia pros americanos.?
Diante da falta de qualquer referência à pandemia que já vitimou 127 mil pessoas, o líder da minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), reforçou o caráter ditatorial do governo. "Defender a democracia não combina com exaltar o Golpe de 1964. O pronunciamento de Bolsonaro, em pleno dia da Independência, não foi só fascista. Ele também ignorou a pandemia e não fez referência à agenda de reformas do governo. É negacionista e pouco se importa com o povo.?
?Falta um líder de verdade?
Vice-líder do PT na Câmara, o deputado Odair Cunha (MG) considerou as referências feitas um desrespeito ao país. "Bolsonaro, mais uma vez, cospe na cara da nossa democracia. O presidente da República não tem respeito por tudo que nosso povo passou nos anos sofridos da Ditadura Militar. Esse tipo de comportamento, ainda mais em uma data comemorativa, é um absurdo!?, definiu.
Já o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que o discurso não teve surpresas. "Pronunciamento de Bolsonaro foi como de costume: só destilou ódio, rancor, desinformação e fake news. Nenhuma palavra de solidariedade para as vítimas do Covid-19 ou uma palavra de conforto e esperança por dias melhores. É triste não ter um líder de verdade na presidência.?
Bolsonaro usa corrupção como marca
Presidente Nacional do Cidadania, Roberto Freire disse que a corrupção se tornou a marca registrada da atual gestão. "Corrupção generalizada estamos vendo no governo Bolsonaro. Corrupção de valores, princípios, verdade, do Estado e instituições, para acabar com a Lava Jato, proteger Queiroz, Flávio e acobertar rachadinhas, milicianos. No pronunciamento, o golpismo de 20 saudou o golpismo de 1964?.
Já o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) destacou a subserviência bolsonarista. "Do discurso de Bolsonaro, não sei o que foi pior: o conteúdo ou a forma. Ajuntamento tosco de frases proferidas sem vibração e sem brilho. Bolsonaro demonstra mais emoção quando olha Trump ou quando bate continência à bandeira dos Estados Unidos.?
"E os R$ 89 mil??
Retomando o questionamento mais polêmico de 2020, o jornalista Leonardo Sakamoto cutucou: "Um presidente que ama a pátria, como Bolsonaro diz amar, teria contado ao Brasil, em seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV deste 7 de setembro, por que Michelle recebeu R$ 89 mil de Queiroz e esposa?.
Na internet, o público também não perdoou. "O panelaço durou mais tempo que o pronunciamento de Bolsonaro?, disse um.
Outro apontou suposto plágio de um discurso proferido por Roberto Marinho, em 1984. "Quer dizer que o discurso patético do governador Jair Bolsonaro (sim, ele se comporta como se o Brasil fosse um Estado dos EUA e ele, um Governador de Trump), no 7 de setembro, foi um plágio do Roberto Marinho? Aliás, o discurso do Lula pareceu bem mais discurso de presidente?, comparou.
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